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Romney pode ganhar, mas a influência de Obama continua forte

Pesquisas sugerem que os republicanos estão avançando, mas poucos notaram como o atual presidente capturou o coração do país

“Veja bem, se você é bem-sucedido, não conseguiu isso sozinho. Quando temos êxito, ele se deve a nossa iniciativa individual, mas também porque fizemos as coisas em conjunto." Foto: Nicholas Kamm/AFP
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Por Michael Cohen

Ultimamente há um rumor palpável nos enclaves liberais de todos os Estados Unidos. Pode-se ouvi-lo no Upper West Side da cidade de Nova York, no Hyde Park em Chicago e em cidades universitárias de Berkeley (Califórnia) a Eugene (Oregon). É o nítido burburinho de liberais enlouquecidos com a possibilidade de Barack Obama perder em novembro.

Não é um fenômeno novo; o pânico eleitoral liberal começou em novembro de 2010, quando os republicanos recuperaram a Câmara dos Deputados e acumularam poder durante a crise da dívida no ano passado. As coisas se acalmaram durante alguns meses, e então veio uma série de pesquisas de opinião pública sugerindo que a corrida presidencial entre Obama e Romney estava mais apertada.

Em particular, uma pesquisa da CBS/New York Times mostrou Romney com uma vantagem de 3 pontos. Os seguidores do presidente não podiam mais ter plena confiança de que seu herói derrotaria o adversário republicano (opinião mantida pela maioria dos americanos, que, por uma margem de 20 pontos, acreditam na vitória de Obama). Memórias esmagadoras de quase vitórias em 2000 e 2004 pairavam na mente dos eleitores de tendência esquerdista.

Deve-se notar primeiramente que, faltando mais de cinco meses para a eleição, a maioria dos americanos mal presta atenção na disputa. As pesquisas até agora podem dar uma sensação geral do rumo da corrida, mas dificilmente são uma previsão. Vale a pena lembrar que em junho de 1992 o líder nas pesquisas nacionais (e até no colégio eleitoral) era o candidato independente Ross Perot. Portanto, muita coisa pode mudar entre hoje e novembro.

Considerando como a política americana esteve dividida equitativamente nos últimos 12 anos, a eleição de 2012 sempre seria apertada e a recuperação de Romney nas pesquisas é um retorno natural à média.

Com o fim da tumultuada batalha de Romney nas primárias, os republicanos e os independentes de inclinação republicana uniram-se em torno de sua candidatura. Enquanto isso, as constantes más notícias econômicas impedem que Obama tenha qualquer tipo de melhora política. Seus índices de aprovação continuam relativamente estáveis, mas ainda abaixo de 50%.

O fato de Obama estar pescoço a pescoço com Romney é o que talvez devesse ser mais chocante. O histórico dos presidentes que lutam contra o alto desemprego, um crescimento econômico lento e um eleitorado majoritariamente convencido de que o país está no caminho errado, em geral, não é bom. Na verdade, são presidentes de um só mandato. Mas a capacidade de Obama manter a cabeça fora da água contra Romney é um sinal de seus índices de preferência incomumente altos e das marcas pessoais de Romney que estão melhorando, mas ainda são pálidas. Mas qualquer um que pensou que Obama ganharia com facilidade estava enganado. E com minas terrestres pelo caminho até novembro, como uma potencial decisão da Suprema Corte que poderá aniquilar sua principal realização doméstica (no sistema de saúde) e a crise financeira na Europa que poderá eventualmente infectar os Estados Unidos, o trajeto poderá não ser fácil para o presidente.

Ainda assim, nada disso significa que está na hora de os liberais começarem a procurar casas para alugar no Canadá. Na verdade, o único lugar onde Obama parece ter uma espécie de vantagem política é o único que realmente importa — o colégio eleitoral. Para os leitores não familiarizados com o colégio eleitoral, é uma invenção dos Pais Fundadores dos EUA que torna a democracia americana confusa, complicada e injusta. Em vez de simplesmente contar todos os votos e dar a presidência a quem receber mais, os candidatos devem ganhar nos estados e o número resultante de seus votos eleitorais (é por isso, aliás, que Al Gore, que teve 500 mil votos a mais que George W. Bush em 2000, acabou fazendo documentários… e os EUA invadiram o Iraque).

Em 2000, o principal campo de batalha foi a Flórida. Mas não foi o único estado com empate: lugares como Wisconsin (onde Gore venceu por 5 mil votos), Iowa (onde ganhou por 4 mil), Novo México (apenas 500) foram incrivelmente competitivos. Mesmo em estados tradicionalmente liberais, como Minnesota e Oregon, Al Gore ganhou por poucos pontos percentuais. Em 2004 o mapa foi notavelmente semelhante — somente New Hampshire, Novo México e Iowa mudaram de campo, e enquanto John Kerry ganhou em muitos dos mesmos estados que Al Gore, o fez por margens igualmente estreitas.

