Os líderes da União Europeia (UE) chegaram a um acordo na noite desta segunda-feira (30) sobre um embargo a “mais de dois terços” de suas compras de petróleo russo, como parte de seu sexto pacote de sanções pela guerra na Ucrânia.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, anunciou que o embargo aprovado atinge “mais de dois terços” das importações europeias de olho russo, em um acordo selado durante a cúpula de líderes do bloco na capital belga.
A medida servirá para cortar “uma enorme fonte de financiamento” da “máquina de guerra” russa, completou Michel.
A cúpula extraordinária começou em meio a declarações pessimistas sobre as possibilidades de um acordo, mas as negociações terminaram com um entendimento.
O sexto pacote de sanções proposto pela Comissão Europeia contra a Rússia inclui, entre outras medidas, o controverso embargo às importações europeias de petróleo russo, ideia que desmoronou com a oposição intransigente da Hungria, que teme por sua segurança energética.
A ideia lançada para quebrar o impasse é proceder a um embargo em duas fases, a primeira das quais incidiria sobre o petróleo russo que chega à UE por via marítima, excluindo por enquanto as entregas por oleodutos.
A extensão do embargo ao petróleo por oleodutos será iniciada “assim que for possível”, declarou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Alemanha e Polônia se comprometeram a renunciar até o fim deste ano ao petróleo russo que recebem pelo oleoduto de Druzhba -o mesmo que abastece a Hungria-, o que elevaria o embargo a cerca de 90% das compras de petróleo de Rússia.
A parte da Declaração da cúpula relativa às sanções menciona uma “exceção temporal” ao petróleo fornecido via oleoduto.
“O Conselho Europeu acordou que o sexto pacote de sanções contra a Rússia cobrirá o petróleo, assim como os produtos derivados do petróleo, fornecidos da Rússia aos Estados-membro, com uma exceção temporal para o petróleo entregue por oleoduto”, diz o documento.
Pedido por união
Durante o dia, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, participou da reunião por videoconferência e formulou um pedido dramático para que a UE deixasse de lado as disputas internas, mantivesse a união contra a Rússia e adotasse o embargo do petróleo.
“É o momento de não estarem divididos, não sejam fragmentos e sim um todo unido”, disse ele.
A participação de Zelensky durou pouco mais de 10 minutos e, ao contrário do discurso da última cúpula, quando se referiu pessoalmente a cada líder europeu, desta vez dirigiu-se aos líderes do bloco em geral.
Zelensky agradeceu “a todos que estão promovendo o sexto pacote de sanções e tentando torná-lo realidade. Infelizmente, porém, por algum motivo, ainda chegamos a esse ponto.”
“É evidente que deve haver progresso nas sanções pela agressão. E para nós é muito necessário”, acrescentou.
Os líderes europeus também acordaram enviar 9 bilhões de euros à Ucrânia para apoiar sua economia, anunciou Michel.
O Conselho “continuará ajudando a Ucrânia com suas necessidades imediatas de liquidez”, tuitou Michel, que também mencionou um “apoio firme e concreto à reconstrução da Ucrânia”.
O governo ucraniano estima suas necessidades mais urgentes em cerca de 5 bilhões de euros por mês. Os financiamentos europeus serão realizados mediante empréstimos com taxas de juros especiais, detalhou uma fonte europeia.
Hungria pressionou por garantias
Chegando à reunião em Bruxelas, no entanto, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, afirmou que o acordo não estava pronto e que seu país exigiria garantias para levantar sua oposição à medida.
A Hungria, um país sem litoral, importa 65% do petróleo que consome da Rússia através do oleoduto Druzhba e, junto com a Eslováquia e a República Tcheca, solicitaram uma exceção à proibição de importação.
Esse oleoduto atravessa a Ucrânia e Orban teme que o governo Zelensky corte esse fornecimento em retaliação à posição da Hungria sobre o embargo. Por isso, disse Orban, a Hungria quer obter “garantias de que em caso de acidente com o oleoduto que passa pela Ucrânia (…) temos o direito de obter petróleo da Rússia por outras fontes”.
Além do controverso embargo de petróleo, o sexto plano de medidas da UE contra a Rússia também inclui a retirada de mais bancos desse país da rede interbancária Swift e a inclusão de novos nomes na lista de autoridades russas sancionadas.
Assim, a UE excluiu o maior banco russo, Sberbank, da rede Swift.
Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.
Já é assinante? Faça login