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Trump culpa políticas de diversidade por acidente aéreo; caixas-pretas são encontradas
Sessenta e quatro pessoas viajavam no avião civil que colidiu com um helicóptero do Exército, com três militares a bordo, na noite da quarta-feira 29


O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusou, nesta quinta-feira 30, os programas de diversidade promovidos por seus antecessores democratas, Barack Obama e Joe Biden, de terem influído no acidente aéreo em Washington no qual morreram 67 pessoas.
“Falo a vocês nesta manhã em uma hora de angústia para a nossa nação”, disse Trump na Casa Branca. Passou-se de uma operação de resgate “para uma missão de recuperação” de corpos porque “tristemente não há sobreviventes”, acrescentou.
Sessenta e quatro pessoas viajavam no avião civil que colidiu com um helicóptero do Exército, com três militares a bordo, na noite da quarta-feira 29 sobre o rio Potomac.
O republicano prometeu uma investigação exaustiva para esclarecer as causas do ocorrido, mas criticou Obama e Biden, aos quais acusou de terem instaurado padrões de segurança baixos.
“Eu ponho a segurança em primeiro lugar. Obama, Biden e os democratas puseram a política em primeiro lugar”, disse.
“De fato, saíram com uma diretiva: ‘branco demais’. E nós queremos as pessoas que são competentes”, acrescentou o republicano, criticando os programas de promoção da diversidade do governo e, mais concretamente, a Agência Federal de Aviação.
Questionado se culpava diretamente os controladores de voo e os programas de diversidade pela catástrofe, Trump admitiu que “não sabia”, mas que “podia ser”.
Ele afirmou, no entanto, que a trajetória do helicóptero militar era “incrivelmente ruim”.
O ex-secretário dos Transportes dos Estados Unidos Pete Buttigieg qualificou de “desprezíveis” as palavras de Trump e o acusou de “demitir e suspender parte do pessoal-chave que ajudou a manter” a segurança aérea, em alusão à onda de demissões adotada pelo republicano desde que assumiu o mandato.
Caixas-pretas
Com 67 mortos, o acidente é a pior catástrofe aérea dos Estados Unidos desde que um avião da American Airlines caiu logo após a decolagem do aeropoerto John F. Kennedy, em Nova York, em novembro de 2001.
As duas caixas-pretas do avião de passageiros foram encontradas e serão analisadas pela Junta Nacional de Segurança no Transporte, responsável pela investigação, informaram fontes anônimas às emissoras CBS News e ABC News.
Mergulhadores tiraram corpos das águas geladas do rio Potomac, em Washington.
Os destroços das duas aeronaves estão emergindo das águas e barcos de resgate e equipes de mergulhadores vasculham a área.
Nas primeiras horas desta quinta, o chefe dos bombeiros de Washington, John Donnelly, disse que 28 corpos haviam sido resgatados.
A FAA informou que o avião era um Bombardier, operado por uma subsidiária da American Airlines. Segundo a companhia aérea, a aeronave voava de Wichita, no Kansas, rumo ao aeroporto Ronald Reagan, na capital americana.
O helicóptero fazia um “voo de treinamento”, informou um porta-voz militar.
O secretário da Defesa, Pete Hewseth, explicou que o helicóptero Black Hawk tinha “uma tripulação bastante experiente, que estava fazendo uma avaliação noturna anual obrigatória”. “Usavam óculos de visão noturna”, acrescentou.
Em um áudio do serviço do tráfego aéreo é possível ouvir os controladores perguntando reiteradamente à tripulação do helicóptero se tinha “à vista” o avião de passageiros e, momentos antes da colisão, dizendo que “passasse por trás” do avião.
“Acabo de ver uma bola de fogo e desapareceu”, disse um controlador para outro depois de a comunicação com o helicóptero ser interrompida.
Com a temperatura das águas em torno dos 2 °C, as possibilidades de sobrevivência no rio eram muito escassas, segundo especialistas.
O casal de patinadores artísticos russos Evgenia Shishkova e Vadim Naumov, campeões mundiais em 1994, estavam a bordo do avião, junto com outras personalidades do mundo da patinação.
Ari Schulman, uma testemunha que viu o acidente enquanto dirigia para sua casa, viu “um jato de faíscas” e algo parecido a fogos de artifício quando ocorreu a colisão.
“A princípio, vi o avião e parecia estar bem, normal. Estava prestes a aterrissar”, disse à CNN. “Então, três segundos depois, se inclinou completamente para a direita […] Pude ver sua parte inferior, estava iluminada por um amarelo muito brilhante e havia um jato de faíscas embaixo dele.”
‘Absolutamente’ evitável
O secretário de Transportes, Sean Duffy, avaliou que a colisão era “absolutamente” evitável.
O espaço aéreo em torno de Washington costuma ser movimentado dia e noite, com aviões voando a baixa altitude para aterrissar no aeroporto Ronald Reagan e helicópteros militares ou civis transportando políticos de alto escalão.
O mesmo aeroporto foi cenário de um acidente fatal em 1982, quando o voo 90 da Air Florida, um Boeing 737, caiu após a decolagem, se chocou com uma ponte e mergulhou no rio Potomac, deixando 78 mortos.
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