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Sob pressão de Israel, potências retomam diálogo com o Irã

Desafio é encontrar uma solução capaz de ser apresentada como vitória tanto por Israel quanto por Irã

Amano, da AIEA, e Jalili, o negociador iraniano, dão entrevista em Teerã. Hamed Jafarnejad / AFP
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Os cinco integrantes permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas (China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia) e a Alemanha retomaram nesta quarta-feira 23, em Bagdá, capital do Iraque, as negociações com o governo do Irã para tentar acabar com o impasse a respeito do programa atômico iraniano. O diálogo, previsto para continuar até quinta-feira 24, se dará em meio a pressões de Israel para neutralizar o ímpeto nuclear de seu maior rival e à tentativa do Irã de aliviar as pressões econômicas impostas pela comunidade internacional. Por enquanto, os acontecimentos indicam que um desfecho positivo das negociações, se houver, estará no meio do caminho entre as vontades de Israel e Irã.

Nesta terça-feira 22, o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o japonês Yukiya Amano, voltou a Viena (Áustria) após a visitar Teerã e disse estar muito próximo de assinar um acordo com o principal negociador iraniano, Said Jalili, para que sua agência, ligada à ONU, retome as inspeções nas instalações nucleares do Irã. “Jalili e eu decidimos chegar a um acordo sobre um enfoque estrutural para terminar com as incertezas sobre a natureza do programa nuclear iraniano”, disse Amano. “Jalili afirmou que as divergências que existem não serão um obstáculo ao acordo”, completou Amano. Amano não especificou essas divergências, mas as duas partes podem divergir a respeito de quais locais serão verificados. A AIEA tem um interesse especial em saber o que se passa em Parchin, cidade vizinha a Teerã. Há suspeitas de que o Irã tenha testado lá, secretamente, partes de uma possível arma nuclear.

Oficialmente, as negociações travadas pela AIEA e o Irã não têm ligação com o diálogo que será iniciado nesta quarta no Iraque entre o Irã e o grupo de seis países conhecido como P5+1. Mas há influência. Se as potências chegarem a Bagdá sabendo que o Irã fez concessões para o órgão de vigilância da ONU, podem ter boa vontade. O sucesso das negociações, entretanto, depende principalmente de quanto o Irã estará disposto a ceder.

Atualmente, o Irã é capaz de enriquecer urânio até 20% de pureza. Essa margem é inferior aos 90% necessários para fabricar uma bomba nuclear, mas o fato de ter chegado até ela indica que o Irã tem capacidade técnica para avançar. O Irã diz desejar enriquecer o urânio para utilizar em reatores voltados para a geração de energia elétrica e tratamentos médicos, mas as potências desconfiam desta versão. Em Bagdá, o grupo P5+1 deve oferecer ao Irã a possibilidade de enriquecer urânio até uma margem muito inferior aos 20%, mas ainda assim capaz de ser usada para fins civis. Em troca, as duras sanções econômicas impostas a pessoas e empresas iranianas, incluindo a imprescindível indústria de petróleo e o setor bancário, podem ser aliviadas.

Há dúvidas quanto à capacidade do governo do Irã de aceitar essa proposta. Mesmo setores reformistas da política iraniana, hoje na oposição, são favoráveis ao programa nuclear e afirmam que as sanções internacionais consistem em uma violação da soberania iraniana.

A pressão de Israel

Uma dificuldade que as potências devem ter para fechar um acordo é a pressão que o governo de Israel realiza. O governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu considera o programa nuclear do Irã uma ameaça existencial ao Estado judeu e já ameaçou diversas vezes atacar as instalações militares iranianas para contê-la. Com o diálogo internacional em andamento, esta possibilidade está paralisada, mas nem de longe descartada.

Nesta terça-feira, o governo de Israel disse estar “bastante cético” quanto ao avanço anunciado pela AIEA e lembrou que o Irã já violou diversos acertos semelhantes ao longo do tempo. Na segunda-feira, Netanyahu pediu que as potências não se deixem ser “enroladas” por Teerã e consigam o objetivo mais importante em Bagdá: fazer com que o Irã pare de enriquecer urânio de uma vez por todas. Israel teme que, nas negociações atuais, o Irã esteja apenas tentando ganhar tempo para, secretamente, fazer avançar seu programa nuclear. Uma impressão semelhante tem o Senado dos Estados Unidos, que aprovou por unanimidade na segunda-feira uma série de novas sanções ao Irã, reforçando as punições lançadas pela Casa Branca em dezembro. Foi uma iniciativa tomada um tanto fora de hora, tendo em vista que, nesta semana, as potências estão justamente oferecendo a redução das sanções ao Irã.

A postura de Israel pode ser apenas um jogo de cena para pressionar os negociadores internacionais. No domingo, o jornal israelense Haaretz publicou reportagem afirmando que o governo de Israel pode ser “mais flexível do que parece” e aceitaria a manutenção da capacidade de enriquecimento de urânio até 3,5% no Irã. O jornal citou um documento escrito pelo ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, e afirmou que essa posição flexível teria sido passada para os negociadores dos Estados Unidos.

A dificuldade das negociações é que tanto Israel quanto o Irã precisam de um acordo capaz de ser apresentado em casa como uma vitória. Netanyahu, um defensor do ataque ao Irã, só vai tirar essa opção da mesa se puder dizer a seus eleitores que o programa nuclear do Irã foi contido de uma vez por todas. E Mahmoud Ahmadinejad precisará explicar aos donos do poder no Irã que, num possível acordo, a soberania do Irã não foi violada. Não será fácil.

Com informações da AFP

Os cinco integrantes permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas (China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia) e a Alemanha retomaram nesta quarta-feira 23, em Bagdá, capital do Iraque, as negociações com o governo do Irã para tentar acabar com o impasse a respeito do programa atômico iraniano. O diálogo, previsto para continuar até quinta-feira 24, se dará em meio a pressões de Israel para neutralizar o ímpeto nuclear de seu maior rival e à tentativa do Irã de aliviar as pressões econômicas impostas pela comunidade internacional. Por enquanto, os acontecimentos indicam que um desfecho positivo das negociações, se houver, estará no meio do caminho entre as vontades de Israel e Irã.

Nesta terça-feira 22, o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o japonês Yukiya Amano, voltou a Viena (Áustria) após a visitar Teerã e disse estar muito próximo de assinar um acordo com o principal negociador iraniano, Said Jalili, para que sua agência, ligada à ONU, retome as inspeções nas instalações nucleares do Irã. “Jalili e eu decidimos chegar a um acordo sobre um enfoque estrutural para terminar com as incertezas sobre a natureza do programa nuclear iraniano”, disse Amano. “Jalili afirmou que as divergências que existem não serão um obstáculo ao acordo”, completou Amano. Amano não especificou essas divergências, mas as duas partes podem divergir a respeito de quais locais serão verificados. A AIEA tem um interesse especial em saber o que se passa em Parchin, cidade vizinha a Teerã. Há suspeitas de que o Irã tenha testado lá, secretamente, partes de uma possível arma nuclear.

Oficialmente, as negociações travadas pela AIEA e o Irã não têm ligação com o diálogo que será iniciado nesta quarta no Iraque entre o Irã e o grupo de seis países conhecido como P5+1. Mas há influência. Se as potências chegarem a Bagdá sabendo que o Irã fez concessões para o órgão de vigilância da ONU, podem ter boa vontade. O sucesso das negociações, entretanto, depende principalmente de quanto o Irã estará disposto a ceder.

Atualmente, o Irã é capaz de enriquecer urânio até 20% de pureza. Essa margem é inferior aos 90% necessários para fabricar uma bomba nuclear, mas o fato de ter chegado até ela indica que o Irã tem capacidade técnica para avançar. O Irã diz desejar enriquecer o urânio para utilizar em reatores voltados para a geração de energia elétrica e tratamentos médicos, mas as potências desconfiam desta versão. Em Bagdá, o grupo P5+1 deve oferecer ao Irã a possibilidade de enriquecer urânio até uma margem muito inferior aos 20%, mas ainda assim capaz de ser usada para fins civis. Em troca, as duras sanções econômicas impostas a pessoas e empresas iranianas, incluindo a imprescindível indústria de petróleo e o setor bancário, podem ser aliviadas.

Há dúvidas quanto à capacidade do governo do Irã de aceitar essa proposta. Mesmo setores reformistas da política iraniana, hoje na oposição, são favoráveis ao programa nuclear e afirmam que as sanções internacionais consistem em uma violação da soberania iraniana.

A pressão de Israel

Uma dificuldade que as potências devem ter para fechar um acordo é a pressão que o governo de Israel realiza. O governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu considera o programa nuclear do Irã uma ameaça existencial ao Estado judeu e já ameaçou diversas vezes atacar as instalações militares iranianas para contê-la. Com o diálogo internacional em andamento, esta possibilidade está paralisada, mas nem de longe descartada.

Nesta terça-feira, o governo de Israel disse estar “bastante cético” quanto ao avanço anunciado pela AIEA e lembrou que o Irã já violou diversos acertos semelhantes ao longo do tempo. Na segunda-feira, Netanyahu pediu que as potências não se deixem ser “enroladas” por Teerã e consigam o objetivo mais importante em Bagdá: fazer com que o Irã pare de enriquecer urânio de uma vez por todas. Israel teme que, nas negociações atuais, o Irã esteja apenas tentando ganhar tempo para, secretamente, fazer avançar seu programa nuclear. Uma impressão semelhante tem o Senado dos Estados Unidos, que aprovou por unanimidade na segunda-feira uma série de novas sanções ao Irã, reforçando as punições lançadas pela Casa Branca em dezembro. Foi uma iniciativa tomada um tanto fora de hora, tendo em vista que, nesta semana, as potências estão justamente oferecendo a redução das sanções ao Irã.

A postura de Israel pode ser apenas um jogo de cena para pressionar os negociadores internacionais. No domingo, o jornal israelense Haaretz publicou reportagem afirmando que o governo de Israel pode ser “mais flexível do que parece” e aceitaria a manutenção da capacidade de enriquecimento de urânio até 3,5% no Irã. O jornal citou um documento escrito pelo ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, e afirmou que essa posição flexível teria sido passada para os negociadores dos Estados Unidos.

A dificuldade das negociações é que tanto Israel quanto o Irã precisam de um acordo capaz de ser apresentado em casa como uma vitória. Netanyahu, um defensor do ataque ao Irã, só vai tirar essa opção da mesa se puder dizer a seus eleitores que o programa nuclear do Irã foi contido de uma vez por todas. E Mahmoud Ahmadinejad precisará explicar aos donos do poder no Irã que, num possível acordo, a soberania do Irã não foi violada. Não será fácil.

Com informações da AFP

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