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Venezuela decide continuidade da ‘revolução’ de Chávez

Caso vença, líder venezuelano ficará 20 anos no poder. Há incertezas, porém, se a oposição aceitará o resultado

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Por Claudia Jardim, de Caracas

“Socialismo bolivariano” ou a volta à centro-direita no tabuleiro político. Esses dois projetos de país estão em disputa neste domingo 7, quando os venezuelanos irão às urnas para definir o futuro da Venezuela e do presidente Hugo Chávez.

Chávez aparece como favorito para conquistar sua terceira eleição presidencial e receber o aval para permanecer 20 anos no poder. Se for reeleito, prometeu levar seu projeto de revolução a um caminho “irreversível”.

A contenda contra o rival Henrique Capriles é considerada como um dos principais desafios eleitorais já enfrentados pelo presidente venezuelano. O pleito também é visto como o melhor momento da oposição desde o fracassado golpe de Estado em 2002 contra Chávez.

Na campanha, Capriles prometeu dar continuidade aos programas sociais do governo – antes combatidos pelos adversários – e substituir a “revolução” por um projeto “progressista”. Amparado pela elite social e econômica do país, críticos apontam que sua proposta prevê o reestabelecimento do modelo neoliberal.

Há um ambiente de incerteza no ar em relação ao reconhecimento dos resultados do pleito. “Veremos amanhã (domingo). Há alguns setores da oposição querendo cantar fraude, esperemos que isso não ocorra”, disse Chávez. “Aqui falará a nação”, completou, na véspera da eleição, após receber na sede do governo em Caracas o chefe da missão de observação eleitoral da Unasul, Carlos Alvarez.

A coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD) – que sustenta a candidatura de Capriles – não declarou se reconhecerá um resultado adverso. Fontes diplomáticas consultadas por CartaCapital afirmam que um setor radicalizado da oposição está preparado para cantar fraude caso a diferença de votos entre o bolivariano e Capriles seja estreita.

Chávez declarou não importar qual seja a diferença entre ele e o rival, respeitará o resultado das urnas. “Preparemo-nos emocionalmente para aceitar o resultado (…) não vai acabar o mundo para ninguém, mas há quem entre em desespero.”

A oposição por sua vez, impulsionada pela imprensa local, alega que as pesquisas de intenção de voto com o presidente vitorioso não refletem a realidade e que haverá surpresas.

O pleito também é visto como um plebiscito. O clima é de “batalha final”. “Chávez é o dique que contém o descontentamento dessa sociedade. Sem ele, haverá e podemos caminhar a uma guerra civil”, afirmou o jornaleiro Pedro Contreras. A seu ver, se Chávez for reeleito, terá como tarefa “limpar” o governo para ser mais eficaz.

“Nos últimos dias o governo entregou casas às famílias que viviam em zona de risco. Porque deixaram para última hora?”, questionou. Entre 2011 e 2012, o governo venezuelano entregou mais de 200 mil casas, quase dez vezes mais do que foi construído ao longo dos 12 anos anteriores. O déficit habitacional é de cerca de 2 milhões de moradias. “Deveriam ter feito isso antes. Isso é uma das coisas que ele (Chávez) precisa arrumar. Os projetos não podem ir ficando no caminho, o povo se cansa”, afirmou Contreras, que se mostra confiante na vitória dos bolivarianos.

Sua clientela, no reduto opositor de Chacao, pensa o contrário. Num supermercado em frente à banca de jornais, os venezuelanos lotavam os carrinhos com alimentos enlatados e grãos.  São as chamadas compras-nervosas, habituais no país às vésperas de qualquer eleição. “Não sabemos o que pode acontecer. Se o Capriles vencer, que é o que espero, você acha que esses malandros vão entregar o poder?”, disse a aposentada Maria Gutierrez, enquanto aguardava na fila do caixa e debatia com outros clientes sobre o que acontecerá neste domingo 7. “Esperamos um futuro melhor, sem este homem.”

