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Sonda indiana pousa na Lua com sucesso em missão espacial histórica

Programa espacial enviou sonda para a região do polo sul lunar, onde acreditam haver uma fonte potencial de água e oxigênio

A Organização Indiana de Pesquisa Espacial (ISRO) mostrando a decolagem do foguete não tripulado Chandrayaan-3. AP - Aijaz Rahi
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A Índia entrou para a história espacial nesta quarta-feira 23 ao pousar com sucesso a sonda Chandrayaan-3 no polo sul da Lua, região onde se acredita haver uma fonte potencial de água e oxigênio. Esta é segunda tentativa de Nova Delhi deste tipo em quatro anos e é um marco para o país mais populoso do mundo.

O foguete pousou na Lua pouco depois das 18h no horário da Índia (9h30 de Brasília), perto do pouco explorado polo sul lunar, o que seria a primeira vez no mundo para um programa espacial. Esta nova tentativa de sucesso do programa espacial indiano surge quatro anos depois de um amargo fracasso, tendo a equipe terrestre perdido contato com a sonda pouco antes da chegada à Lua.

“Esta missão representa, antes de tudo, a chance de lavar a alma após a humilhação de 2019, porque a aterrissagem falhou por perda de comunicação”, declarou Christophe Jaffrélot, autor do livro ‘L’Inde de Modi’ (sem versão em português) e diretor de pesquisa na universidade francesa Science Po, em entrevista à RFI.

A agência espacial indiana lançou o foguete não tripulado em 14 de julho, da principal base espacial do país, localizada no estado de Andhra Pradesh, no sul da Índia. O Chandrayaan-3 marca o ingresso de Nova Delhi no clube fechado daqueles que conseguiram um pouso controlado na Lua, alguns dias depois do fracasso de uma missão russa. A Luna-25, a primeira sonda lançada pela Rússia à Lua desde 1976, falhou no momento do pouso. Apenas a Rússia, os Estados Unidos e a China já conseguiram realizar pousos controlados na superfície lunar.

“Este é o grito de vitória de uma nova Índia”, disse o primeiro-ministro Narendra Modi, que agitou a bandeira indiana enquanto assistia ao pouso na Lua na África do Sul, onde participa da cúpula do Brics.

Orçamento “baixo”

O programa aeroespacial da Índia tem um orçamento relativamente modesto, mas que foi significativamente aumentado desde a sua primeira tentativa de orbitar a Lua em 2008. Esta missão indiana, com um custo de US$ 74,6 milhões (cerca de 370 milhões de reais), segundo a comunicação oficial, muito inferior ao de outros países, compreende uma engenharia espacial comedida.

No contexto da Cúpula do Brics, que acontece esta semana em Joanesburgo, Jaffrélot explica que a Índia tem menos vantagens financeiras para crescimento do setor espacial em relação aos outros países e que por isso “a Índia procura aparecer como uma potência emergente, em particular para ocidentais que procuram apoiá-la para fazer contraponto à China e à Rússia”, explicou o diretor.

De acordo com especialistas da indústria, a Índia consegue manter os custos baixos, replicando e adaptando a tecnologia espacial existente para os seus próprios fins, graças, em parte, à abundância de engenheiros altamente qualificados que recebem muito menos do que os profissionais estrangeiros.

A tentativa anterior de aterrissagem na Lua, em 2019, que coincidiu com o 50º aniversário da primeira aterrissagem na Lua do americano Neil Armstrong, custou 140 milhões de dólares (124 milhões de euros), quase o dobro do custo da missão atual.

O ex-chefe espacial da Índia, Kailasavadivoo Sivan afirma que os esforços da Índia para explorar o polo sul lunar representaria uma contribuição “muito, muito importante” para o conhecimento científico.

Além disso, a Índia é o primeiro país asiático a colocar um satélite na órbita de Marte, em 2014, e possui planos de lançar uma missão tripulada de três dias na órbita da Terra no próximo ano.

Chandrayaan-3: mais robustez

Desenvolvido pela Organização Indiana de Pesquisa Espacial (ISRO), a Chandrayaan-3 inclui um módulo de pouso chamado Vikram, que significa “valor” em sânscrito, e um robô móvel, chamado Pragyan (“sabedoria” em sânscrito) para explorar a superfície da Lua. A sonda Chandrayaan-3, lançada há seis semanas, foi mais lenta para chegar à Lua do que as missões tripuladas Apollo dos EUA das décadas de 1960 e 1970, que chegaram lá em poucos dias.

O foguete indiano é, na verdade, muito menos potente que o Saturn V, o foguete do programa lunar americano Apollo. Ele teve que fazer cinco ou seis órbitas elípticas ao redor da Terra para ganhar velocidade, antes de ser enviado numa trajetória lunar que durou um mês.

Vikram se separou de seu módulo de propulsão na semana passada e tem transmitido imagens da superfície da Lua desde que entrou em órbita lunar em 5 de agosto.

De acordo com Kailasavadivoo Sivan, a ISRO fez correções após a falha há quatro anos. “Chandrayaan-3 fará isso com mais robustez”, acrescentou ele, “estamos confiantes, esperamos que tudo corra bem”, disse ainda na segunda-feira, dois dias antes do pouso de sucesso.

(Com AFP)

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