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Turquia: oposição a Erdogan abre vantagem nas eleições municipais em Istambul e Ancara

O presidente teve um forte envolvimento na campanha

Ato do CHP em Istambul, em 31 de março de 2024, dia de eleições municipais na Turquia. Foto: Ozan Kose/AFP
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A oposição turca abriu vantagem sobre o partido do presidente Recep Tayyip Erdogan nas eleições municipais em Istambul e Ancara, neste domingo 31, apesar do forte envolvimento do chefe de Estado na campanha, segundo os resultados parciais.

“Os eleitores decidiram mudar a cara da Turquia”, afirmou Özgür Özel, presidente do partido de oposição social-democrata CHP, após a divulgação dos primeiros resultados na noite deste domingo.

Aos 70 anos, Erdogan se envolveu de corpo e alma na campanha eleitoral deste país de 85 milhões de habitantes para impulsionar os candidatos do seu partido, o islâmico-conservador AKP.

Um de seus principais objetivos é recuperar a prefeitura de Istambul, capital econômica do país, que ele governou entre 1994 e 1998.

Mas a crise econômica que afeta as famílias, com uma inflação elevada, beneficiou a oposição e o prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, do CHP, expressou um otimismo pungente após a divulgação dos resultados parciais.

Com 71% das urnas apuradas, Imamoglu tem 50,4% dos votos, contra 40,9% para seu principal adversário da situação, o ex-ministro Murat Kurum.

Imamoglu se mostrou prudente nas declarações à imprensa na noite deste domingo. “A foto que temos à vista agrada, mas vamos esperar os resultados completos”.

Em Ancara, o prefeito Mansur Yavas, também do CHP, reivindicou a vitória depois da apuração de 46,4% das urnas, que o colocaram na dianteira com 58,6% dos votos frente a 33,5% do candidato apoiado por Erdogan.

O CHP também tem uma vantagem importante em Esmirna, a terceira cidade do país.

As eleições municipais são consideradas um teste para Erdogan.

“Há uma necessidade real de equilíbrio, ao menos em nível local, contra o governo”, disse, em Ancara, Serhan Solak, de 56 anos, que afirmou ter votado em Mansur Yavas.

Embora o chefe de Estado não seja candidato nestas eleições locais, sua sombra se projetou mais do que nunca sobre as urnas, chegando a realizar quatro comícios por dia.

“Esta eleição vai marcar o início de uma nova era para o nosso país”, afirmou, após votar em Istambul.

A disputa por Istambul

Erdogan foi prefeito da cidade nos anos 1990, antes de ser presidente e, nestas eleições, se empenhou para tirar da prefeitura Imamoglu, personalidade de destaque da oposição que lhe arrebatou a principal e mais rica cidade do país.

Se Imamoglu for reeleito, ele poderá ganhar muito peso com vistas às eleições presidenciais de 2028.

“Espero que Istambul e a Turquia acordem [na segunda-feira] com uma bela manhã de primavera”, disse o prefeito após votar na companhia de sua família.

Erdogan o descreveu como um indivíduo ambicioso e pouco preocupado com a cidade, tachando-o de “prefeito em meio período”, obcecado com a Presidência.

Apesar da mobilização de recursos de Erdogan, a crise econômica tem comprometido as chances do seu partido.

O país enfrenta uma inflação oficial de 67% em 12 meses e uma desvalorização expressiva de sua moeda (de 19 a 31 liras turcas por dólar em um ano).

“As pessoas estão preocupadas com o dia a dia”, disse Guler Kaya, de 43 anos, moradora de Istambul. “A crise está engolindo a classe média, tivemos que mudar nossos hábitos”, relatou. “Se Erdogan vencer, será ainda pior”.

Na província de maioria curda de Diyarbakir, no sudeste do país, foram registrados confrontos à margem das eleições neste domingo: uma pessoa morreu e 12 ficaram feridas, informou um funcionário à AFP.

Desta vez, ao contrário de 2019, a oposição enfrenta dispersa estas eleições. O partido CHP, a principal legenda opositora, não conseguiu consenso para o nome de Imamoglu em Istambul, nem em outras partes do país.

O partido pró-curdo Dem se apresentou sozinho, o que favoreceria o partido no poder, ameaçado pela pressão do partido islamista Yeniden Refah.

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