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“Tem alguma coisa de podre no reino do Brasil”, diz editorial do Le Monde sobre Bolsonaro

O jornal francês diz que o Brasil atravessa uma crise que lembra as horas mais sombrias da ditadura militar

Presidente Jair Bolsonaro em manifestação contra o isolamento social. Foto: AFP
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“Tem alguma coisa de podre no reino do Brasil, onde o presidente Jair Bolsonaro pode afirmar que a Covid-19 é uma “gripezinha”, um produto da imaginação histérica dos meios de comunicação”, diz o editorial do jornal Le Monde, em sua edição impressa desta terça-feira (19).

Fazendo referência à famosa frase “há algo de podre no reino da Dinamarca”, escrita por Shakespeare em 1600 na tragédia “Hamlet”, o jornal francês condena com veemência o presidente brasileiro. O diário publica que Bolsonaro participa de manifestações sem tomar a menor precaução com o distanciamento social, exorta prefeitos e governadores a abandonar as restrições contra o coronavírus e finge que a epidemia está acabando no país.

“Ora, em 72 horas, o Brasil ultrapassou 254 mil diagnósticos e se tornou o 3º país com mais casos de Covid-19 no mundo, superando o Reino Unido, que tem cerca de 250 mil infectados, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da Rússia”, relata Le Monde.

“Tem algo de podre no Brasil quando o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araujo, diz que o coronavírus é resultado de um complô comunista (…) quando o ministro da Saúde Nelson Teich pede demissão no dia em que o país atinge 240 mil casos da Covid-19”, escreve Le Monde.

Para muita gente, o Brasil atravessa uma crise que lembra as horas mais sombrias da ditadura militar, destaca o editorial. Mas existe uma diferença importante, reitera:  “Enquanto no passado os generais reivindicavam a defesa de uma democracia atacada, o Brasil de Bolsonaro habita um mundo paralelo, um teatro do absurdo onde os fatos e a realidade não existem mais. Nesse universo sob tensão, alimentado por calúnias, incoerências e provocações mortíferas, a opinião se polariza a partir de ideias simplistas, mas falsas.”

Risco de novo regime autoritário

“O negacionismo alimentado pelo poder (…) e a aposta política inacreditável de Bolsonaro, que pensa que os efeitos devastadores da crise na saúde serão atribuídos a seus opositores, mostra que esse obscuro ex-deputado de extrema direita não tinha nada de um homem de Estado”, afirma o jornal.

Com o apoio de 25% do eleitorado, Bolsonaro sabe que sua margem de manobra é estreita. Depois de praticar o negacionismo histórico em prol da ditadura, de negar a existência de incêndios na Amazônia e da gravidade da epidemia de Covid-19, Bolsonaro agora tenta levar o país para um novo regime autoritário”, adverte Le Monde.

Além do editorial e de uma reportagem de página inteira, a charge de capa do Le Monde, assinada pelo desenhista Plantu, também mostra o descalabro no Brasil. Enquanto uma família francesa faz um passeio em uma floresta recém-aberta, com todos de máscara, Plantu mostra um pequeno indígena brasileiro sem defesas orgânicas em meio a tocos de árvores da Amazônia destruída.

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