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Ultradireitista Giorgia Meloni sonha em se tornar premiê da Itália
Admiradora de Mussolini, ela é conhecida por sua linguagem direta e eficaz desde seus anos como líder estudantil em Roma
A líder do partido de extrema direita Fratelli d’Italia (“Irmãos da Itália”), Giorgia Meloni, antieuropeísta e nacionalista, tem a possibilidade concreta de se tornar primeira-ministra após as eleições de 25 de setembro, que têm movimentado a estrutura política do país.
Meloni, de 45 anos, aparece como favorita em todas as pesquisas. Admiradora de Mussolini, ela é conhecida por sua linguagem direta e eficaz desde seus anos como líder estudantil em Roma. Se for eleita, também será a primeira mulher a chegar ao cargo de chefe de governo.
Membro da Câmara dos Deputados desde 2006, essa veterana da política não mede palavras para criticar o atual governo de unidade nacional liderado pelo economista Mario Draghi.
Foi, de fato, a única força que se opôs à sua coalizão por 18 meses, o que a favoreceu diante do descontentamento dos italianos com a inflação, com a guerra na Ucrânia e com as restrições impostas pela pandemia da Covid-19.
“Tivemos três governos diferentes, três maiorias diferentes, mas não funcionaram. Porque os únicos governos que funcionam são aqueles que têm a maioria com uma visão compartilhada”, declarou Meloni ao comemorar a renúncia de Draghi, na icônica Piazza Vittorio, em Roma, na quinta-feira 21.
A saída do ex-presidente do Banco Central Europeu, que renunciou após perder o apoio de três aliados, abre caminho para um representante do pós-fascismo vencer as eleições de setembro.
A Liga de Matteo Salvini, de extrema direita, e a Forza Italia (direita moderada) de Silvio Berlusconi se uniram aos Irmãos da Itália para alcançar a vitória. Segundo pesquisas, somariam 48% dos votos.
Essa vitória colocaria em xeque a posição da Itália em relação à União Europeia, já que o grupo defende uma revisão de seus tratados e até sua substituição por uma “confederação de Estados soberanos”.
Junto com os poloneses do Lei e Justiça e com os espanhóis do Vox,, a legenda Irmãos da Itália é membro do grupo Conservadores e Reformistas Europeus (ECR). Embora sejam vistos com desconfiança, não são considerados párias pela atual Comissão Europeia.
Extrema direita 2.0
O escritor e ator italiano Moni Ovadia, uma renomada personalidade antifascista, reconheceu recentemente as “capacidades” de Meloni, mas admitiu que teme que os muitos movimentos e formações de extrema direita, que historicamente a apoiaram, sejam legitimados com sua eleição.
Já o líder neofascista da Casa Pound, Simone Di Stefano, conhecido por suas violentas manifestações contra imigrantes, anunciou sua filiação ao Irmãos da Itália.
Muitas das bancadas e líderes do partido têm um passado controverso, devido às suas ligações com o fascismo e com o neofascismo. Vários deles fazem a saudação fascista romana em reuniões privadas.
Nesta sexta-feira 22, o jornal “Il Fatto Quotidiano” publicou uma investigação sobre os escândalos de corrupção em que estão envolvidos prefeitos e vereadores do Irmãos da Itália em toda península.
Fundado em 2012 após o fracasso do Povo da Liberdade, projeto com o qual Berlusconi queria reunir toda centro-direita em um único partido, Irmãos de Itália é filho da Aliança Nacional de Gianfranco Fini e neto do Movimento Social Italiano, a legenda pós-fascista da Itália durante a segunda metade do século XX.
Meloni, que ao longo dos anos se esforçou para construir o perfil de uma líder séria e popular, publicou no ano passado sua autobiografia intitulada “Io sono Giorgia. Le mie radici, le mie idee” (“Eu sou Giorgia. Minhas raízes, minhas ideias”). Nela, explica a importância da defesa da família, da pátria e da identidade religiosa e sexual.
E conclui o livro com estas palavras: “Sou Giorgia. Sou mulher, sou mãe, sou italiana, sou cristã. Não vão me tirar isso”.
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