Economia

‘Retrocesso significativo’, diz economista Daron Acemoglu sobre atuação do Brasil no Brics

Economista diz que país pode se tornar ‘mero cliente’ da China e da Rússia

(MIT/Reprodução)
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Para o economista Daron Acemoglu, autor da obra Por que as Nações Fracassam e professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) errou ao permitir que a China aumentasse a sua influência sobre o Brics – o grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

O especialista, que analisa as condições da desigualdade social no mundo, fez a declaração em entrevista publicada na última quinta-feira 19 pela revista Veja.

“É evidente que estamos trilhando um caminho que coloca o Brics sob a influência da China, enquanto o mundo em desenvolvimento necessita de uma voz independente”, afirmou Acemoglu. “Essa situação é lamentável. Para o Brasil, que parece concordar com essa mudança, é uma tristeza profunda. Trata-se de um retrocesso significativo”, apontou. Para ele, “os países do Brics parecem estar se tornando meros clientes dos chineses e russos”.

Na última reunião do grupo, realizada em agosto, vários outros países – como Argentina, Arábia Saudita, Irã e Egito, por exemplo – foram integrados ao bloco. Parte da estratégica de expansão do Brics passa pelo crescimento da moeda chinesa – o yuan – como âncora para negociação em termos de comércio exterior, em um movimento que tenta diminuir a influência do dólar norte-americano.

O pesquisador expressou, ainda, sua “profunda decepção em relação aos países do Brics, especialmente o Brasil”. “Fui um grande apoiador do presidente Lula, mas agora estou extremamente desapontado. A atual expansão do grupo me parece ir em direção equivocada aos interesses do bloco”, pontuou.

Desigualdade e corrupção no Brasil

Acemoglu aproveitou para tratar de questões internas do Brasil. Segundo o economista, o país tem como “exemplo notável” a implementação do programa Bolsa Família, feita ainda no primeiro mandato de Lula. No entanto, segundo ele, “É importante destacar que a abordagem não deve se limitar apenas a transferências diretas de renda”. 

O Brasil poderia, por exemplo, superar a mera transferência de renda e desenvolver mecanismos ligados ao mercado de trabalho, visando “criar oportunidades para pessoas de diferentes níveis de habilidade”. Uma das ideias seria prevenir o “poder excessivo de tecnologias e corporações no mercado de trabalho”.

Ainda sobre o Brasil, Acemoglu, que é turco, disse que considera que a corrupção afetou a confiança na democracia brasileira. Para ele, casos de corrupção levaram “ao aumento do apoio a figuras políticas que, em circunstâncias normais, não seriam consideradas”. Ele deu o exemplo de “um presidente que expressou simpatia pela ditadura militar ou manifestou intenções autoritárias”, fazendo menção indireta ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

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