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Trump quer agradar Putin, diz Zelensky após aproximação entre EUA e Rússia

A União Europeia tenta formular uma resposta conjunta aos EUA após Trump e Putin iniciarem negociações sobre a Ucrânia sem a participação do bloco

Trump quer agradar Putin, diz Zelensky após aproximação entre EUA e Rússia
Trump quer agradar Putin, diz Zelensky após aproximação entre EUA e Rússia
A chegada de Trump à Casa Branca marca novo capítulo da guerra entre Rússia e Ucrânia. Fotos: AFP
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O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que os Estados Unidos querem “agradar” o presidente russo, Vladimir Putin, e que os europeus têm uma capacidade de defesa “fraca”. As declarações foram registradas em uma entrevista divulgada nesta segunda-feira 17 pela emissora pública alemã ARD.

“Os Estados Unidos estão agora dizendo coisas muito favoráveis a Putin […] porque querem agradá-lo”, afirmou Zelensky, segundo a tradução da entrevista feita pela ARD, que foi gravada no sábado 15 em Munique.

O presidente dos EUA, Donald Trump, chocou os aliados europeus ao anunciar na semana passada que manteve um diálogo direto com Putin como parte de um processo para encerrar rapidamente os combates na Ucrânia.

O chefe do Pentágono, Pete Hegseth, declarou na semana passada que não considera realista que a Ucrânia se torne membro da Otan ou recupere todo o território perdido no conflito.

Zelensky, diante dos comentários, subiu o tom e afirmou que “não assinará qualquer coisa” e que o que está em jogo é “o destino” do Estado para as próximas gerações. Ele reforçou sua recusa em ceder parte do território ucraniano.

Europa fraca

A entrevista do ucraniano ao canal alemão também cita comentários sobre a capacidade de defesa da Europa, que segundo Zelensky, se encontra em uma posição de fraqueza.

“Hoje, a Europa é fraca”, disse, referindo-se aos números “de tropas de combate, frota, aviação, drones”, embora acredite que suas capacidades “se fortaleceram nos últimos anos”.

Tanto Kiev quanto os países europeus temem um corte de recursos que fortaleça a Rússia, assim como temem ser excluídos das negociações para encerrar o conflito na Ucrânia.

Resposta do continente aos EUA

As últimas movimentações do governo Trump sobre o conflito não geraram reações apenas retóricas. Nesta segunda-feira, uma dezena de líderes da União Europeia e da Otan se reuniram em Paris para mostrar uma frente unida diante da mudança de política dos Estados Unidos sobre a guerra na Ucrânia. O encontro foi convocado por Emmanuel Macron, presidente da França.

Ao encontro desta segunda em Paris compareceram os líderes de Alemanha, Reino Unido, Itália, Polônia, Espanha, Países Baixos e Dinamarca. O presidente do Conselho Europeu, a presidente da Comissão Europeia e o secretário-geral da Otan também estiveram presentes.

Líderes da União Europeia reunidos no Palácio do Eliseu, em Paris, em 17 de fevereiro de 2025.
Foto: Reprodução/Redes Sociais

Apesar da imagem simbólica, o grupo não divulgou um comunicado conjunto após a reunião, o que adia uma resposta direta do bloco europeu a Trump. Segundo a AFP, uma divergência sobre um eventual destacamento de tropas de paz impediu que a resposta única fosse formulada.

Comunicados individuais, porém, começaram a aparecer minutos após o fim do encontro em Paris.

Europa e Estados Unidos devem “agir sempre juntos” pela segurança coletiva, declarou o chefe de governo alemão Olaf Scholz ao sair do Palácio do Eliseu, sede da Presidência francesa, depois de três horas de reunião.

Ainda na saída da reunião, Olaf Scholz também pediu maior “financiamento” para as capacidades de defesa, um ponto no qual todos estiveram de acordo de forma geral.

Scholz também resumiu o ponto de divergência do grupo ao afirmar que seu país considera que o debate sobre o envio de tropas europeias para a Ucrânia era “altamente inapropriado” e “prematuro”.

Outro a falar publicamente foi Donald Tusk, da Polônia. “Não vamos poder ajudar a Ucrânia de forma eficaz se não tomarmos medidas imediatas e concretas sobre nossas próprias capacidades de defesa”, declarou nesta segunda-feira em Paris o primeiro-ministro polonês.

Donald Tusk, cujo país representa um apoio importante para a Ucrânia, também indicou que a Polônia não prevê enviar soldados para a zona de conflito.

O ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, também disse que ainda é “muito cedo” para falar sobre o envio de tropas para a Ucrânia. “Não há paz no momento e o esforço deve ser para alcançá-la o mais rápido possível”, apontou.

Outra manifestação veio da primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, que após a reunião disse que a Rússia “está ameaçando agora toda a Europa”.

“A guerra na Ucrânia ocorreu devido aos sonhos imperiais da Rússia de construir uma Rússia maior e mais forte, e não acredito que isso vá parar na Ucrânia”, declarou Frederiksen à imprensa após o encontro.

Ela também alertou os Estados Unidos de que seus esforços para alcançar um cessar-fogo “rápido” dariam à Rússia a oportunidade de “se mobilizar novamente, atacar a Ucrânia ou outro país na Europa”.

(Com AFP)

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