Mundo

Venezuela aprova criação de província em área reivindicada na Guiana

Ao todo, mais de 95% dos votos apoiaram a medida

Venezuela aprova criação de província em área reivindicada na Guiana
Venezuela aprova criação de província em área reivindicada na Guiana
Maduro discursa na Venezuela após divulgação do resultado do referendo sobre Essequibo. Foto: Pedro Rances Mattey / AFP
Apoie Siga-nos no

Mais de 95% dos eleitores que participaram em um referendo no domingo (3) na Venezuela sobre Essequibo, território que o país reivindica da vizinha Guiana, apoiaram a proposta de criar uma província nesta região rica em petróleo.

“Demos o primeiro passo de uma nova etapa histórica para lutar pelo que é nosso. O povo venezuelano falou alto e de maneira clara”, celebrou o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, que tentará a reeleição em 2024, diante de uma multidão na Praça Bolívar, no centro de Caracas: “Foi um dia maravilhoso (…) uma vitória esmagadora do ‘Sim'”.

O presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Elvis Amoroso, anunciou que 95,93% dos eleitores apoiaram a criação de uma província venezuelana chamada “Guiana Essequiba” e dar a nacionalidade do país a seus habitantes.

“É nosso”

A Venezuela argumenta que o rio Essequibo é a fronteira natural com a Guiana, como em 1777 quando era Capitania Geral do Império Espanhol. O país apela ao Acordo de Genebra, assinado em 1966 antes da independência da Guiana do Reino Unido, que estabeleceu as bases para uma solução negociada e anulou uma decisão de 1899, que definiu os limites atuais.

Georgetown, no entanto, defende o laudo de 1899 e pede que seja ratificado pela Corte Internacional de Justiça (CIJ), principal tribunal da ONU.

O ‘Sim’ também venceu com percentuais superiores  95% nas outras quatro perguntas do referendo, que contemplavam a rejeição ao laudo de Paris e da jurisdição da CIJ, o apoio ao Acordo de Genebra e a oposição ao uso pela Guiana das águas marítimas de Essequibo, onde o governo de Georgetown e o grupo americano ExxonMobil iniciaram a exploração de vastas reservas de petróleo descobertas em 2015.

O referendo sobre Essequibo, território de 160.000 quilômetros quadrados e com 125.000 habitantes, a princípio não teria consequências concretas a curto prazo: a Venezuela busca reforçar sua reivindicação e negou que a iniciativa seja uma desculpa para invadir e anexar a zona à força, como temem os guianenses.

“Essequibo é nosso, foi nosso durante toda a vida”, declarou à AFP Mariela Camero, de 68 anos, uma das primeiras a votar em uma área popular de Caracas.

Votos ou eleitores?

No primeiro boletim, Amoroso anunciou mais de 10,5 milhões de votos – de um eleitorado de 20,7 milhões – em meio a relatos baixo comparecimento aos locais de votação.

O número provocou polêmica, pois o CNE não divulgou os dados da abstenção. Líderes da oposição e alguns analistas interpretaram o anúncio como uma tentativa de disfarçar uma taxa de participação “pequena”.

“Segundo Elvis Amoroso, a participação de hoje (ele não se atreveu a afirmar) foi de 2.110.864 eleitores. Foram cinco votos por eleitor (…). Maduro transformou uma oportunidade de fazer algo bom para todos os venezuelanos em um fracasso estrondoso”, destacou o ex-candidato à presidência e líder opositor Henrique Capriles na rede social X.

“É muito difícil compreender resultados dessa maneira”, disse Luis Vicente León, diretor da empresa de pesquisas Datanalisis.

“Guerra” de bandeiras

O presidente da Guiana, Irfaan Ali, que denunciou o referendo como uma “ameaça”, disse que seus compatriotas não tinham “nada a temer”.

“Estamos trabalhando incansavelmente para garantir que nossas fronteiras permaneçam intactas e que a população e nosso país continuem seguros”, declarou em uma transmissão no Facebook.

O ministro venezuelano da Defesa, Vladimir Padrino, e outros funcionários de alto escalão do governo, como a vice-presidente Delcy Rodríguez, divulgaram um vídeo em que indígenas substituem uma bandeira da Guiana em um mastro por uma bandeira da Venezuela. Eles afirmaram que é a mesma bandeira hasteada em 24 de novembro por Ali na Serra de Pacaraima, na área reivindicada.

Procurado pela AFP, o comandante do Estado-Maior das Forças Armadas da Guiana, brigadeiro Omar Khan, afirmou que o vídeo seria “falso” e o chamou de “propaganda de guerra”.

“Bom senso”

A reivindicação da Venezuela se intensificou desde que a ExxonMobil descobriu, em 2015, petróleo em águas disputadas, o que deixa a Guiana com reservas de petróleo comparáveis às do Kuwait e com as maiores reservas per capita do mundo.

Milhares de guianenses formaram correntes humanas no domingo, chamadas “círculos de união”, para mostrar seu apego à região. Muitos vestiam camisetas com frases como “O Essequibo pertence à Guiana” e agitavam bandeiras do país.

“Não temos as armas, os tanques de guerra. Temos Deus e nos protegerá”, disse à AFP Dilip Singh, empresário que participou em uma das manifestações na província de Pomeroon-Supenaam, em Essequibo.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que reforçou as tropas brasileiras na fronteira, disse no domingo que espera que “o bom senso prevaleça” nesta disputa e que a região não precisa de confusão.

(Com informações de AFP)

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo