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Revelações de Snowden afetam empresas de tecnologia dos EUA

O impacto pode ser maior do que as perdas do setor de computação em nuvem, estimado em até 35 bilhões de dólares

Documentos foram vazados pelo o ex-analista da NSA Edward Snowden
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Empresas de tecnologia norte-americanas foram mais atingidas do que o previsto pelas revelações sobre programas de vigilância liderados pela Agência de Segurança Nacional (NSA) – mostrou um estudo publicado na terça-feira 9.

O estudo da Fundação de Tecnologia da Informação e Inovação, um think tank de Washington, disse que o impacto seria maior do que sua estimativa de quase dois anos de perdas para o setor de computação em nuvem.

Em 2013, o think tank estimou que as empresas de computação em nuvem dos Estados Unidos poderiam perder entre 22 e 35 bilhões de dólares em negócios no exterior ao longo de três anos.

Agora parece impossível quantificar o dano econômico, já que todo o setor foi manchado pelo escândalo de revelações de documentos vazados pelo o ex-analista da NSA Edward Snowden, segundo o relatório. 

“Estas revelações abalaram fundamentalmente a confiança internacional em empresas de tecnologia dos Estados Unidos e feriram as perspectivas de negócios do país com o restante do mundo”, disse o documento.

Daniel Castro, co-autor do estudo, afirmou que o impacto está aberto, com o escândalo da NSA atingindo uma ampla gama de empresas de tecnologia dos Estados Unidos.

Desde 2013, “nós não conseguimos reverter esse dano: não são apenas as empresas de tecnologia em nuvens que foram atingidas. Todas as empresas de todas as áreas da tecnologia foram golpeadas. E essa crise não mostra quaisquer sinais de parar”, explicou Castro à AFP. 

O relatório disse que os clientes estrangeiros estão cada vez mais se distanciando das empresas norte-americanas, e governos de todo o mundo “estão usando a vigilância dos Estados Unidos como desculpa para promulgar uma nova onda de políticas protecionistas”.

Uma pesquisa citada pelos pesquisadores descobriram que 25% das empresas na Grã-Bretanha e no Canadá planejavam puxar seus dados para fora dos Estados Unidos, como resultado das revelações da NSA.

Algumas empresas na Europa não querem seus dados hospedados na América do Norte devido a estas preocupações, disseram os pesquisadores.

Enquanto isso, as empresas estrangeiras têm usado as revelações como uma oportunidade de marketing. “Há também a tendência cada vez mais angustiante de países como Austrália, China, Rússia e Índia, a aprovação de leis que impedem que as informações pessoais dos seus cidadãos de sair das fronteiras do país – determinando efetivamente que as empresas de computação em nuvem construam centros de dados nestes países ou correm o risco de perder o acesso a seus mercados”. 

O relatório disse que várias empresas de tecnologia dos Estados Unidos, incluindo a Apple e a Salesforce já começaram a construir centros de dados no exterior “para apaziguar cães de guarda estrangeiros e os defensores da privacidade”.

Embora este “nacionalismo de dados” possa criar alguns postos de trabalho a curto prazo, Castro disse que os países articulando estas políticas “estão se prejudicando no longo prazo, ficando de fora do melhor em termos de tecnologia”.

Nova lei insuficiente

Castro disse que a aprovação de uma medida de reforma na semana passada sobre a Lei da Liberdade não é suficiente para reparar a reputação de empresas de tecnologia dos Estados Unidos.

O relatório recomenda novas reformas, incluindo aumentar a transparência das práticas de vigilância, opondo-se aos esforços do governo para enfraquecer a criptografia e fortalecer seus tratados de assistência jurídica mútua com outras nações.

“Ao longo dos últimos anos, o fracasso do governo norte-americano em reformar significativamente suas práticas de vigilância teve um sério impacto econômico no setor de tecnologia, e o custo total continua a crescer a cada dia”, apontou Castro.

Segundo o especialista, a Lei da Liberdade, que refreia a coleta de dados em massa entre suas reformas, é “uma boa legislação e um passo na direção certa. Temos ignorado o impacto econômico da vigilância dos Estados Unidos“.

*Por Rob Lever

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