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Trump e ‘Fox News’ retomam casamento por conveniência

A emissora, ao contrário do mundo dos podcasts, tem muito peso nas elites do Congresso, diz professor de Nova York

Trump e ‘Fox News’ retomam casamento por conveniência
Trump e ‘Fox News’ retomam casamento por conveniência
Registro de setembro de 2024 em que Donald Trump aparece ao lado do apresentador da 'Fox News' Sean Hannity. Foto: Mandel Ngan/AFP
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Donald Trump e a Fox News, a emissora de TV americana preferida dos conservadores, vivem um novo romance desde a posse do republicano, no que parece ser um casamento de conveniência que teve altos e baixos no passado.

Trump voltou à Casa Branca há uma semana e a Fox News, principal canal a cabo de notícias, colhe os frutos: a emissora da família Murdoch transmitiu a primeira entrevista do presidente de dentro do Salão Oval.

O encarregado de realizá-la foi Sean Hannity, um apresentador estrelado que tem fama de ser tão próximo a Trump que no primeiro mandato do republicano foi apelidado de “chefe de gabinete nas sombras”.

“Na Fox

Os jornalistas que cobrem a Presidência descobrem novos usos. “Acabo de falar disso na Fox“, disse-lhes, na quarta-feira, a porta-voz de Donald Trump, Karoline Leavitt, ao ser questionada sobre as críticas de Elon Musk a um investimento gigantesco em inteligência artificial, anunciado pelo presidente.

Um jornalista da Fox revelou o conteúdo da famosa carta que Joe Biden deixou para Donald Trump em seu gabinete.

Durante o dia, a emissora se concentra na informação, com jornalistas em campo.

À noite, apresentadores e comentaristas estrelados elogiam o presidente, em meio a anúncios do livro de memórias de Donald Trump, Save America, ou de um vinho da safra especial “45/47”, assim nomeado em homenagem a Trump, 45º e 47º presidente dos Estados Unidos.

Nada que tenha surpreendido os especialistas em mídia. Trump ataca os “inimigos do povo”, como a CNN e o New York Times, mas “quer um canal para falar com seu eleitorado e o público ‘MAGA’ [Make America Great Again], e ali [na Fox News] é onde vão obter sua informação”, assinala Jeffrey McCall, professor de Comunicação na Universidade DePauw.

A Casa Branca busca “os entrevistadores mais simpáticos”, acrescenta o acadêmico, descrevendo um casamento por conveniência.

“A Fox precisa de uma audiência e Trump precisa de um alto-falante para sua mensagem”, resume.

Consultado pela AFP, o canal remete a seus índices de audiência. Com 71% da cota da audiência em horário nobre entre os canais de notícias a cabo desde as eleições, a Fox News aumentou ainda mais o abismo em relação a suas concorrentes, CNN e MSNBC.

Inclusive reivindica o primeiro lugar entre os democratas e independentes que assistiram à cerimônia de posse pela TV em um canal de notícias a cabo.

Imprevisível

Dos podcasts às redes sociais, não faltam formas de evitar os meios de comunicação tradicionais.

Mas Donald Trump, de 78 anos, é um forte consumidor da televisão à moda antiga.

“A Fox News, diferentemente do mundo dos podcasts, tem muito peso nas elites do Congresso”, assinala também Reece Peck, professor da Universidade de Nova York e autor de Fox Populism.

Quanto tempo esta união vai durar? Assim como sua relação com Rupert Murdoch, habitualmente conflituosa, “Trump nem sempre teve a melhor relação com a Fox News“, lembra Jeffrey McCall.

O republicano criticou a emissora na noite das eleições presidenciais de 2020 por atribuir a Joe Biden a vitória no estado do Arizona. Também a acusou de ser “branda demais” com Kamala Harris durante a última campanha.

Seus comentaristas se distanciaram depois da violenta invasão ao Capitólio por apoiadores de Donald Trump em 6 de janeiro de 2021.

Recém-empossado, Trump os indultou e comutou suas penas.

“Realmente não podemos prever como a relação entre Trump e os meios de comunicação vai se desenvolver”, diz Mark Lukasiewicz, decano da Faculdade de Comunicação da Universidade de Hofstra.

A única certeza que tem é de que “a segunda administração Trump é muito mais empoderada e encorajada que a primeira, e as salvaguardas tradicionais, na mídia ou no Congresso, que se opunham às suas tendências mais extremas, parecem ter desaparecido em grande medida”.

“O limite se moveu, mas não sabemos até onde”, conclui.

A Fox News aceitou pagar 787 milhões de dólares (4,66 bilhões de reais) para pôr fim a um processo por difamação após repercutir as alegações trumpistas sobre uma fraude, nunca provada, nas eleições  de 2020.

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