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Todos contra o Estado Islâmico

Resposta ao terrorismo em Paris e no Sinai multiplica os bombardeios a Raqqa e pode forjar uma aliança entre Moscou e a Otan

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Na terça-feira 17, o serviço secreto russo (FBS, ex-KGB) confirmou que a queda em 31 de outubro do avião da companhia russa Metrojet no Sinai e a morte de todos os seus 224 ocupantes foram provocadas por uma bomba na seção de passageiros. Segundo a revista Dabiq do Estado Islâmico, o explosivo foi acondicionado em uma lata de refrigerante.

Especula a mídia russa que o artefato foi posto debaixo de um dos assentos por cúmplices entre os funcionários do aeroporto de Sharm El-Sheikh. Uma recompensa de 50 milhões de dólares foi oferecida por Moscou a quem fornecer informações que levem à captura dos responsáveis.

Somado aos atentados da sexta-feira 13 em Paris, esse ataque pode ter viabilizado o que até agora parecia impossível: a cooperação direta e eficaz entre a Rússia e as potências da Otan contra o Estado Islâmico. Agora talvez haja acordo entre Bashar al-Assad e os rebeldes não fundamentalistas para ajudar a varrer do mapa o “Califado” de Al-Baghdadi.

Vladimir Putin pedia há meses uma aliança comparável à de Stálin, Franklin D. Roosevelt e Winston Churchill, mas foi preciso os jihadistas imitarem Adolf Hitler e provocarem uma guerra em duas frentes, que igualmente pode vir a se mostrar um excesso fatal de autoconfiança de sua parte.

O EI sofreu também um revés importante em terra com a perda da cidade iraquiana de Sinjar. Essa ligação crucial entre as duas cidades mais importantes do “Califado”, Raqqa e Mossul, foi retomada na sexta-feira por forças yazidis e curdas (inclusive o PKK, nêmese da Turquia).

Desde já, a Rússia sentiu-se autorizada a mobilizar alguns dos recursos mais impressionantes de seu arsenal, sem nenhum dirigente ocidental se atrever a criticá-la. Vinte e cinco dos seus 141 grandes bombardeiros estratégicos Backfire, Bear e Blackjack partiram da Ossétia, sul da Rússia, para somar-se aos helicópteros e caças Sukhoi com base na Síria nos ataques contra os fundamentalistas. 

Para uma comparação, os EUA nunca chegaram a usar mais de oito dos seus 101 bombardeiros estratégicos B-1, B-2 e B-52 no Iraque. Suas incursões se somam às dos Rafale e Mirage franceses, que redobraram esforços depois do ataque a Paris e às já rotineiras da coalizão anglo-árabe-americana, que já duram mais de um ano.

Simultaneamente, a Rússia lançou uma barragem de mísseis de cruzeiro a partir de seus navios de guerra no Mediterrâneo e ofereceu cobertura ao porta-aviões nuclear francês Charles de Gaulle, que partiu de Toulon, França, na quinta-feira 18 para se juntar aos combates.

Infelizmente, parece não haver como evitar que essa escalada atinja também os civis em territórios controlados pelo Estado Islâmico ou outros rebeldes. Desde o início da guerra civil, 250 mil sírios foram mortos, 7,6 milhões estão refugiados dentro do país e 4 milhões buscaram asilo no exterior.

Houve 329 ataques a instalações médicas, dos quais a ONG Physicians for Human Rights atribui 90% ao regime Assad, dez à Rússia, um à coalizão ocidental e o restante aos rebeldes.

Raqqa, histórica cidade síria de 200 mil habitantes que serve de capital ao Estado Islâmico, foi o alvo preferencial dos últimos bombardeios russos e franceses e sua população civil não tem como escapar da armadilha. Segundo testemunhos de ativistas, civis “condenados” por pequenos delitos estão sendo forçados a combater ou a trabalhar na linha de frente.

Os militantes do EI se mudaram para casas vazias em bairros residenciais abandonados e só usam ruas laterais para evitar bombardeios e ataques de drones. Todos os jovens em idade militar foram intimados a se registrar para eventual convocação militar.

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