Mundo
Trump distorce realidade e diz que Brasil é um dos países que ‘ficaram ricos’ impondo tarifas aos EUA
Estudos mostram que a alíquota real aplicada a produtos americanos é mais baixa do que a que pressupõe o republicano
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que o Brasil é um dos países que “sobrevivem” e “ficaram ricos” ao impor tarifas a produtos norte-americanos. A declaração foi feita em entrevista à revista Time, publicada nesta sexta-feira 25, ao comentar a política tarifária adotada por seu governo.
Trump disse que consideraria uma “vitória total” se, dentro de um ano, os EUA ainda estivessem aplicando tarifas elevadas a produtos estrangeiros.
“Foi isso que a China fez com a gente. Eles nos cobram 100%. Se você olhar para a Índia — a Índia cobra de 100% a 150%. Se você olhar para o Brasil, se olhar para muitos, muitos países, eles cobram. É assim que eles sobrevivem. É assim que ficaram ricos”, declarou o republicano.
Apesar da defesa enfática das medidas protecionistas, Trump reconheceu que os EUA devem, nas próximas semanas, concluir acordos comerciais com países afetados pelas tarifas.
Comércio entre Brasil e EUA
No início do mês, ao anunciar o novo pacote tarifário, Trump revelou que produtos brasileiros — entre os de outros países — passariam a pagar uma taxa de importação de 10% para entrar no mercado norte-americano.
Na comparação recente, o Brasil de fato impõe tarifas mais altas a produtos dos EUA do que o contrário. No entanto, a diferença é bem menor do que a sugerida por Trump — e não sustenta a tese de que o Brasil tenha se “enriquecido” por meio dessa prática.
Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), a alíquota máxima média cobrada pelo Brasil sobre importações gira em torno de 11%. Na prática, porém, esse valor é bem mais baixo. Um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que a alíquota efetiva média aplicada é de cerca de 3%, em razão de subsídios e regimes especiais que reduzem o impacto tarifário em diversos setores.
Esse patamar é similar ao aplicado pelos EUA aos produtos brasileiros, com média de 3,3%. Itens com grande volume de importação, como aeronaves, petróleo bruto e gás natural, entram no Brasil com tarifas reduzidas ou até isentas, segundo a Câmara Americana de Comércio para o Brasil.
Ainda que o Brasil registre superávit em determinados segmentos, os Estados Unidos não acumulam prejuízo na relação bilateral. Pelo contrário: entre janeiro e março deste ano, as exportações brasileiras aos EUA somaram 9,7 bilhões de dólares, enquanto as importações de produtos norte-americanos chegaram a 10,3 bilhões de dólares — um déficit de 600 milhões de dólares para o Brasil.
O número representa um aumento de 6,6% em relação ao mesmo período de 2024. Ainda assim, a balança comercial brasileira com os Estados Unidos permanece deficitária.
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