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Vacinas, sementes e até no cérebro: o grafeno e sua onipresença conspiratória

Negacionistas da pandemia da Covid-19 e antivacinas recorrem ao grafeno para liberar sua imaginação e desenvolver teorias sobre seu uso

O grafeno é uma das obsessões de Bolsonaro, que prometeu diversas vezes transformar o Brasil no 'polo mundial' do composto. Foto: Anderson Riedel/PR
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Negacionistas da pandemia da Covid-19 e antivacinas recorrem ao grafeno para liberar sua imaginação e desenvolver teorias sobre seu uso em humanos. Segundo eles, esta substância é encontrada nos imunizantes contra o coronavírus, “modula” o comportamento e está presente até nas sementes de girassol.

A equipe de checagem de fatos da AFP analisou dezenas de publicações que continham desinformação em vários idiomas em torno deste nanomaterial, descoberto em 2004 e com potencial para revolucionar a eletrônica, a indústria aeroespacial, a energia e a medicina.

Confira, a seguir, os principais lugares em que propagadores de teorias da conspiração e antivacinas mencionam o grafeno.

Componente de vacinas

Vídeos de supostos vacinados com metais presos às suas extremidades deram vida à teoria de que o grafeno era responsável por esse “magnetismo”, como professaram nas redes sociais o antivacina argentino Luis Marcelo Martínez e o espanhol Ricardo Delgado. Até o deputado uruguaio César Vega compartilhou as imagens, em uma coletiva de imprensa no Palácio Legislativo.

Especialistas rejeitam essas versões, explicando que o grafeno não é solúvel, não tem propriedades magnéticas naturais e não poderia gerar magnetização, devido à pouca quantidade de material: é uma lâmina de uma camada de átomos de espessura.

Além disso, nenhuma das vacinas contra a Covid-19 aprovadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) têm o grafeno entre seus componentes.

Material dos testes PCR

Outra teoria compartilhada milhares de vezes afirma que as hastes flexíveis dos testes PCR para detectar o coronavírus contêm grafeno, o que “magnetizou” o rosto e o nariz dos afetados.

Essas hastes são, no entanto, fabricadas com polímeros convencionais, como o poliéster.

Necropsia cerebral

Milhares de usuários compartilharam nas redes o vídeo de uma necropsia do cérebro com a intenção de mostrar os efeitos letais do grafeno “nas funções neurais de uma pessoa vacinada”.

Na verdade, porém, as imagens mostram uma hemorragia intracerebral e circulam desde 2019, mais de um ano antes da aprovação das primeiras vacinas contra a Covid-19, inclusive antes mesmo da identificação da doença.

Tecnologia 5G

Quem afirma que os imunizantes contra o coronavírus contêm grafeno justifica que o objetivo de injetar esse elemento é controlar a mente e afetar o corpo humano. Segundo uma de suas hipóteses, a tecnologia 5G “envia frequências” ao grafeno que entrou no organismo por meio da vacina, o que criaria os mesmos sintomas da Covid-19.

Sendo assim, explicam que o que acontece no mundo desde março de 2020 é uma “plandemia” – termo usado nas redes para afirmar que a pandemia da Covid-19 foi planejada pelas elites governantes.

Especialistas consultados afirmam que o grafeno poderia ser usado para melhorar a tecnologia 5G, mas enfatizam que não tem nenhuma relação com o coronavírus. Além disso, a atual pandemia se diferencia pouco de outras sofridas pela humanidade, quando ainda não existiam essas tecnologias.

Radiofrequência

Outra mensagem nas redes alega que o grafeno “pode ser manipulado mediante radiofrequência” para “modular” as emoções humanas e obter a localização GPS da pessoa.

Os especialistas estudam possíveis aplicações do grafeno que permitam entender melhor o cérebro, mas não é possível obter uma localização GPS – nem por radiofrequência, nem sozinho.

Até nas sementes

A obsessão com o grafeno nas redes fez com que “aparecesse” até em pacotes de sementes de girassol. Em um vídeo que viralizou, um homem explica que o material está presente no conservador de frescor, porque este era magnético.

Em entrevista à AFP, a fabricante, com sede em Sevilha, negou que aplique grafeno nas sementes e esclareceu que o pacote mencionado não produz danos à saúde, nem ao meio ambiente.

Segundo a autoridade espanhola de segurança alimentar, SESAL, esses absorventes de oxigênio impedem a deterioração de alimentos e são usados há décadas. O material utilizado não é grafeno, e sim pó de ferro, razão pela qual a embalagem é magnetizada.

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