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Ucrânia bombardeia os seus próprios cidadãos, diz Rússia na ONU

Tensão aumenta após decisão da Rússia de reconhecer a independência de territórios na Ucrânia; tropas de Putin estão liberadas para ação externa

O embaixador da Rússia, Vasily Nebenzya, no plenário da ONU. Foto: Reprodução
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Durante reunião sobre a crise da Ucrânia na Assembleia Geral das Nações Unidas, nesta quarta-feira 23, o embaixador da Rússia, Vasily Nebenzya, defendeu a decisão do presidente Vladimir Putin de reconhecer a independência de duas áreas localizadas no leste do território da Ucrânia, Donetsk e Lugansk, na região de Donbass.

Em discurso, o diplomata afirmou que “há muita especulação e insinuação” sobre a determinação de Putin e acusou Kiev de direcionar uma “política cheia de ódio” contra seus próprios cidadãos, especialmente nesses dois territórios.

Nebenzya disse que a Rússia se esforça desde 2014 na busca por uma saída pacífica para a situação da Ucrânia e participou “ativamente” de trabalhos em torno da elaboração de acordos.

“Fizemos tudo o que podíamos para preservar a soberania e a integridade territorial da Ucrânia. Organizamos inúmeras reuniões do Conselho de Segurança das Nações Unidas”, afirmou o representante russo. “Tudo isso foi em vão. Por oito anos, Kiev continuou e continua bombardeando os seus próprios cidadãos e se esquivando do diálogo direto com Donbass.”

O diplomata retomou a posição da Rússia de criticar o que chamou de “golpe de Maidan”, em referência aos intensos protestos de 2014 que desembocaram na derrubada do então presidente Viktor Yanukovich e teriam estabelecido, na visão de Moscou, um governo alinhado aos Estados Unidos e à Europa.

A Assembleia teve participação de uma série de líderes nesta quarta. O secretário-geral da ONU, António Guterres, fez um discurso de seis minutos em que declarou que a história do conflito é complexa, porque os dois lados têm “narrativas completamente opostas”, mas que a decisão da Rússia de reconhecer a independência de Donetsk e Lugansk corresponde a uma “violação da integridade territorial e da soberania da Ucrânia”.

A Rússia tem criticado a postura do secretário-geral da ONU. O chanceler Sergey Lavrov disse considerar que Guterres está “submetido às pressões do Ocidente” e tem feito declarações “que não correspondem ao seu status nem às suas competências em virtude da Carta das Nações Unidas”.

Lavrov também declarou que não encontrou “nenhum conflito” em que Guterres tenha se pronunciado com “comentários de tal índole” sobre qualquer país.

O ministro das Relações Exteriores disse que prometeu uma “resposta forte” ao anúncio dos Estados Unidos, na terça-feira 22, sobre a instauração de novas sanções econômicas contra a Rússia.

Segundo o presidente americano Joe Biden, duas instituições financeiras serão punidas com bloqueios de financiamento pelo Ocidente – o banco VEB e o Banco Militar – e medidas serão aplicadas também contra a elite russa.

Em um comunicado do governo russo, nesta quarta 23, a chancelaria disse que os Estados Unidos voltam a optar por esforços que representam “inutilidade óbvia” e que são “ineficazes e contraproducentes”. Além disso, afirmou que a reação não será “necessariamente simétrica”, mas “ajustada e sensível para a parte estadunidense”.

Tropas da Rússia liberadas para ação no exterior

Os Estados Unidos têm intensificado os alarmes sobre a possibilidade de a Rússia realizar uma invasão em grande escala do território ucraniano. A tensão subiu quando o Parlamento russo aprovou o pedido de Putin para que os militares pudessem atuar no exterior, para a realização de uma operação de “paz”, ainda que a chancelaria russa estivesse descartando a intenção de envio imediato.

Segundo a CNN americana, o primeiro-ministro da Letônia, Arturs Krišjānis Kariņš, afirmou que Putin já está movendo militares e tanques para o leste da Ucrânia. A emissora, no entanto, disse que não verificou de forma independente a presença de tropas russas na região.

Já o canal estatal russo RT divulgou nesta quarta um relato de grupos separatistas de Donetsk e Lugansk que diz que os ataques das forças armadas do governo ucraniano à região de Donbass têm praticamente dobrado. Os informes alegam que militares ucranianos também têm desalojado cidadãos da área à força.

Relatório de terça-feira divulgado pela Organização para a Segurança e Cooperação da Europa, a OSCE, diz ter identificado, em 24 horas, 579 registros de violação dos acordos de cessar-fogo em Donetsk e 333 em Lugansk. As violações incluem, sobretudo, a ocorrência de explosões. Os registros aumentam desde 17 de fevereiro.

O governo ucraniano decretou estado de emergência e começa a recrutar reservistas que têm entre 18 e 60 anos para “fortalecer a ordem pública”. A ONU já está retirando da Ucrânia seus funcionários considerados não essenciais. O Brasil recomendou oficialmente que seus cidadãos se retirem de Donetsk e Lugansk.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, convocou para 24 de fevereiro uma reunião extraordinária, em Bruxelas, entre os líderes da União Europeia, para debater a situação da Ucrânia. Países do continente, especialmente a Alemanha, já responderam à ação da Rússia com sanções.

Entre os países que demonstram apoio direto à Rússia estão Cuba e Venezuela. A China tem adotado uma posição cautelosa, rejeitando as sanções à Rússia, mas pedindo espaço para russos e ucranianos no debate, em meio a comparações de analistas internacionais sobre a situação em Taiwan.

“Como culpados por trás da escalada de tensão entre a Ucrânia e a Rússia, que papel os Estados Unidos desempenham?”, questionou a porta-voz chinesa Hua Chunying nesta quarta. “É irresponsável e antiético acusar os outros de combater o incêndio de forma ineficaz enquanto adicionam combustível ao fogo.”

A tensão voltou a escalar desde que cresceram as possibilidades de que a Ucrânia se tornasse uma nova integrante da Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Otan, bloco de 30 países liderado pelos Estados Unidos. O governo de Kiev pede aceleração no processo de adesão, enquanto a Rússia manifesta oposição, porque, segundo o Kremlin, o ingresso da Ucrânia corresponderia à instalação de bases militares na fronteira russa.

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