Na opinião de Oscar Schemel, do instituto de pesquisas Hinterlaces, problemas de gestão pública afetam a qualidade de vida da população da “porta de casa para fora”. “Hoje as pessoas têm melhores casas, novos eletrodomésticos, tarifas públicas reduzidas, se alimentam melhor, mas percebem que a qualidade de vida da porta para fora piorou.”

Na era Chávez, o governo se fortaleceu pela criação de programas sociais e expansão do gasto público, que representou mais de 60% do ingresso fiscal do país, de acordo com o Ministério de Finanças. No entanto, altos índices de violência, inflação e desemprego são apontados como as principais causas do desgaste que enfrenta o governo. Esses fatores podem minar os votos do chamado “chavismo light”, setor do eleitorado que tende a ter uma visão mais crítica e utilitária da oferta eleitoral.

Na reta final da campanha, Chávez fez um meaculpa. Se for reeleito, prometeu realizar um governo mais eficiente. Há muitas razões[ para descontentamento], muitas falhas, muitos problemas(…) prometo que seremos mais eficientes, serei melhor presidente (…) o que está em jogo é a vida da pátria”, disse.

Durante a campanha, Capriles apostou em percorrer o país “casa por casa” para mostrar vitalidade e contrastá-la com o estado de saúde do presidente, que teve de reduzir o ritmo de suas aparições públicas em consequência do câncer.

A doença, no entanto, teria ajudado a fortalecer a “aura messiânica” alimentada pelo líder venezuelano ainda antes de sua aparição. Na avaliação de Schemel, o chavismo se converteu em uma espécie de religião, razão pela qual, a pesar do desgaste do governo, o bolivariano continua popular. “Chávez não se comporta como um presidente e sim como um líder religioso. Ele estabeleceu laços emocionais muito poderosos com a população.”

Na véspera da eleição, no leste de Caracas, reduto opositor, ouvia-se um “cacerolazo” (panelaço) organizado via Twitrer para “despedir” o atual presidente. A iniciativa foi respondida com fogos de artifício e gritos de “Viva Chávez” no centro da capital.

Na Venezuela o voto é facultativo, mas cerca de 18 milhões de pessoas são esperadas nas urnas neste domingo. As mesas de votação serão fechadas às 18 h (19h30 em Brasília). A expectativa é que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) divulgue o resultado ainda hoje.

Por Claudia Jardim, de Caracas

“Socialismo bolivariano” ou a volta à centro-direita no tabuleiro político. Esses dois projetos de país estão em disputa neste domingo 7, quando os venezuelanos irão às urnas para definir o futuro da Venezuela e do presidente Hugo Chávez.

Chávez aparece como favorito para conquistar sua terceira eleição presidencial e receber o aval para permanecer 20 anos no poder. Se for reeleito, prometeu levar seu projeto de revolução a um caminho “irreversível”.

A contenda contra o rival Henrique Capriles é considerada como um dos principais desafios eleitorais já enfrentados pelo presidente venezuelano. O pleito também é visto como o melhor momento da oposição desde o fracassado golpe de Estado em 2002 contra Chávez.

Na campanha, Capriles prometeu dar continuidade aos programas sociais do governo – antes combatidos pelos adversários – e substituir a “revolução” por um projeto “progressista”. Amparado pela elite social e econômica do país, críticos apontam que sua proposta prevê o reestabelecimento do modelo neoliberal.

Há um ambiente de incerteza no ar em relação ao reconhecimento dos resultados do pleito. “Veremos amanhã (domingo). Há alguns setores da oposição querendo cantar fraude, esperemos que isso não ocorra”, disse Chávez. “Aqui falará a nação”, completou, na véspera da eleição, após receber na sede do governo em Caracas o chefe da missão de observação eleitoral da Unasul, Carlos Alvarez.

A coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD) – que sustenta a candidatura de Capriles – não declarou se reconhecerá um resultado adverso. Fontes diplomáticas consultadas por CartaCapital afirmam que um setor radicalizado da oposição está preparado para cantar fraude caso a diferença de votos entre o bolivariano e Capriles seja estreita.

Chávez declarou não importar qual seja a diferença entre ele e o rival, respeitará o resultado das urnas. “Preparemo-nos emocionalmente para aceitar o resultado (…) não vai acabar o mundo para ninguém, mas há quem entre em desespero.”

