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Trump só escapa da cassação se tiver chance de reeleger-se

Partido dele fará cálculo diante da ‘fritura’, diz analista americano. 60% são contra a reeleição

O presidente americano Donald Trump
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Donald Trump ouviu na ONU um “I love you” de Jair Bolsonaro e horas depois era alvo de um processo de impeachment aberto pelos deputados. O brasileiro tem dado azar aos amigos. Foi a Israel, e o premiê Benjamin Netanyahu agora precisa negociar com rivais, pois perdeu a eleição parlamentar do dia 17. Foi à Argentina, e o presidente Mauricio Macri apanhou nas primárias.

Superstição à parte, o futuro de Trump depende de seu próprio partido, o Republicano. Nos Estados Unidos, como no Brasil, os deputados conduzem uma primeira fase de investigação do presidente, mas quem julga no final são o senadores. Os republicanos são a maioria no Senado, ao contrário da Câmara, dominada pela oposição, o Partido Democrata.

Cientista político da Universidade George Mason, estudioso do Brasil, Mark Langevin avalia que a abertura do impeachment “vai intensificar a fritura” de Trump. “E aí os republicanos vão ter que decidir qual caminho seria melhor para novembro de 2020”, disse a CartaCapital, referindo-se à próxima eleição presidencial. Melhor para o partido ir com Trump? Ou com o vice, Mike Pence?

Uma pesquisa contratada pela rede de TV americana CNN em setembro mostrou: 60% acham que o presidente não merece a reeleição, só 36% pensam que sim. Nessa pesquisa, 39% aprovam o governo, 55% desaprovam. A má vontade é mais ou menos a mesma desde a posse de Trump, em janeiro de 2017. Em março daquele ano, 44% aprovavam e 53% desaprovavam o governo.

Uma semelhança entre Trump e o fã Bolsonaro é que ambos inspiram uma bronca feminina maior. Nos EUA, a desaprovação do governo entre as mulheres é de 62%, acima da média geral de 55%. Na mais recente pesquisa Ibope, de 25 de setembro, a desaprovação ao governo Bolsonaro era de 34% no geral e de 41%, entre as mulheres.

O desempenho da economia ajuda a melhorar um pouco as coisas para Trump: 48% aprovam o modo como ele conduz a economia e 47%, desaprovam. A taxa de desemprego está baixa, há quase uma situação de pleno emprego, embora o tipo de vaga seja precário. Paga pouco e exige muito.

 

Uma outra pesquisa contratada em setembro pela CNN mostra que o rival mais forte de Trump entre os pré-candidatos democratas é Joe Biden, que foi vice-presidente de Barack Obama. Biden tem 24% de preferência para ser o concorrente democrata, seguido da senadora por Massachussets Elizabeth Warren e do senador autodeclarado socialista Bernie Sanders, do estado de Vermont.

É justamente Biden o motivo da ameaça de impeachment de Trump. Em telefonema em julho com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenskii, Trump pediu uma investigação para prejudicar Biden. Um filho do ex-vice-presidente, Hunter, trabalhou em uma empresa ucraniana de gás, a Burisma, e Trump acha que daí poderia sair algo politicamente explorável.

Para arrancar a apuração ucraniana, teria ameaçado segurar um pacote de 250 milhões de dólares ao país. O telefonema e a chantagem foram noticiados pela mídia e depois se soube que um espião americano havia relatado o episódio no Departamento de Justiça. A descoberta do relato detonou a abertura do impeachment. Trump é acusado de trair o juramento de posse e a segurança nacional.

Um dia após a abertura da investigação, a Casa Branca divulgou o teor do telefonema. E é verdade, Trump quis ajuda estrangeira contra o rival democrata: “Fala-se muito sobre o filho de Biden, que Biden interrompeu a acusação e muita gente quer descobrir isso, então o que você puder fazer com o procurador-geral seria ótimo”.

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