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Sem gás nem madeira, crianças de Gaza coletam lixo para acender fogueiras e cozinhar

Botijões de gás tornaram-se uma raridade, e a madeira também custa caro para os moradores que vivem há meses na precariedade

Sem gás nem madeira, crianças de Gaza coletam lixo para acender fogueiras e cozinhar
Sem gás nem madeira, crianças de Gaza coletam lixo para acender fogueiras e cozinhar
Além da fome, palestinos cercados por Israel também convivem com a falta de acesso à água. Foto: Bashar TALEB / AFP
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A catástrofe humanitária continua em Gaza. Apesar do cessar-fogo concluído há um mês, Israel mantém o bloqueio ao enclave, permitindo a entrada de ajuda humanitária apenas a conta-gotas e mantendo a população na miséria. Botijões de gás tornaram-se uma raridade, e a madeira também custa caro para os moradores que vivem há meses na precariedade. Para garantir comida à família, muitas crianças palestinas saem todos os dias em busca de qualquer material que possa alimentar uma fogueira e permitir que se cozinhe.

O campo de refugiados de Maghazi, no centro da faixa de Gaza, abriga famílias vindas do norte do território. Na entrada, uma espécie de lixão improvisado se formou. É de lá que sai Saleh Wadiya, 10 anos, puxando um carrinho cheio de detritos.

“Eu venho aqui todos os dias. Coleto tudo o que pode alimentar um fogo para fazer pão. Nós não temos dinheiro suficiente para comprar madeira”, conta o menino. “Então, todos os dias passo pelo menos uma hora aqui antes de voltar para nossa tenda, para que minha mãe possa nos fazer comida ou chá.”

Fajr Aldaya, 13 anos, também percorre o lixão à procura de objetos inflamáveis. “É preciso cerca de US$ 15 por dia (R$ 80 na cotação do dia) para manter o fogo com madeira. Nós não temos dinheiro para isso”, desabafa. “Antes, meu pai vendia carros na cidade de Gaza. Ele tinha seu próprio carro, muito bonito. Mas tudo se foi com a guerra. Nós também tínhamos uma casa e um terreno. A casa foi destruída e o terreno ficou do outro lado da linha amarela”, lembra o adolescente.

A chamada linha amarela hoje divide o enclave em duas partes e marca a zona da Faixa de Gaza sob controle israelense desde o início da trégua com o movimento islamista palestino Hamas, em 10 de outubro.

Crianças mortas por drones ao buscar madeira

Há dois dias, dois meninos de 8 e 10 anos foram mortos por drones israelenses. Segundo o tio, Alaa Abou Assi, eles haviam ultrapassado essa linha simbólica justamente para buscar madeira. “Nós fomos procurá-los e os encontramos em pedaços”, relatou à AFP.

O Exército israelense afirma apenas que soldados “identificaram dois suspeitos que haviam cruzado a linha amarela”. Segundo os militares, os suspeitos “se aproximaram das tropas, representando uma ameaça imediata”.

“Eles eram inocentes, não estavam carregando nenhum tipo de bomba ou foguetes”, disse o tio dos garotos.

Desde a entrada em vigor do frágil cessar-fogo, vários incidentes mortais ocorreram envolvendo forças israelenses atirando contra pessoas na região da linha amarela. O cessar-fogo encerrou dois anos de guerra em Gaza, iniciada após o ataque sem precedentes do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, mas a situação da população permanece instável.

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