A oposição por sua vez, impulsionada pela imprensa local, alega que as pesquisas de intenção de voto com o presidente vitorioso não refletem a realidade e que haverá surpresas.

O pleito também é visto como um plebiscito. O clima é de “batalha final”. “Chávez é o dique que contém o descontentamento dessa sociedade. Sem ele, haverá e podemos caminhar a uma guerra civil”, afirmou o jornaleiro Pedro Contreras. A seu ver, se Chávez for reeleito, terá como tarefa “limpar” o governo para ser mais eficaz.

“Nos últimos dias o governo entregou casas às famílias que viviam em zona de risco. Porque deixaram para última hora?”, questionou. Entre 2011 e 2012, o governo venezuelano entregou mais de 200 mil casas, quase dez vezes mais do que foi construído ao longo dos 12 anos anteriores. O déficit habitacional é de cerca de 2 milhões de moradias. “Deveriam ter feito isso antes. Isso é uma das coisas que ele (Chávez) precisa arrumar. Os projetos não podem ir ficando no caminho, o povo se cansa”, afirmou Contreras, que se mostra confiante na vitória dos bolivarianos.

Sua clientela, no reduto opositor de Chacao, pensa o contrário. Num supermercado em frente à banca de jornais, os venezuelanos lotavam os carrinhos com alimentos enlatados e grãos.  São as chamadas compras-nervosas, habituais no país às vésperas de qualquer eleição. “Não sabemos o que pode acontecer. Se o Capriles vencer, que é o que espero, você acha que esses malandros vão entregar o poder?”, disse a aposentada Maria Gutierrez, enquanto aguardava na fila do caixa e debatia com outros clientes sobre o que acontecerá neste domingo 7. “Esperamos um futuro melhor, sem este homem.”

Na opinião de Oscar Schemel, do instituto de pesquisas Hinterlaces, problemas de gestão pública afetam a qualidade de vida da população da “porta de casa para fora”. “Hoje as pessoas têm melhores casas, novos eletrodomésticos, tarifas públicas reduzidas, se alimentam melhor, mas percebem que a qualidade de vida da porta para fora piorou.”

Na era Chávez, o governo se fortaleceu pela criação de programas sociais e expansão do gasto público, que representou mais de 60% do ingresso fiscal do país, de acordo com o Ministério de Finanças. No entanto, altos índices de violência, inflação e desemprego são apontados como as principais causas do desgaste que enfrenta o governo. Esses fatores podem minar os votos do chamado “chavismo light”, setor do eleitorado que tende a ter uma visão mais crítica e utilitária da oferta eleitoral.

Na reta final da campanha, Chávez fez um meaculpa. Se for reeleito, prometeu realizar um governo mais eficiente. Há muitas razões[ para descontentamento], muitas falhas, muitos problemas(…) prometo que seremos mais eficientes, serei melhor presidente (…) o que está em jogo é a vida da pátria”, disse.

Durante a campanha, Capriles apostou em percorrer o país “casa por casa” para mostrar vitalidade e contrastá-la com o estado de saúde do presidente, que teve de reduzir o ritmo de suas aparições públicas em consequência do câncer.

A doença, no entanto, teria ajudado a fortalecer a “aura messiânica” alimentada pelo líder venezuelano ainda antes de sua aparição. Na avaliação de Schemel, o chavismo se converteu em uma espécie de religião, razão pela qual, a pesar do desgaste do governo, o bolivariano continua popular. “Chávez não se comporta como um presidente e sim como um líder religioso. Ele estabeleceu laços emocionais muito poderosos com a população.”

Na véspera da eleição, no leste de Caracas, reduto opositor, ouvia-se um “cacerolazo” (panelaço) organizado via Twitrer para “despedir” o atual presidente. A iniciativa foi respondida com fogos de artifício e gritos de “Viva Chávez” no centro da capital.

Na Venezuela o voto é facultativo, mas cerca de 18 milhões de pessoas são esperadas nas urnas neste domingo. As mesas de votação serão fechadas às 18 h (19h30 em Brasília). A expectativa é que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) divulgue o resultado ainda hoje.

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