Mundo
Suspensão de negociações pode ajudar o bloco, dizem analistas
Buscar acordo em momento de crise na Europa não seria melhor caminho para o mercado comum sul-americano


Devido à destituição de Fernando Lugo da Presidência do Paraguai em junho, a União Europeia anunciou na última semana a suspensão das longas negociações para um acordo de livre comércio com o bloco.
As conversas para a criação do tratado se estendem desde 1995, mas nunca tiveram avanços relevantes. E esse fator pode ser favorável aos países do Mercosul, segundo analistas. A intensa crise europeia e a necessidade da região em aumentar suas exportações abririam espaço para a UE tentar negociar rapidamente um acordo com condições desfavoráveis ao mercado comum sul-americano. Isso seria facilitado também pela fragilidade do Brasil, maior economia da região, devido à perda de competitividade de sua indústria.
Apesar de haver indícios de que um acordo seria esperado para o final de 2012 – prazo agora inviabilizado pela suspensão das conversas até a eleição presidencial paraguaia em 2013 -, as negociações avançavam mais no lado político que econômico. Em mais de 15 anos de tratativas, havia apenas alguns acordos definidos sobre regras para concorrência, defesa comercial, compras governamentais e investimentos, mas nenhuma referência real a comercialização de produtos.
Isso ocorre devido à discordância entre os blocos sobre alguns itens do principal ponto do acordo: a área de livre comércio. Os países do Mercosul querem acesso ao mercado europeu para seus produtos agrícolas e, para isso, pedem o fim dos subsídios que tornam os produtos dos agricultores da Europa mais competitivos. A União Europeia, por outro lado, deseja a liberalização dos mercados do bloco sul-americano a sua produção de bens manufaturados, mas não dá garantias de que cumprirá sua parte no acordo.
Muito pressionado por pequenos produtores agrícolas, o bloco já definiu que não interrompe os subsídios ao setor até 2020. Além disso, os produtores de carne europeus temem a concorrência do produto do Mercosul e estimam uma perda de 25 bilhões de euros caso haja liberalização total no setor. “Facilitar o acesso dos produtos da EU ao Mercosul, sem garantias de que o bloco europeu fará o mesmo sem restrições aos produtos agrícolas da região é arriscado”, defende Fernando Sarti, professor do Instituto de Economia da Unicamp e especialista em Mercosul.
Mas a preocupação quanto às vantagens da liberalização dos mercados dos blocos não é apenas europeia. O Mercosul também dá sinais de temor em expor sua indústria a concorrentes mais eficazes em diversos setores. “Enquanto não houver reformas no custo da energia e infraestrutura, por exemplo, vai ser difícil competir com a UE”, vaticina diz Rubens Antonio Barbosa, presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). “Muitas indústrias quebrariam e o desemprego aumentaria”, completa. Para ele, sem a garantia da UE sobre o fim dos subsídios agrícolas, não haveria uma negociação proveitosa e equilibrada para o Mercosul.
No início do ano passado, o presidente da Delegação do Parlamento Europeu para as relações com o Mercosul, o deputado espanhol Luis Yáñez, afirmou que haviam sido acordados mais de 90% dos pontos do acordo no setor industrial e mais de 80% no setor agrícola. A França e alguns países reticentes com a agricultura do Mercosul e da Argentina, temerosa por sua indústria, eram os maiores obstáculos. Mas Sarti destaca que essa é uma perspectiva apenas da evolução comercial do tratado.
Seria preciso ir além das tarifas, com compromisso de ambos os blocos em ganhar escala de competitividade e multiplicar oportunidades de investimento. Por isso, parcerias em ciência, infraestrutura e energia renovável seriam fundamentais. “Cooperações em tecnologia e convênios de investimento ajudam a diminuir as assimetrias entre os blocos e podem trazer benefícios amplos aos países da região.”
Com informações Agência Brasil e AFP.
Leia mais em AFP Movel.
Devido à destituição de Fernando Lugo da Presidência do Paraguai em junho, a União Europeia anunciou na última semana a suspensão das longas negociações para um acordo de livre comércio com o bloco.
As conversas para a criação do tratado se estendem desde 1995, mas nunca tiveram avanços relevantes. E esse fator pode ser favorável aos países do Mercosul, segundo analistas. A intensa crise europeia e a necessidade da região em aumentar suas exportações abririam espaço para a UE tentar negociar rapidamente um acordo com condições desfavoráveis ao mercado comum sul-americano. Isso seria facilitado também pela fragilidade do Brasil, maior economia da região, devido à perda de competitividade de sua indústria.
Apesar de haver indícios de que um acordo seria esperado para o final de 2012 – prazo agora inviabilizado pela suspensão das conversas até a eleição presidencial paraguaia em 2013 -, as negociações avançavam mais no lado político que econômico. Em mais de 15 anos de tratativas, havia apenas alguns acordos definidos sobre regras para concorrência, defesa comercial, compras governamentais e investimentos, mas nenhuma referência real a comercialização de produtos.
Isso ocorre devido à discordância entre os blocos sobre alguns itens do principal ponto do acordo: a área de livre comércio. Os países do Mercosul querem acesso ao mercado europeu para seus produtos agrícolas e, para isso, pedem o fim dos subsídios que tornam os produtos dos agricultores da Europa mais competitivos. A União Europeia, por outro lado, deseja a liberalização dos mercados do bloco sul-americano a sua produção de bens manufaturados, mas não dá garantias de que cumprirá sua parte no acordo.
Muito pressionado por pequenos produtores agrícolas, o bloco já definiu que não interrompe os subsídios ao setor até 2020. Além disso, os produtores de carne europeus temem a concorrência do produto do Mercosul e estimam uma perda de 25 bilhões de euros caso haja liberalização total no setor. “Facilitar o acesso dos produtos da EU ao Mercosul, sem garantias de que o bloco europeu fará o mesmo sem restrições aos produtos agrícolas da região é arriscado”, defende Fernando Sarti, professor do Instituto de Economia da Unicamp e especialista em Mercosul.
Mas a preocupação quanto às vantagens da liberalização dos mercados dos blocos não é apenas europeia. O Mercosul também dá sinais de temor em expor sua indústria a concorrentes mais eficazes em diversos setores. “Enquanto não houver reformas no custo da energia e infraestrutura, por exemplo, vai ser difícil competir com a UE”, vaticina diz Rubens Antonio Barbosa, presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). “Muitas indústrias quebrariam e o desemprego aumentaria”, completa. Para ele, sem a garantia da UE sobre o fim dos subsídios agrícolas, não haveria uma negociação proveitosa e equilibrada para o Mercosul.
No início do ano passado, o presidente da Delegação do Parlamento Europeu para as relações com o Mercosul, o deputado espanhol Luis Yáñez, afirmou que haviam sido acordados mais de 90% dos pontos do acordo no setor industrial e mais de 80% no setor agrícola. A França e alguns países reticentes com a agricultura do Mercosul e da Argentina, temerosa por sua indústria, eram os maiores obstáculos. Mas Sarti destaca que essa é uma perspectiva apenas da evolução comercial do tratado.
Seria preciso ir além das tarifas, com compromisso de ambos os blocos em ganhar escala de competitividade e multiplicar oportunidades de investimento. Por isso, parcerias em ciência, infraestrutura e energia renovável seriam fundamentais. “Cooperações em tecnologia e convênios de investimento ajudam a diminuir as assimetrias entre os blocos e podem trazer benefícios amplos aos países da região.”
Com informações Agência Brasil e AFP.
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