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“Tsunamis não causados por terremoto são difíceis de prever”

Geofísico explica por que não foi possível antecipar a chegada de ondas devastadoras na Indonésia, que mataram e feriram centenas

Tsunami atinge a Indonesia no dia 23 de dezembro de 2018 (AFP)
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O tsunami que atingiu a Indonésia neste fim de semana matou ao menos 370  indivíduos e deixou mais de 1,5 mil feridos, além de quase 200 desaparecidos. Especialistas ainda tentam determinar com exatidão o que provocou as ondas devastadoras, uma vez que não houve fortes terremotos.

A principal aposta, contudo, são atividades vulcânicas provenientes do vulcão Anak Krakatau, localizado em uma ilha próximo aos locais devastados, no estreito de Sunda. Segundo o geofísico alemão Jörn Lauterjung, esse tipo de tsunami é mais raro e, por isso, difícil de prever.

DW: O que pode ter causado o tsunami que assolou o estreito de Sunda, a cerca de 100 quilômetros da capital da Indonésia, Jacarta?

Jörn Lauterjung: Muito provavelmente o tsunami foi desencadeado pela erupção do vulcão Anak Krakatau, embora nós tenhamos medido previamente atividades vulcânicas e também sísmicas. Mas prever que elas vão levar a um tsunami é algo muito difícil de se alcançar.

DW: Por que o sistema de alerta prévio não funcionou?

JL: O sistema de alerta se concentra em terremotos. Pela simples razão de que 90% de todos os tsunamis que observamos são desencadeados por fortes terremotos com magnitude de 6,5 a 7, ou até mais. Em casos de atividades sísmicas menores, como as que nós medimos desta vez, o sistema de alertas não é ativado. Caso contrário haveria muitos alarmes falsos, já que atividades sísmicas mais fracas normalmente não desencadeiam tsunamis.

DW: Você diria que, depois do desastre na Indonésia, esse limite de magnitude 6,5 deveria ser diminuído?

JL: Não, isso não faz sentido algum. Porque nós medimos atividades sísmicas de magnitude de 4 a 5 quase diariamente na Indonésia, e isso levaria a muitos alarmes falsos. Como eu disse, quase todos os tsunamis que analisamos são desencadeados por fortes terremotos, e apenas 10%, por atividades vulcânicas ou deslizamentos de terra. É por isso que definimos um limite tão alto.

DW: É possível que novos tsunamis aconteçam nos próximos dias?

Leia também: Tsunami após erupção vulcânica faz centenas de vítimas na Indonésia

JL: Não, eu não acredito nisso.

DW: O que você aconselha à população local?

JL: Essa é uma pergunta difícil de responder. Quase três meses atrás, em 28 de setembro, um tsunami em Celebes deixou mais de 2 mil vítimas – um tsunami desencadeado por deslizamento de terra. Ou seja, nos próximos meses ou anos o que podemos fazer é explicar muito às pessoas para aumentar o conhecimento delas e para que elas entendam que casos como esse podem sempre acontecer e que não há 100% de certeza, nem mesmo quando há sistemas de alerta.

DW: Você conclui que catástrofes como essas não podem ser evitadas no futuro?

JL: O sistema de alerta prévio nunca teve essa intenção. Está claro que eventos catastróficos com mortos e feridos podem sempre acontecer de novo. Um sistema de alerta tenta minimizar os danos ou o desastre, mas nunca vamos conseguir evitá-lo.

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