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Brasil amplia uso de drones em suas operações

Veículos aéreos não tripulados são usados em missões de vigilância terrestre e marítima de fronteiras, além de varreduras antibomba e perícias de obras de engenharia civil

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De Londres e São Paulo

Com Marsílea Gombata

Desde a última semana, um cenário futurista começa a se materializar nos Estados Unidos. A loja virtual Amazon anunciou que vai iniciar testes para entrega de produtos leves utilizando drones (aeronaves não tripuladas). Esta é apenas mais uma função para a tecnologia, famigerada por sua aplicação militar, especialmente para bombardeios norte-americanos em áreas tribais do Paquistão. Os drones, militares ou civis, já estão presentes em mais de 75 países, segundo um relatório de 2012 do Congresso dos EUA. Em 2005, apenas 40 países detinham esse tipo de equipamento.

O Brasil está entre os Estados que utilizam drones, sem armamentos, para missões militares e fins civis. O País deve, inclusive, começar a desenvolver suas próprias aeronaves, também chamadas de veículos aéreos não tripulados (Vants), em 2014. Recentemente, a Embraer anunciou um acordo com a empresa israelense Elbit Systems para produzir drones no Brasil. A parceria será feita por meio da empresa de defesa Avibras, que integra a Harpia Sistemas, criada pela Embraer em 2011 em conjunto com uma subsidiária da Elbit, a AEL Sistemas.

A parceria pode ser representativa para o Brasil, pois Israel é um dos líderes no desenvolvimento de tecnologias para drones. “Israel e EUA são os países com grandes vantagens comparativas em tecnologia neste setor. Israel tem vários casos de sucesso ao colocar drones no mercado público. O país tem vendido drones para várias nações e arrebatado, na prática, mais mercado de vendas externas que os EUA”, explica Michael J. Boyle, professor-assistente de Ciências Políticas da Universidade de La Salle (EUA) e analista de política externa norte-americana.

Para Boyle, o Brasil também teria a oportunidade de entrar no mercado global de drones. “Israel tem trabalhado com diversas companhias locais em uma estratégia para vender tecnologia a autoridades locais. Essa tecnologia também é construída no país que a está comprando”, afirma.

Outro aspecto positivo da parceria ainda deve ser analisado: o impacto comercial para o setor. “Ainda que o Brasil possa se beneficiar em termos de defesa nesta aliança, a parceria é uma vitória maior para o desenvolvimento comercial. Ela vai criar empregos e novos empreendimentos”, destaca Mary Cummings, professora do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e da Universidade de Duke, ambas nos EUA, além de ex-piloto militar dos EUA.

O Brasil tem ao menos dois drones israelenses desde 2011. Naquele ano, o País firmou um acordo de cerca de 350 milhões de dólares com Israel para produzir aviões não tripulados em solo brasileiro com transferência de tecnologia. Um dos contratos foi com a estatal IAI e o outro com a Elbit. O objetivo é exportar, mas a venda da tecnologia para países como Venezuela e Bolívia está vetada por Israel.

Segundo o Ministério da Defesa, as Forças Armadas usam drones em missões de reconhecimento, aquisição de alvos, apoio a direção de tiro, avaliação de danos e vigilância terrestre e marítima de fronteiras, especialmente na Amazônia. Eles também são utilizados em grandes eventos, como a Copa das Confederações, quando ajudaram a fazer a segurança durante a competição esportiva. O mesmo deve acontecer na Copa do Mundo e nas Olimpíadas de 2016. Na área civil, os drones foram usados como apoio em casos de desastres naturais, como incêndios florestais e enchentes.

A Marinha brasileira utiliza pequenos aviões não tripulados desde os anos 90 para treinamento de tiro a partir de navio. Os fuzileiros navais também usam os aparelhos em missões de observação desde 2006, além de um Vant nacional. Já a Polícia Federal utiliza os drones na elucidação de crimes, em varreduras antibomba, e em perícias de obras de engenharia civil, como terraplanagem e meio ambiente. Em edição de novembro de 2013, a revista Perícia Criminal destacou que, dentre os modelos em uso pelo Brasil, estão o Multirrotor (com pouso e aterrissagem automáticos, para aplicações periciais como mineração de pequeno e médio porte, acidentes de trânsito e local de crime); o Asa Fixa (com menor custo de investimento, maior autonomia e utilizado para casos de incêndio florestal, desmatamento e construção de estradas). Além disso, citam modelos em teste ainda como o Air Drone 2 (que custa cerca de 300 dólares) e o Protótipo KJ-2 (com câmeras acopláveis por cerca de 500 dólares).

As primeiras iniciativas empresariais para desenvolvimento de drones no Brasil são recentes, dos anos 2000. A partir dali, cerca de uma dezena de iniciativas públicas e privadas ocorreram no setor. Mas a fabricação de Vants ainda é incipiente. “Diversas empresas estão atingindo elevado grau de capacitação tecnológica na área, mas poucas unidades de série foram comercializadas”, aponta Geraldo Branco, gerente da Divisão de Tecnologias Sensíveis do Ministério da Defesa.

A empreitada da Harpia no setor deve contar com a produção do modelo Falcão, um drone desenvolvido pela Avibras para as Forças Armadas. O avião será usado em missões de reconhecimento e de vigilância terrestre e marítima. O Falcão tem cerca de 800 quilos e autonomia de 16 horas de voo, além de capacidade de carregar cerca de 150 quilos de equipamentos. Ele será o primeiro drone para uso militar brasileiro e sua unidade inicial deve começar a ser testada em 2014. “O maior obstáculo para a expansão na utilização de Vants no Brasil é um problema comum a todos os países: a falta de regulamentação específica que permita a operação segura dessas aeronaves sobre áreas povoadas”, diz Branco.

Drones se espalham pelo mundo

Apesar dos problemas de regulamentação, os drones têm ganhado espaço civil e militar em diversos países na última década. A tecnologia tem amadurecido, mas o maior atrativo ainda são as vantagens econômicas. “Há uma crença de que os drones são mais baratos [que outros tipos de aeronaves]”, destaca M. Shane Riza, autor do livro Killing Without Heart: Limits on Robotic Warfare in an Age of Persistent Conflict (Matando sem Coração: Limites da Guerra Robótica em uma Era de Persistente Conflito, em tradução livre), e ex-comandante militar nos EUA.

A revista Perícia Criminal ressaltou que uma operação com um Vant pode custar menos que uma hora de voo de um aeronave tripulada. Os custos mais baixos para diversas operações militares são um atrativo, mas Boyle destaca outro fator para o sucesso dos drones. “Caso haja a necessidade de enviá-los a uma missão que acabe os destruindo, não haverá nenhuma perda humana.” Segundo o professor, as pessoas também estão descobrindo que os drones podem ser usados para uma grande variedade de atividades, como proteção ambiental e operações humanitárias.

Ainda que o uso militar seja criticado em alguns casos, Cummingsacredita que o aumento do número de países com drones não deve se tornar “uma força desestabilizadora” do sistema internacional. “Ainda é muito difícil opera-los em uma capacidade de lançamento de armas. E essas capacidades vão permanecer com aqueles países com forças aéreas estabelecidas.”

Para Riza, contudo, os impactos dessa expansão ainda são difíceis de analisar. “O que isso vai implicar para a segurança internacional ainda é incerto. Não creio que alguém já possa responder essa questão, mas não a consideramos em todas as proporções que deveríamos.”

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