Mundo

Trump age para acabar com legado ambiental de Obama

Decreto reverte políticas de redução de emissões de gases do efeito estufa e aposta novamente na produção de energia gerada por combustíveis fósseis

Apoie Siga-nos no

O que há muito se anunciava virou realidade. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta terça-feira 28 um decreto que acaba com o projeto central da política ambiental do seu antecessor, Barack Obama: o Clean Power Plan.

Implementado em 2015 por Obama, o Clean Power Plan tinha por meta limitar as emissões de gases do efeito estufa e ajudar a combater o aquecimento global. Em colaboração com a agência ambiental dos Estados Unidos, a EPA, Obama fixou limites para as emissões de CO2 por usinas elétricas e as obrigou a reduzir suas emissões em um terço em comparação com os valores de 2005. Agora, isso é passado.

“Meu governo está colocando um fim à guerra contra o carvão. Com esta ordem executiva, tomo um passo histórico para acabar com as restrições à energia americana, reverter a intrusão do governo e cancelar regulamentações que acabam com empregos”, disse Trump antes de assinar o documento.

Já no último domingo, o novo chefe da EPA, Scott Pruitt, que foi indicado por Trump, argumentou que, com o fim do Clean Power Plan, muitos postos de trabalho serão criados, e os americanos terão que pagar menos por eletricidade.

“O governo anterior tinha uma postura muito rígida contra os combustíveis fósseis”, declarou Pruitt em entrevista à emissora ABC. Segundo ele, Obama tentou eliminar postos de trabalho em todo o país. Com seu decreto, Trump cumpre a promessa de criar empregos, afirmou o chefe da EPA.

Metas de Paris ficam mais longe

A implementação do plano de Obama foi suspensa no ano passado, depois de uma queixa contra ele ter sido apresentada num tribunal federal de apelação. O processo foi iniciado por estados carboníferos governados por republicanos e por mais de cem empresas que temem ser obrigadas a cortar postos de trabalho. Apoiadores do Clean Power Plan, porém, argumentam que empregos serão criados no setor de energias renováveis.

O decreto que acaba com o Clean Power Plan deverá tornar mais difícil para os Estados Unidos alcançar as metas determinadas para o país no acordo climático de Paris. Mas Pruitt, um destacado defensor da indústria de combustíveis fósseis, chama o compromisso acertado na capital francesa de “um mau acordo” por não ser rígido com os países que mais emitem CO2, a China e a Índia. Já durante a campanha eleitoral, Trump ameaçara abandonar o acordo.

A assinatura do decreto é mais um passo para cumprir a promessa de campanha de gerar empregos e garantir o abastecimento de energia dos Estados Unidos. Objeções, feitas por ambientalistas e cientistas, de que acabar com a política ambiental de Obama teria efeitos negativos para o meio ambiente sempre foram descartadas por Trump.

E o novo presidente não ficou só nas palavras. Na sexta-feira passada, ele aprovou a construção do polêmico oleoduto Keystone XL, pelo qual deverá fluir mais de um quinto das exportações de petróleo do Canadá para os Estados Unidos. Obama havia bloqueado o projeto por questões ambientais.

Últimas esperanças

Além disso, Trump, que negou repetidas vezes as mudanças climáticas, divulgou neste mês um esboço do orçamento americano para o ano de 2018. Se o projeto for aprovado pelo Congresso, os cortes no setor de proteção ambiental serão extensos. O projeto afirma que os pagamentos aos programas ambientais das Nações Unidas serão encerrados e o financiamento de diversos fundos climáticos, eliminado.

“Trata-se de um ataque ao direito dos americanos de serem saudáveis, de respirarem ar puro e de terem água potável”, afirmou a diretora interina da união de ONGs ambientalistas US Climate Action Network, Keya Chatterjee.

“Um ataque ao Clean Power Plan é um claro sinal de que, para Trump e Pruitt, os lucros da indústria de petróleo, gás e carvão são muito mais importantes do que a saúde das nossas crianças”, disse.

Ainda assim, Chatterjee afirma que nem todas as esperanças estão perdidas. “Parte da economia americana, liderada por cidades, estados, empresas e cidadãos, não vai parar de impulsionar a proteção climática e não pode ser parada. Forças de mercado já levaram à redução do consumo de carvão nos Estados Unidos e continuarão fazendo isso.”

Joseph Minott, diretor da organização sem fins lucrativos Clean Air Council, afirma que não é tão simples assim acabar com a política ambiental de Obama.

“Trump não pode simplesmente reverter o Clean Power Plan. As regras foram definidas com a EPA. Do ponto de vista técnico, elas têm força de lei”, afirma. “É necessário seguir o procedimento legal até o fim. Se a Justiça julgar que o Clean Power Plan é legal, a EPA será obrigada a implementá-lo.”

Por Martin Kübler

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo