Mundo

Saúde, economia e religião determinam voto de brasileiros na Flórida

Dados do Consulado do Brasil na Flórida apontam cerca de 300 mil imigrantes brasileiros no Estado

Crédito: Michael Ciaglo/AFP
Apoie Siga-nos no

Com seu clima quente, praias e muitas oportunidades de trabalho, a Flórida se tornou há várias décadas o destino preferido de muitos imigrantes brasileiros. Segundo dados do consulado do Brasil na Flórida, são cerca de 300 mil no Estado, e boa parte deles adquiriu a cidadania americana e tem direito a votar nas eleições. Nessa comunidade, as opiniões políticas divergem, assim como os motivos que orientam a escolha por Donald Trump ou Joe Biden.

A cearense Milena Silva, 27 anos e que vive há oito anos nos Estados Unidos, diz ter confirmado seu perfil conservador nos Estados Unidos. Gerente de um restaurante brasileiro na região central de Miami, ela votou pela primeira vez por antecipação e não hesitou em optar por Donald Trump, apesar de seu caráter polêmico. “Eu tenho esse lado conservador desde adolescente mas não me posicionava. Aprendi aqui. É verdade que ele é polêmico, mas é o que tem a melhor política para os Estados Unidos”

Pastor da Igreja Batista sueca, o goiano Leidmar Cesar Lopes é presidente da Associação dos Pastores Evangélicos Brasileiros dos Estados Unidos. O grupo, fundado por ele há 24 anos, tem 1.200 pastores de 15 denominações diversas, como Batista, Assembleia de Deus, Presbiteriana, entre outras igrejas neopentecostais.

Peso eleitoral das igrejas evangélicas

Segundo o pastor, as Igrejas evangélicas têm muito peso eleitoral, pela forte influência em suas comunidades por exerceram um papel social, além de espiritual. Os pastores são orientados a se posicionarem politicamente e influenciarem os fiéis.

Lopes, que já esteve em vários comícios e atividades até na Casa Branca com o atual presidente americano, explica a preferência dos evangélicos por Donald Trump. “O voto dos evangélicos tem um peso enorme. No momento de votar, o povo evangélico não pode se acovardar por defender seus princípios e valores. Verdadeiramente, o candidato que tem apontado para todos os valores e não somente agora na campanha, mas ao longo dos últimos quatro anos, é o presidente atual dos Estados Unidos, Donald Trump. Ele tem feito um trabalho excepcional, não apenas para a comunidade evangélica mas para toda a sociedade americana”.

André Fernando Ferreira, dono de restaurante brasileiro também decidiu votar em Trump, como boa parte da comunidade brasileira, segundo ele. “Eu votei em Trump, e a tendência da comunidade brasileira me parece mais para o Trump, 60% para ele e 40% para o Biden. Eles pensam assim devido à economia, ao emprego, mas agora esta ficando difícil para ele, principalmente por causa da briga política da ajuda financeira para os Estados. Ele poderia ter liberado o dinheiro, mas por causa de uma briga política está deixando a população sofrer e os microempresários também”.

Republicano arrependido

Nesta eleição, há também brasileiros que historicamente votam para o Partido Republicano, mas, depois de quatro anos de mandato do presidente Trump, recuaram nesta eleição. O empresário brasileiro Douglas Heiser, que vivem há mais de três décadas nos Estados Unidos, fundou 16 anos atrás o clube republicano brasileiro. Mas decidiu este ano, não votar em Trump nesta eleição.

“De umas décadas e anos para cá, ser republicano significa em boa parte compactuar com essa questão de direitos humanos. Então é uma coisa que já não me dá prazer de dizer que sou republicano. Muitas pessoas não entendem que sou republicano pela maneira que é conduzida a política econômica, diretos em favor da vida como o “pro-life”, uma série de questões jurídicas que são decididas na Suprema Corte. Sou republicano por esse lado. Mas o meu medo de falar que sou republicano é que eu não respeito direitos humanos, que sou contra imigrantes, contra negros, essa maneira agressiva que o presidente atual tem. Então isso passou a ser uma vergonha do meu ponto de vista, que supera as coisas boas que o Partido Republicano se construiu ao longo da história”, diz.

“O escolhido foi o presidente que leva uma camada da sociedade à histeria com essas bravatas que se considera de extrema direita. Eu não sou muito feliz com isso, não.”

Obamacare traz votos para Biden

A empresaria brasileira Valnice Silva, de 41 anos, vive há 27 nos Estados Unidos. Nesta terceira eleição presidencial, ela, que se diz independente e não é inscrita em nenhum partido, optou pelo democrata Joe Biden e por vários motivos.

“De duas em duas semanas o presidente vem prometendo liberar seu plano de saúde, porque ele quer acabar com o chamado popularmente de Obamacare. Há quatro anos que estamos esperando esse plano e ele não sai. Em meio de uma pandemia, eliminar um plano de saúde que cobre mais de 20 milhões de pessoas, é no mínimo cruel, desumano mesmo. Como mulher, nosso plano de saúde antigamente era mais caro porque eu poderia precisar de um pré-natal, engravidar, ter o parto pago. Essas coisas que as pessoas não percebem”, lamenta a empresária.

“Eu não entendo esses brasileiros que chegam aqui e tentam igualar o Partido Democrata ao socialismo ou ao comunismo. Isso é a coisa mais louca que eu já vi na minha vida. Eu estudei aqui, me formei aqui. Eu queria que alguém me mostrasse uma ideia, um plano que seria comunista ou socialista”, afirla Valnice.

“Respeito aos direitos individuais”

Aloysio Vasconcellos, fundador da Brazilian International Fondation, de promoção do comércio brasileiro, vive há mais de 40 anos nos Estados Unidos, e coloca todas as suas esperanças de uma mudança no país com a eleição de Joe Biden

“Vou votar em Joe Biden, primeiramente por sua integridade e experiência na vida política norte-americana. Por seus posicionamentos, sempre coerentes com uma base político-filosófica que inclui a liberdade de expressão e o bem comum como objetivos finais de um processo político. Respeito indiscutível e claro aos direitos individuais, aborto, opções sexuais, práticas religiosas, origem racial, à ordem e ao respeito institucional. O fato de ser originário de uma família de baixa renda e ter-se elevado, social e economicamente, a um nível superior, demonstram perseverança e determinismo, em grande parte refletidos em sua carreira, sempre defendendo princípios e o bem-estar de todos, assim ratificando seus objetivos e propósitos de reforçar e contribuir, qualitativamente, ao bem estar da sociedade”, analisa Vasconcellos.

Independentemente do vencedor da eleição, os brasileiros sabem que vivem um momento histórico, como lembra o empresário paraibano, Jaciel Santos. “Essa disputa ombro a ombro, até o final, até a linha de chegada, isso é bom; é tenso, mas faz parte da democracia”.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar