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“Uma ditadura”, diz brasileira sobre a Hungria, país que Bolsonaro visita nesta quinta-feira

O presidente brasileiro deve se encontrar com o primeiro-ministro Viktor Orbán e o presidente Janos Ader, de acordo com informações da assessoria do premiê

Dezenas de milhares de manifestantes protestam contra a nova Constituição húngara, em Budapeste ©AFP / Ferenc Isza
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Depois de chegar pela manhã, Bolsonaro participa de cerimônia na Praça dos Heróis, local de grandes eventos em Budapeste, antes de seguir para o palácio presidencial, onde se encontra com os líderes húngaros. Bolsonaro e Orbán vão fazer um pronunciamento conjunto depois de se reunirem.

Além de reafirmar as afinidades políticas com a Hungria, o Brasil pretende usar a oportunidade para aumentar as exportações na área da defesa.

Orbán é uma referência internacional entre líderes da ultradireita, cerceadores da imprensa e fustigadores da oposição, clube do qual Bolsonaro é outro ilustre integrante.

Conhecido por suas posições conservadoras, nacionalistas e anti-imigração, Orbán, no poder desde 2010, também conseguiu limitar os direitos da comunidade LGBTQIA+.

“Ditadura”

“Uma ditadura”, diz à RFI por telefone a baiana Marcele Bacelar Kruljak, 35 anos, team leader de uma multinacional de marketing, a respeito do governo do líder nacionalista. Baseada em Budapeste há seis anos, para ela, Orbán é mestre em omitir a verdade, manipular a imprensa e engendrar manobras políticas.

Como exemplo, a brasileira conta que, a dois meses das eleições gerais, o governo congelou os preços dos alimentos. Desde então, as pessoas são bombardeadas de torpedos enaltecendo a medida.

“Durante a campanha de vacinação contra a Covid, isso era até informativo, as mensagens falavam sobre quantas pessoas já tinham sido vacinadas, mas agora você recebe um link e quando clica, aparece uma propaganda política”, relata a brasileira.

Marcele também sente que os húngaros têm uma forte discriminação contra as políticas públicas para ajudar imigrantes. “É racismo, não querem se misturar, têm medo de ver as origens se perderem”, avalia.

A especialista em marketing também observa que os vistos de trabalho e autorizações para casamentos de estrangeiros com húngaros estão sendo cada vez mais difíceis de serem obtidos. “Estão apertando o cerco de forma errada”, avalia.

“Sou contra a gestão de Viktor Orbán, principalmente por ser imigrante”, diz Marcele. Ela lembra que a popularidade do nacionalista se concentra no interior – mais pobre – do país e entre idosos.

Orbán: “efetivo” e “articulado”

Já Alexandre Massarini, 42 anos, de Campinas (SP), vive há quatro anos na Hungria e aprecia o governo de Viktor Orbán.

“Ele se mostrou bastante efetivo na campanha contra a Covid, foi articulado e pronto para atender as necessidades, vacinou as pessoas, atuou na hora de aplicar regras mais pesadas na hora certa, acho que isso ajudou a controlar o vírus”, avalia.

“Orbán tem uma visão política interessante, simpatizo com esse modelo de gestão. Pode ser verdade que ele controle a imprensa, mas ele só distribui o que precisa ser distribuído”.

O brasileiro também aprecia o atual governante brasileiro. Para ele, é a primeira vez que um presidente não é acusado de corrupção, apesar de admitir que há problemas com os filhos de Bolsonaro e escândalos como a das “rachadinhas”. “Mas nunca vamos saber a verdade absoluta, de nenhum dos lados”, diz.

“Não votei nele porque estava sem o título na época, mas teria votado e votaria de novo. Os prós ainda são maiores que os contras”, afirma Massarini. “Bolsonaro é a pessoa que se sentaria na minha mesa para tomar um café e bater papo como uma pessoa comum”, diz.

O brasileiro vê ideologias semelhantes entre os dois líderes, mas julga que Bolsonaro não sabe se controlar, “não conhece o poder de seu próprio discurso como presidente, precisa tomar cuidado”. Já para ele, Orbán se controla melhor, “mesmo que às vezes abra a boca quando não precisa”.

Massarini, que mora ao lado da Praça dos Heróis, diz que, se puder, vai prestigiar Bolsonaro amanhã.

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