Mas em 2008 as coisas mudaram drasticamente. Estados que já foram altamente competitivos, como Wisconsin, Michigan e Nevada, passaram decididamente para o lado democrata; estados que eram constantemente oscilantes, como Flórida e Ohio, deram a vitória a Obama, e até estados como Virgínia e Carolina do Norte, que mal apareciam em seus radares em 2004, tornaram-se democratas. Parte disso foi em função da ruptura da identidade política dos republicanos, mas também em função do próprio Obama e de seu apelo aos negros, hispânicos e brancos de instrução superior. Esse novo mapa eleitoral foi um reflexo da coalizão democrata que ele desejava criar.

De maneira inversa, para os republicanos o mapa eleitoral continua perturbadoramente estático. Desde 2001 o número de estados republicanos sólidos ou de tendência republicana em geral não mudou — e nenhum estado em que até Kerry ganhou em 2004, exceto talvez New Hampshire, Wisconsin ou Pensilvânia, é considerado um alvo republicano este ano.

Com a advertência de que só é possível interpretar até aí as pesquisas feitas cinco meses antes da eleição, Obama goza de uma pequena mas notável vantagem no colégio eleitoral. Segundo uma avaliação recente do site RealClearPolitics, Obama tem 227 votos eleitorais firmes ou “inclinados”, enquanto Romney tem 170. Combinados, representam 39 dos 50 estados, mais o Distrito de Columbia (Washington). São lugares onde a maioria dos moradores ouvirão falar mais na eleição do que a viverão em primeira mão, já que os candidatos provavelmente só farão uma aparição rápida neles.

Dos outros 11 estados, Obama ou está liderando ou empatado em nove. Para Romney tornar-se presidente, precisa conquistar a maioria desses estados indecisos, não apenas alvos perenes como Flórida e Ohio, mas também Carolina do Norte e Virgínia (lugares onde Obama lidera ou está empatado). De modo surpreendente, se ele vencer nesses quatro estados ainda poderá perder a eleição. Na verdade, para Romney é extremamente difícil construir um cenário onde ele ganhe a eleição se perder na Flórida. A não ser que haja uma queda livre eleitoral de Obama, lugares que eram altamente competitivos como Wisconsin, Minnesota, Novo México, Michigan e Nevada provavelmente não serão muito disputados. Afinal, o que isso significa para a eleição é que há maior probabilidade de que a batalha seja travada em terreno muito favorável ao presidente.

Nada disso quer dizer que Obama ganhará no final; a eleição presidencial deste ano talvez tenha mais variáveis do que qualquer outra na história recente. Mas ainda não é hora de os liberais rumarem para as colinas.

Leia mais em guardian.co.uk

Por Michael Cohen

Ultimamente há um rumor palpável nos enclaves liberais de todos os Estados Unidos. Pode-se ouvi-lo no Upper West Side da cidade de Nova York, no Hyde Park em Chicago e em cidades universitárias de Berkeley (Califórnia) a Eugene (Oregon). É o nítido burburinho de liberais enlouquecidos com a possibilidade de Barack Obama perder em novembro.

Não é um fenômeno novo; o pânico eleitoral liberal começou em novembro de 2010, quando os republicanos recuperaram a Câmara dos Deputados e acumularam poder durante a crise da dívida no ano passado. As coisas se acalmaram durante alguns meses, e então veio uma série de pesquisas de opinião pública sugerindo que a corrida presidencial entre Obama e Romney estava mais apertada.

Em particular, uma pesquisa da CBS/New York Times mostrou Romney com uma vantagem de 3 pontos. Os seguidores do presidente não podiam mais ter plena confiança de que seu herói derrotaria o adversário republicano (opinião mantida pela maioria dos americanos, que, por uma margem de 20 pontos, acreditam na vitória de Obama). Memórias esmagadoras de quase vitórias em 2000 e 2004 pairavam na mente dos eleitores de tendência esquerdista.

Deve-se notar primeiramente que, faltando mais de cinco meses para a eleição, a maioria dos americanos mal presta atenção na disputa. As pesquisas até agora podem dar uma sensação geral do rumo da corrida, mas dificilmente são uma previsão. Vale a pena lembrar que em junho de 1992 o líder nas pesquisas nacionais (e até no colégio eleitoral) era o candidato independente Ross Perot. Portanto, muita coisa pode mudar entre hoje e novembro.

Considerando como a política americana esteve dividida equitativamente nos últimos 12 anos, a eleição de 2012 sempre seria apertada e a recuperação de Romney nas pesquisas é um retorno natural à média.

Com o fim da tumultuada batalha de Romney nas primárias, os republicanos e os independentes de inclinação republicana uniram-se em torno de sua candidatura. Enquanto isso, as constantes más notícias econômicas impedem que Obama tenha qualquer tipo de melhora política. Seus índices de aprovação continuam relativamente estáveis, mas ainda abaixo de 50%.

