Mundo
Renúncia de Teich cria “combustão” no governo, diz jornal espanhol
Imprensa europeia repercute demissão do ex-ministro da Saúde e vê aprofundamento da crise no país durante a pandemia
A imprensa europeia repercute neste sábado 16 a renúncia de Nelson Teich do Ministério da Saúde do Brasil. O oncologista deixou a pasta na sexta-feira 15, por divergências com o presidente Jair Bolsonaro sobre a política adotada contra o coronavírus. Com a saída de um segundo ministro da pasta em menos de um mês, “o governo brasileiro entra em combustão”, afirma o jornal espanhol El País.
“A demissão é um divisor de águas no governo de um presidente investigado pelo Supremo Tribunal sobre ingerências políticas na polícia para proteger sua família”, afirma a matéria do El País. “O governo do Brasil está em combustão em um momento extremamente delicado porque o coronavírus avança rapidamente. Já são mais de 14.800 mortos e mais de 210.000 contágios em um dos países que menos testes faz, de maneira que a real magnitude dos casos está notavelmente subestimada”, reitera.
“Menos de um mês e ele já foi embora”, afirma o site do jornal francês Libération. O diário lembra que a renúncia de Teich ocorre menos de um mês após a demissão de Luiz Henrique Mandetta por Bolsonaro, em um momento em que o Ministério da Saúde é crucial. Libé também destaca que há poucas semanas o país foi sacudido pela saída do ministro da Justiça, Sérgio Moro, símbolo da luta contra a corrupção.
“A gestão de crise de Jair Bolsonaro resulta na queda de um segundo ministro da Saúde”, afirma o canal de TV France 24. A emissora destaca que o motivo de divergência entre Teich e o presidente foi o uso da cloroquina para tratar os contaminados pela Covid-19. O medicamento “cuja eficácia contra o coronavírus ainda não foi provada, pode provocar graves efeitos secundários”, reitera.
Contradições na gestão da crise
O jornal francês 20 Minutes publica que desde que Teich foi nomeado ao cargo, ele declarou seu “alinhamento total” a Jair Bolsonaro, uma posição que revisou devido às contradições entre os objetivos do oncologista e o presidente na gestão da crise. “O ministro se surpreendeu com o decreto, sem que ele fosse informado, que salões de beleza e salas de musculação permaneceriam abertos por serem considerados atividades essenciais”, sublinha a matéria.
O diário britânico The Guardian classifica a saída de Teich como “abrupta”. A renúncia “afunda ainda mais o Brasil que pena para encontrar uma resposta à pandemia”.
“A demissão é apoiada por médicos que trabalham no combate ao vírus”, ressalta a matéria. O jornal entrevistou o médico Albert Ko, professor de epidemiologia na Escola de Medicina da Yale que a afirma que a decisão do oncologista foi baseada na “falta de liderança e governança” no Brasil.
“Perder dois ministros da Saúde terá realmente um impacto dramático na capacidade do país de responder à epidemia”, avalia o especialista que tem uma grande experiência médica no país.
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