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Uber, uma história repleta de escândalos

Um vazamento que compila arquivos confidenciais da Uber mostra táticas eticamente questionáveis e potencialmente ilegais que a empresa usou para impulsionar sua frenética expansão global há quase uma década

Trabalhadores do aplicativo Uber têm direitos reconhecidos pela Justiça ao redor do mundo. Foto: Ben Stansall/AFP
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A história da plataforma de transporte Uber, criada em 2010, está recheada de escândalos de assédio, pirataria, espionagem industrial e disputas judiciais.

Isto é o que se sabia antes da publicação, na segunda-feira 11, de uma ampla investigação jornalística internacional baseada no vazamento de milhares de documentos internos da companhia.

Independentes ou assalariados? 

Desde o início, a Uber esteve na mira por suas práticas trabalhistas em dezenas de países.

A companhia defende com vigor o uso do estatuto de trabalhador independente, mas decisões judiciais em muitos países a obrigaram a reconhecer como empregados os seus colaboradores.

Em 2021, a Justiça britânica colocou um ponto final em cinco anos de julgamentos e determinou que a Uber deveria garantir um salário-mínimo e férias remuneradas a seus motoristas.

Dois meses depois, um acordo “histórico” permitiu que os 70.000 motoristas da Uber fossem representados por um sindicato.

Pouco depois, as Justiças francesa e holandesa consideraram que os motoristas estão regidos por um contrato de trabalho.

Em 2019, a Califórnia também passou a considerar que os motoristas da companhia como assalariados. Porém, em 2020, a Uber iniciou uma contraofensiva mediante a aprovação de um referendo sobre o estatuto de independente dos trabalhadores. Contudo, um juiz considerou o referendo inconstitucional, levando a Uber a apresentar um recurso em seguida.

Assédio

Em 2017, a Uber, acusada de tolerar uma cultura sexista e violenta, iniciou uma investigação interna. Seu cofundador, Travis Kalanick, se viu obrigado a renunciar por incentivar práticas brutais de gestão.

Ademais, a empresa demitiu 20 trabalhadores após 215 denúncias de comportamento inapropriado e intimidação em todo o mundo.

Na Índia, um dos dirigentes da companhia foi demitido após tentar desacreditar o depoimento de uma mulher violentada por um motorista em 2014.

Em 2018, uma ex-engenheira da Uber apresentou uma queixa em San Francisco por ter um aumento salarial negado após denunciar casos de discriminação e assédio sexual contra mulheres na companhia.

Aparentemente, ela desistiu do processo após um acordo confidencial no qual a empresa pagou US$ 10 milhões a diversos funcionários para evitar ações na Justiça.

Espionagem industrial

Em 2017, a Justiça americana investigou suspeitas de corrupção no exterior e sobre o uso de programas ilegais para espionar a concorrência ou contornar a fiscalização das autoridades.

A Uber implementou “uma estratégia sofisticada para destruir, esconder, dissimular e falsificar registros e documentos com a intenção de impedir ou interferir nas investigações do governo”, segundo a procuradoria dos Estados Unidos.

O ex-responsável de “inteligência” da Uber revelou ter recebido 4,5 milhões de dólares para não criticar a empresa.

No início de 2018, a Waymo, uma filial da Google para o desenvolvimento de veículos autônomos, acusou a Uber de ter roubado segredos tecnológicos sobre o sistema de direção autônoma.

Naquele ano, a Uber teve que interromper durante vários meses seus testes após a morte de uma mulher atropelada por um carro autônomo da empresa no Arizona.

Para resolver a demanda, a Uber pagou a Waymo 245 milhões de dólares.

Pirataria de dados

Em novembro de 2017, a Uber admitiu que os dados de 57 milhões de usuários, clientes e motoristas foram hackeados. A empresa sabia disso desde novembro de 2016, mas depositou 100.000 dólares para os hackers para que se mantivessem em silêncio.

Em 2018, a França condenou a Uber a pagar uma multa de 400.000 euros por ter escondido esse hackeamento. A empresa também foi condenada a pagar duas multas de mais de um milhão de euros na Holanda e Reino Unido

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