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Uruguai vai para segundo turno da eleição presidencial

Sem maioria absoluta, Tabaré Vázquez, da coalizão de governo Frente Ampla, terá que enfrentar conservador Luis Lacalle Pou

Tabaré Vazquez (à esquerda) e o Luis Lacalle Pou disputam o segundo turno
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Os uruguaios terão que esperar até 30 de novembro próximo para decidir quem será seu novo chefe de Estado. Embora tenha vencido a disputa no domingo 26, o socialista Tabaré Vázquez não alcançou a maioria absoluta exigida, tornando necessário um segundo turno na eleição presidencial.

Segundo dados oficiais preliminares, o político de 74 anos, que já foi presidente de 2005 a 2010, obteve 47,8% dos votos, com a apuração de cerca de 98% do total. Ele é o candidato da coalizão governamental Frente Ampla. Integrada por socialistas, marxistas, social-democratas, cristãos e cidadãos sem partido, ela se impôs em 11 dos 19 departamentos em que se divide o país.

Após o anúncio dos primeiros resultados, milhares de adeptos de Vázquez se reuniram no centro da capital Montevidéu, agitando bandeiras e ao som de buzinas. A Constituição uruguaia não permite que o atual presidente, José Mujica, muito apreciado pela população, concorresse a mais um mandato.

Chance para o Partido Nacional

Vázquez enfrentará no segundo turno o conservador Luis Lacalle Pou, de 41 anos. Seu Partido Nacional alcançou 31,1% dos votos, vencendo, em princípio, em cinco departamentos – antes de que se dispusessem dos dados detalhados dos dois principais distritos eleitorais, Montevidéu e Canelones, assim como dos de Salto.

O terceiro lugar coube a Pedro Bordaberry, do Partido Colorado, também de tendência conservadora, com 13% das urnas – uma significativa queda em relação ao pleito de 2009, do qual saiu com 17,2%.

A única chance para o Partido Nacional no segundo turno será conquistar para si o eleitorado de Bordaberry. Este já prometeu apoiar Lacalle Pou, ainda no domingo, diante dos primeiros resultados. O filho do ex-presidente Luis Alberto Lacalle disse que “continua havendo esperança” e que vai falar com todos. Lacalle Pou disse ainda apostar nos eleitores de outras facções.

Cânabis ameaçada

O comparecimento às urnas é obrigatório no Uruguai: de seus 3,3 milhões de habitantes, 2,6 milhões estavam convocados para as atuais eleições. No domingo também transcorreu o pleito legislativo. Prognósticos apontam que a coalizão de esquerda deverá perder sua atual maioria.

Em dezembro de 2013, o país se afirmou como pioneiro mundial, ao liberar tanto o cultivo doméstico da cânabis quanto sua venda em farmácias e outros locais. A intenção do governo Mujica era criar um mercado regulamentado e assim desarticular ao menos parte do narcotráfico uruguaio.

Nesta terça-feira se inicia o escrutínio definitivo que definirá a composição do novo congresso bicameral de 31 senadores – inclusive o vice-presidente do país – e 99 deputados.

Mudança de agenda?

Segundo o analista Carlos Castillos, da agência de notícias DPA, com o ingresso na Câmara dos Deputados de legendas localizadas à esquerda da coalizão governamental, deverão retornar à agenda política temas como dúvida externa, soberania estatal e ecologia – ignorados nos últimos anos.

A Assembleia Popular (AP) e o Partido Ecologista, Radical e Intransigente (Peri) passarão a ocupar entre dois e três assentos na Câmara. Composta por dissidentes da Frente Ampla, a AP se autodenomina “a verdadeira esquerda”. Segundo seu ex-candidato presidencial, Gonzalo Abella, ambas as facções aproveitarão “para falar dessas coisas e mitigar algo dos impactos mais terríveis do que está por vir”.

O Peri é liderado pelo engenheiro agrônomo César Vega, também saído da Frente Ampla, como Abella. O ativista considera “prioritária” a defesa do meio ambiente e da natureza diante das atuais agressões. Por isso, fará “finca-pé fundamental nessas premissas”, prometeu.

Ambas as legendas têm denunciado reiteradamente o progressivo envenenamento da água, que, segundo o jornalista Castillos, é uma das principais riquezas do país.

A esquerda emergente uruguaia tem igualmente entre seus postulados a renegociação da dívida externa, a qual, nas palavras de Abella, “também vaza água por todos os lados”, tendo triplicado nos anos de governo da Frente Ampla.

Castillos, da DPA, complementa: “Estes temas estiveram ausentes na recente campanha eleitoral do Uruguai, empobrecida quanto a propostas renovadoras concretas e quase sem confrontação ideológica, por ter se instalado no país uma espécie de acordo não escrito entre os partidos majoritários para manter o atual estado de coisas.”

AV/afp/dpa/epd/rtr

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