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“Rolezeiros” coreanos entram em conflito com o McDonald’s em NY

No bairro do Queens, a polícia é chamada frequentemente para mediar as rusgas entre o grupo de idosos e a rede de fast-food

A polêmica na capa do NY Times
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De Nova York

O rolê do Flushing periga ser proibido. Localizado na parte setentrional do distrito do Queens, conhecido pela imigração chinesa e por restaurantes étnicos elogiados por gente como o chef Anthony Bourdain, o bairro de pouco mais de 220 mil habitantes foi parar na primeira página do site do New York Times no fim da noite de terça-feira por conta da batalha entre o McDonald’s local e um grupo de moradores de origem coreana, formado por respeitáveis senhores e senhoras na melhor idade, que se recusam a obedecer a regra – pregada na parede – e criada pela rede de fast-food depois de meses de conflitos, de que o consumidor tem vinte minutos, e nem um segundo a mais, para terminar sua refeição e dar vez a outros fregueses.

“Mas é impossível tomar um café americano, quente, em vinte minutos”, disse à reportagem do Times o senhor David Choi, 77 anos.

Ele, seu Man Hyung Lee, que também tem 77 anos, Jee Woong Lim, 81, Sang Yong Park, 76 e Il Ho Park, 76, são alguns dos fregueses que batem ponto toda manhã no McDonald’s da esquina da rua Parsons com o Nothern Boulevard e, de acordo com os funcionários da franquia, permanecem horas a fio batendo papo enquanto dividem felizes uma porção de batatas-fritas, ao custo de US$ 1.39. Na ocorrência policial – gerada depois das seguidas denúncias da gerência do McDonald’s local – eles são apresentados como “um grupo considerável de homens e mulheres que simplesmente se recusa a sair da lanchonete. Eles impedem, na prática, outros clientes de conseguirem se sentar em uma mesa e estão fazendo uma espécie de sit-in”.

A insinuação é, obviamente, um exagero. Os sit-ins são, como se sabe, uma forma de protesto político não-violento, cujos exemplos mais emblemáticos, nos EUA, ocorreram durante a luta pelos direitos civis dos negros americanos, contra a segregação racial em espaços privados, como restaurantes e meios de transporte público. Não há qualquer protesto de cunho político sofisticado por detrás da decisão dos idosos coreanos – “todos vestidos nos trinques, com ternos, gravatas coloridas, vestidos, alguns de cadeiras de roda e outros andando com a ajuda de muletas”, de acordo com a reportagem – de ocupar o McDonald’s da esquina, mais à mão do que os vários centros comunitários da região, inclusive o Centro Coreano para Idosos, que conta com um café em seu porão.

A gerente do McDonald’s diz que não aguenta mais a situação. A polícia do Queens diz estar acostumada a lidar com disputas entre adolescentes e comerciantes, mas o confronto entre idosos e a rede de fast-food mais famosa do planeta é uma novidade muito mais complexa de se administrar. Como mostra a reportagem, a disposição dos idosos asiáticos para o confronto é juvenil. “Os policiais chegam três vezes ao dia, em média. Eles conversam conosco e pedem para a gente sair. Eu saio. Dou uma volta no quarteirão, vejo se eles já foram embora, e volto”, disse o senhor Lee. “Já eu sempre obedeço a polícia, pois é meu dever de cidadão. Escuto direitinho o que eles têm para dizer e saio do McDonald’s. Mas assim que eles deixam a lanchonete, também volto”, diz o senhor Park. O local é o palco favorito, contam os idosos, para conversar sobre questões políticas na Península Coreana e, já que ninguém é de ferro, se atualizar sobre as fofocas da hora. A reportagem, no entanto, menciona que desde a presença constante da polícia, nos últimos seis meses, copos de cafés foram jogados ao léu e bate-bocas se tornaram lugar comum, mas nenhum enfrentamento físico foi registrado.

A teimosia dos idosos, que, para tornar a crônica nova-iorquina ainda mais saborosa, obviamente para quem não faz parte da disputa, ganha cor com a sinceridade dos clientes, que negam serem fãs do Big Mac (“A comida? Não. Não gostamos da comida daqui, preferimos a coreana mesmo”), mas adoram o local por conta da proximidade geográfica de suas casas e por ser um dos únicos estabelecimentos comerciais abertos às cinco da manhã, que é quando começa o rolê diário da terceira idade asiática neste canto do Queens. O título da reportagem do Times dá a senha para a discussão do momento: “Enfrentando o McDonald’s pelo direito de sentar na lanchonete. E sentar. E sentar. E sentar”. Em se tratando de Nova York, a possibilidade de a pendenga parar na Justiça é grande: até onde vai o direito do proprietário de determinar quem e por quanto tempo pode frequentar seu estabelecimento?

O texto, na íntegra, pode ser lido aqui

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