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‘Sou inocente’, diz à Justiça alemão de 100 anos acusado de crimes nazistas

“Não sei nada a esse respeito”, disse Schutz, que se tornou o réu mais velho a ser julgado por supostos crimes cometidos durante a Guerra

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O alemão Josef Schutz, de 100 anos, ex-guarda do campo de concentração nazista de Sachsenhausen na década de 1940 que está sendo julgado por seus supostos crimes, declarou, diante da corte nesta sexta-feira 8, que é “inocente”.

“Não sei nada a esse respeito”, disse Schutz, que esta semana se tornou o réu mais velho a ser julgado por supostos crimes cometidos durante o nazismo.

Ao ser questionado sobre seu trabalho no campo de concentração de Sachsenhausen, perto de Berlim, durante a Segunda Guerra Mundial, afirmou ser “inocente”.

“Tudo está em frangalhos na minha cabeça”, disse Schutz, que lamentou estar “sozinho” no banco dos réus do tribunal de Brandenburg an der Havel, no leste da Alemanha, onde deve comparecer até o início de janeiro.

Suas declarações foram rapidamente interrompidas por seu advogado, que no dia anterior havia explicado que o réu não falaria sobre o período da Alemanha nazista.

“Tínhamos concordado com a defesa sobre esse procedimento”, protestou o advogado.

Schutz, um ex-cabo da divisão “Totenkopf” das SS, é acusado de “cumplicidade na morte” de 3.518 prisioneiros do campo de concentração de Sachsenhausen, entre 1942 e 1945.

Esta segunda audiência foi dedicada à sua vida antes e depois da Segunda Guerra Mundial.

Juventude em uma fazenda

Tendo chegado sozinho ao tribunal, caminhando com ajuda de um andador, mas com passo relativamente seguro, o réu falou com precisão sobre seu passado, mas sem evocar suas atividades no campo nazista.

Especificamente, ele se lembrou de seu trabalho quando adolescente em uma fazenda da família, na Lituânia, com seus sete irmãos e irmãs e seu subsequente recrutamento para o Exército, em 1938.

Depois da guerra, ele foi transferido para um campo de prisioneiros na Rússia e, depois, estabeleceu-se na Alemanha, em Brandemburgo, região próxima a Berlim.

Trabalhou como agricultor e como chaveiro.

Com cabelos brancos, óculos e estatura mediana, o acusado relembrou os aniversários comemorados junto com filhas e netos e a admiração que sua esposa sentia por ele.

“Ela sempre me dizia: ‘Não há outro homem como você no mundo'”, relatou ele.

O julgamento é realizado em 20 audiências de duas horas, em função da idade do acusado, que ocorrerão até o início de janeiro.

Schutz tinha 21 anos quando iniciou suas funções no campo de concentração. Ele é suspeito de ter atirado em prisioneiros soviéticos, “de ajudar e ser cúmplice em assassinatos sistemáticos” com gás venenoso Zyklon B e de “deter prisioneiros em condições hostis”.

Sobreviventes entre as partes civis

Desde que foi inaugurado, em 1936, até sua libertação por parte dos soviéticos, em 22 de abril de 1945, cerca de 200.000 prisioneiros passaram pelo campo de Sachsenhausen, principalmente opositores políticos, judeus e homossexuais.

Dezenas de milhares deles morreram de exaustão, devido ao trabalho forçado e às cruéis condições de detenção.

Vários sobreviventes de Sachsenhausen se apresentaram como parte civil no julgamento.

Um de seus advogados, Thomas Walther, defendeu na quinta-feira (7) que “algo pode acontecer, talvez um homem assim chegue à conclusão de que, antes de morrer, ele quer se explicar sobre seu passado”.

Depois de um passado marcado por pouca pressão judicial sobre os autores de crimes nazistas, a Alemanha julgou e condenou quatro ex-integrantes da SS nos últimos dez anos, estendendo aos guardas e a outros executores de ordens nazistas a acusação de cumplicidade por assassinato.

O julgamento de Schutz ocorre uma semana após a suspensão do julgamento de Irmgard Furchner, ex-secretária de um campo nazista, cujo julgamento precisou ser adiado após uma tentativa de fuga da ré, de 96 anos.

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