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“Vencemos a guerra”, diz Assange

Em entrevista à AFP, o fundador do Wikileaks fala do período na cadeia, das chances de ser extraditado para os EUA e de Bradley Manning

Julian Assange em foto de 2011
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LONDRES (AFP) – “Vencemos a guerra”, diz, orgulhoso, Julian Assange, o fundador do WikiLeaks, refugiado há um ano na modesta embaixada do Equador em Londres, sem esperança de sair em breve de sua ‘prisão’ diplomática. Em 19 de junho de 2013 completa-se exatamente 365 dias desde que o ex-hacker transformado em ciberativista da informação entrou na sede diplomática de tijolos vermelhos, situada a alguns passos da loja de departamentos de luxo Harrods para pedir asilo político.

“Representávamos uma pequena web radical, decidida a publicar a verdade sobre a guerra, sobre os serviços de inteligência e a corrupção em larga escala, atacando de frente o Pentágono, o departamento de Estado… Nossas chances de vencer? A priori, eram nulas. Mas vencemos”, insistiu em entrevista à AFP o australiano de 41 anos, que vê a si próprio como um Davi diante do poderoso Golias americano.

Inimigo de Washington por ter difundido centenas de milhares de documentos secretos diplomáticos e militares, Assange fala com um fio de voz sobre sua detenção em Londres, em 7 de dezembro de 2010.

“Passei 10 dias em uma cela de isolamento e 590 dias em prisão domiciliar”, diz. O tempo necessário para travar e perder uma batalha contra sua extradição à Suécia para responder a supostas acusações de agressão sexual, que nega. Após a maratona judicial, começou o imbróglio diplomático.

Um ‘bobby’ (policial) com ombros de lutador monta guarda no vestíbulo, junto à porta blindada que dá acesso ao andar térreo da embaixada. Outros policiais patrulham, dia e noite, sob o balcão onde o refugiado fez sua última aparição pública, antes do Natal.

Julian Assange está avisado. Se colocar um pé do lado de fora, será detido e extraditado para a Suécia.

O que ele mais teme é o que pode vir depois: uma extradição aos Estados Unidos e julgamento por traição. Porque, segundo ele, os Estados Unidos sob a presidência de Barack Obama (“um lobo em pele de cordeiro”, segundo ele) “querem se vingar”.

O militante fala da continuação de seu combate, sentado em uma poltrona vermelha e dourada. Pálido, com a barba por fazer, vestia paletó e gravada para a ocasião, mas estava de meias. Para que usar sapatos quando se vive recluso em alguns metros quadrados com parquê no assoalho? Assange sorriu, respondendo “aqui estou em casa” e depois explicou ser um costume adquirido nas praias australianas.

Atrás dele, a biblioteca contém volumes variados, entre elas uma antologia do poeta uruguaio Emilio Oribe e um tratado de geografia e geologia do Equador. Os três papagaios do colorido quadro pendurado na parede não são suficientes para alegrar a acanhada sala onde recebe, perto do cômodo mal ventilado, onde vive em uma espécie de “cápsula espacial”, equipada com uma lâmpada solar e uma esteira ergométrica.

Bradley Manning
Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, um simples soldado, Bradley Manning, ex-analista de inteligência no Iraque, de 25 anos, é julgado por estar na origem do “vazamento do século” do WikiLeaks.

“O que está em jogo é o futuro da liberdade de imprensa nos Estados Unidos e em todo o mundo”, assegurou Assange. O veredicto poderá mudar seu próprio futuro. Para ele, este “julgamento espetáculo” também é o seu, à revelia, por cumplicidade.

Assange comemora que outros “heróis” tenham entrado em cena. Como Edward Snowden, ex-agente da CIA que revelou “até que ponto os Estados Unidos se transformaram em um Estado de vigilância maciça insidioso”.

O refugiado também diz sentir-se reconfortado com o fato de que o WikiLeaks é “mais forte agora do que há dois anos”, porque continua com suas revelações e sobreviveu a um embargo bancário. E se beneficiaria de um apoio renovado nos Estados Unidos, no Reino Unido e em “todo o continente latino-americano”.

Muito articulado sobre sua luta, Assange é menos eloquente quando se trata de falar sobre seu estado de ânimo e seu isolamento. Cercado por um núcleo de apoiadores incondicionais, entre eles um guatemalteco que usa uma camiseta com as efígies de Martin Luther King, Mandela, Gandhi, Einstein e Assange.

Personalidades de todo tipo já passaram pela embaixada durante sua reclusão: a estilista Vivienne Westwood, a cantora Lady Gaga, o cineasta Oliver Stone e o juiz espanhol Baltasar Garzón. Mas Julian Assange criou inimizade com muitos partidários que o acusam de megalomania.

Neste domingo ele aguardava a visita do chanceler equatoriano, Ricardo Patiño. Salta à vista que não espera um avanço diplomático, um salvo-conduto milagroso.

O desenlace vai de encontro a “um problema de prestígio para os Estados Unidos, Reino Unido e Suécia”, afirma. “Onde estarei em um ano? Na Austrália, espero. Ou no Equador. Ou viajando pelo mundo”, afirma.

“As circunstâncias são difíceis, no aspecto físico. Mas trabalho todos os dias. Você pergunta como supero as dificuldades inerentes à reclusão? Minha mente não está reclusa”, concluiu.

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