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Rei de Uganda luta com museu de Oxford por trono perdido

Universidade se recusa a devolver um artefato saqueado, alega seu governante

O museu Pitt Rivers, em Oxford, vive disputa com um reino em Uganda
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Por Patience Akumu e Vanessa Thorpe

É uma luta entre a dignidade de uma dinastia africana pronta para a batalha e a reputação de um dos mais destacados acervos históricos. E refere-se a uma discórdia que se concentra no paradeiro do trono perdido de um reino ugandense e uma percepção de injustiça — ainda hoje lembrada — da traição e confusão da era colonial.

Ativistas ugandenses afirmam que o Museu Pitt Rivers, um tesouro antropológico mantido pela Universidade de Oxford e fundado em 1884 pelo arqueólogo vitoriano Augustus Pitt Rivers, se recusou a devolver artefatos importantes saqueados do antigo reino de Bunyoro-Kitara.

Segundo eles, durante a era colonial quase 300 artefatos foram retirados da região, com ou sem o consentimento de seus proprietários. O atual monarca “cultural” do reino, Solomon Gafabusa Iguru I, passou a maior parte de seu reinado em campanha por sua devolução. O reino afirma ter tomado medidas legais contra o governo britânico por furto e destruição de propriedade.

Mas neste fim de semana Jeremy Coote, diretor-adjunto de coleções no Museu Pitt Rivers, disse acreditar que houve um sério mal-entendido sobre a proveniência dos artigos em exposição. Um banco cerimonial que está no museu não é, segundo Coote, um trono real supostamente saqueado do reino em 1894, mas outro doado à coleção em 1922 para melhorar a compreensão da cultura e do estilo de vida da parte ocidental de Uganda.

Em Bunyoro-Kitara, a devolução do trono seria uma vitória política importante para o que já foi o maior e mais rico reino da África, mas hoje é uma das regiões mais pobres de um país pobre.

O trono desaparecido é o tradicional de nove pernas em que se sentaram todos os antecessores de Iguru, até o rei Kabalega, que foi exilado pelos britânicos por resistir ao colonialismo em 1899. O reino de Bunyoro afirma desde então que o trono de Kabalega foi roubado pelo coronel Henry Colville em 1894, quando este era comissário de Uganda.

“Todos os que vieram depois de Kabalega não foram adequadamente empossados no cargo”, disse o porta-voz pessoal do rei, Yolamu Ndoleriire Nsamba. “Solomon Iguru não foi adequadamente empossado. Sem o banco não há rei, nem trono.”

Coote disse que o museu recebeu uma carta do rei, ou omukama, depois de uma visita deste ao museu em julho de 2011. O omukama escreveu ao diretor do museu em novembro de 2013, manifestando seu prazer ao ver que o acervo do museu é tão bem cuidado”, disse Coote. “Ele também declarou que tinha pedido a um de seus ministros para iniciar negociações… sobre colaboração e/ou possível devolução de alguns objetos, e expressou um interesse particular pelo que descreveu como o trono real (nyamyaro), que foi confiscado pelo coronel Colville em 1894.”

Coote disse também que o diretor do museu havia respondido antes do Natal do ano passado, “aprovando a possibilidade de discutir futuros projetos colaborativos. O diretor também indicou que o assento mantido aqui foi coletado em Bunyoro em 1919-1920 e não é o saqueado pelo coronel Henry Colville em 1894, cuja atual localização é desconhecida”.

Trinta dos quase 300 objetos do reino em exibição na galeria inferior do museu em Oxford foram doados à universidade por Akiki Kanyarusoke Nyabongo, um príncipe do reino vizinho de Toro, que escreveu sua tese de doutorado sobre a religião ugandense na universidade nos anos 1930. A maior parte do resto foi coletada pelo reverendo John Roscoe em 1919-20, durante a expedição etnológica Mackie, e depois doada à universidade por Roscoe em 1922.

Mas em Bunyoro a questão ainda incomoda. O rei se senta em uma cadeira moderna em um palácio enorme e banal, escondido no final de Hoima, no oeste de Uganda. É atrás das paredes dessa casa, reformada pelo atual governo ugandense depois da restauração dos reinos nos anos 1990, que ele e sua corte tentam encontrar meios de dar a Bunyoro alguma semelhança do que já foi — respeitado e rico. A sala de estar é bem acabada, com belos tapetes e móveis lustrosos. Mas por trás das cortinas elegantes há uma escada quebrada, encanamento defeituoso e gesso descascado.

Assim como sua população, da qual cerca da metade vive na pobreza, o reino sofre dificuldades financeiras. Qualquer compensação, juntamente com a recente descoberta de petróleo na região, poderia aliviar essa pobreza.

Bunyoro diz que os britânicos levaram os artefatos como parte de uma pilhagem sistemática do reino nos anos 1890. Ladislaus Rwakafuzi, o assessor jurídico do reino em Uganda, disse que a devolução dos artigos traria uma solução para os africanos que continuam sofrendo os efeitos secundários do colonialismo. “Se os britânicos vierem abertos, seria uma ocasião para refletirmos sobre os erros humanos, de mostrar que eles não se limitam no espaço e no tempo; [uma ocasião] para aceitar que os seres humanos são iguais e as violações são erradas, independentemente da raça”, disse ele.

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