O fato de Obama estar pescoço a pescoço com Romney é o que talvez devesse ser mais chocante. O histórico dos presidentes que lutam contra o alto desemprego, um crescimento econômico lento e um eleitorado majoritariamente convencido de que o país está no caminho errado, em geral, não é bom. Na verdade, são presidentes de um só mandato. Mas a capacidade de Obama manter a cabeça fora da água contra Romney é um sinal de seus índices de preferência incomumente altos e das marcas pessoais de Romney que estão melhorando, mas ainda são pálidas. Mas qualquer um que pensou que Obama ganharia com facilidade estava enganado. E com minas terrestres pelo caminho até novembro, como uma potencial decisão da Suprema Corte que poderá aniquilar sua principal realização doméstica (no sistema de saúde) e a crise financeira na Europa que poderá eventualmente infectar os Estados Unidos, o trajeto poderá não ser fácil para o presidente.

Ainda assim, nada disso significa que está na hora de os liberais começarem a procurar casas para alugar no Canadá. Na verdade, o único lugar onde Obama parece ter uma espécie de vantagem política é o único que realmente importa — o colégio eleitoral. Para os leitores não familiarizados com o colégio eleitoral, é uma invenção dos Pais Fundadores dos EUA que torna a democracia americana confusa, complicada e injusta. Em vez de simplesmente contar todos os votos e dar a presidência a quem receber mais, os candidatos devem ganhar nos estados e o número resultante de seus votos eleitorais (é por isso, aliás, que Al Gore, que teve 500 mil votos a mais que George W. Bush em 2000, acabou fazendo documentários… e os EUA invadiram o Iraque).

Em 2000, o principal campo de batalha foi a Flórida. Mas não foi o único estado com empate: lugares como Wisconsin (onde Gore venceu por 5 mil votos), Iowa (onde ganhou por 4 mil), Novo México (apenas 500) foram incrivelmente competitivos. Mesmo em estados tradicionalmente liberais, como Minnesota e Oregon, Al Gore ganhou por poucos pontos percentuais. Em 2004 o mapa foi notavelmente semelhante — somente New Hampshire, Novo México e Iowa mudaram de campo, e enquanto John Kerry ganhou em muitos dos mesmos estados que Al Gore, o fez por margens igualmente estreitas.

Mas em 2008 as coisas mudaram drasticamente. Estados que já foram altamente competitivos, como Wisconsin, Michigan e Nevada, passaram decididamente para o lado democrata; estados que eram constantemente oscilantes, como Flórida e Ohio, deram a vitória a Obama, e até estados como Virgínia e Carolina do Norte, que mal apareciam em seus radares em 2004, tornaram-se democratas. Parte disso foi em função da ruptura da identidade política dos republicanos, mas também em função do próprio Obama e de seu apelo aos negros, hispânicos e brancos de instrução superior. Esse novo mapa eleitoral foi um reflexo da coalizão democrata que ele desejava criar.

De maneira inversa, para os republicanos o mapa eleitoral continua perturbadoramente estático. Desde 2001 o número de estados republicanos sólidos ou de tendência republicana em geral não mudou — e nenhum estado em que até Kerry ganhou em 2004, exceto talvez New Hampshire, Wisconsin ou Pensilvânia, é considerado um alvo republicano este ano.

Com a advertência de que só é possível interpretar até aí as pesquisas feitas cinco meses antes da eleição, Obama goza de uma pequena mas notável vantagem no colégio eleitoral. Segundo uma avaliação recente do site RealClearPolitics, Obama tem 227 votos eleitorais firmes ou “inclinados”, enquanto Romney tem 170. Combinados, representam 39 dos 50 estados, mais o Distrito de Columbia (Washington). São lugares onde a maioria dos moradores ouvirão falar mais na eleição do que a viverão em primeira mão, já que os candidatos provavelmente só farão uma aparição rápida neles.

Dos outros 11 estados, Obama ou está liderando ou empatado em nove. Para Romney tornar-se presidente, precisa conquistar a maioria desses estados indecisos, não apenas alvos perenes como Flórida e Ohio, mas também Carolina do Norte e Virgínia (lugares onde Obama lidera ou está empatado). De modo surpreendente, se ele vencer nesses quatro estados ainda poderá perder a eleição. Na verdade, para Romney é extremamente difícil construir um cenário onde ele ganhe a eleição se perder na Flórida. A não ser que haja uma queda livre eleitoral de Obama, lugares que eram altamente competitivos como Wisconsin, Minnesota, Novo México, Michigan e Nevada provavelmente não serão muito disputados. Afinal, o que isso significa para a eleição é que há maior probabilidade de que a batalha seja travada em terreno muito favorável ao presidente.

Nada disso quer dizer que Obama ganhará no final; a eleição presidencial deste ano talvez tenha mais variáveis do que qualquer outra na história recente. Mas ainda não é hora de os liberais rumarem para as colinas.

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