Mundo

Quem é Disha Ravi, a Greta Thunberg da Índia, presa por desafiar o governo

A jovem de 22 anos coordenou várias campanhas contra as mudanças climáticas na Índia

Protestos na Índia contra a prisão da ativista ambiental, Disha Ravi Foto: Manjunath Kiran / AFP.
Apoie Siga-nos no

A polícia de Nova Délhi prendeu no domingo (14) a jovem Disha Ravi, de 22 anos, apontada como a líder do braço indiano do movimento “Fridays For Future”, idealizado pela sueca Greta Thunberg. A polícia não divulgou onde a ativista está detida. Ela deve enfrentar uma audiência em um tribunal da capital nesta semana.

Desde domingo, o rosto de Disha Ravi deu a volta ao mundo e sua prisão indignou defensores da causa ambiental e parte da opinião pública da Índia. Segundo a polícia de Nova Délhi, a jovem é uma das responsáveis por desenvolver e divulgar uma campanha de comunicação que incentivou o movimento de agricultores no país. Camponeses protestam, desde dezembro, contra as leis agrícolas impostas pelo governo do primeiro-ministro Narendra Modi, há cerca de seis meses. As autoridades acusam Ravi e outros militantes de “promover a discórdia contra o Estado”.

A ativista teria criado um grupo no WhatsApp para debater estratégias de comunicação para os protestos dos agricultores. A polícia de Nova Délhi diz que ela é a responsável por ter enviado a Greta Thunberg um guia para instruir os trabalhadores a se organizarem para os atos que a sueca divulgou no Twitter, irritando o governo indiano. As autoridades também vinculam Ravi ao movimento separatista “Poetic Justice Foundation”, que defende a minoria sikh.

Carreira das finanças deixada de lado

A indiana se formou em 2018 em Administração de Negócios na Universidade de Mount Carmel, em Bengala, no leste da Índia. No início de sua formação acadêmica, a jovem tinha o objetivo de realizar uma carreira nas finanças, mas diante do envolvimento com a causa ambiental, ela parece ter deixado de lado os planos iniciais.

Em seu perfil no Twitter, Ravi se descreve como “uma ativista do movimento de jovens contra as mudanças climáticas” e “fundadora do ‘Fridays For Future’ India”. As mídias do país apontam que, desde 2019, ela é a líder deste braço do movimento internacional criado por Greta Thunberg para denunciar a inação dos governantes sobre a questão.

A jovem coordenou várias campanhas contra as mudanças climáticas na Índia. Também organizou protestos na região de Bengala e escreveu para diversas mídias internacionais sobre o impacto do aumento da temperatura global para a biodiversidade.

Segundo o site de informações Hindustan Times, Ravi resolveu se envolver com a causa na Índia em nome dos avós, que são fazendeiros e, segundo ela, sofrem com as consequências das mudanças climáticas. “Naquela época, eu não sabia que eles eram vítimas das mudanças climáticas porque a educação sobre essa questão é inexistente no lugar de onde eu venho. Apenas quando eu comecei a pesquisar sobre isso eu descobri esse problema”, disse a jovem em 2020.

Em entrevista no ano passado ao autor e professor Gayle Kimball, que está escrevendo um livro sobre a Geração Z de garotas ativistas ambientais, Ravi declarou que protestar faz parte da cultura indiana.

“Na Índia, as manifestações são parte das nossas vidas já que a nossa liberdade foi obtida graças a protestos pacíficos. Há muitos atos em prol de causas humanitárias e religiosas na sociedade indiana. As redes sociais contribuem para isso nos dias atuais”, afirmou.

Foi desta forma, aliás, que a ativista diz ter se integrado ao movimento “Fridays For Future“. Ela disse que passou a participar a mobilização que hoje lidera na Índia depois de ter conhecido na web mulheres envolvidas em campanhas ambientais.

“Todas as nossas ações são organizadas na internet – Instagram e outras redes sociais. Nós nos conhecemos através de amigos em comum e desta forma nos encontramos. Somos mulheres, na maioria, e nunca havíamos nos visto antes. Tudo começou em Bengala, mas depois evoluiu simultaneamente em Mumbai e Nova Délhi. Não queríamos que o movimento se limitasse a uma cidade apenas”, disse a jovem ao professor Kimball.

Ravi faz parte de redes ecofeministas e apoia iniciativas que combatem violências contra as mulheres. Vegana, a ativista também trabalha na área da comunicação com clientes na empresa GoodMylk, que torna acessíveis produtos à base de vegetais à população.

Polêmica reforma agrária

Desde dezembro, os agricultores indianos exigem a revogação da reforma agrária aprovada pelo parlamento do país há cerca de seis meses. As novas leis impõem uma maior liberalização do setor agrícola e são apontadas como benéficas apenas para os grandes empresários e fazendeiros, para o temor dos pequenos camponeses.

Em 26 e 27 de janeiro, o movimento foi reforçado por milhares de agricultores que chegaram a Nova Délhi para um imenso protesto. A capital foi bloqueada por barricadas e tratores e uma manifestante morreu no confronto com a polícia.

O governo indiano acusa ambientalistas de terem incentivado os manifestantes a invadirem as ruas da capital. O perfil de Ravi chamou a atenção das autoridades depois que Greta Thunberg divulgou em seu Twitter um documento que a polícia diz ser de autoria da militante indiana e que diz ter relação com os incidentes de violência em Nova Délhi.

Anjana, uma amiga de Ravi, está promovendo uma campanha para a libertação da jovem ativista. “Ela precisa de uma voz forte para obter justiça”, tuitou, junto com o hashtag #ReleaseDishaRavi (libertem Disha Ravi).

Vários militantes e o ex-ministro indiano do Meio Ambiente Jairam Ramesh condenaram a prisão de Ravi. A Coalizão Por Justiça Ambiental da Índia classificou a prisão da jovem como “sinistra”. Cerca de 80 personalidades do país assinaram uma petição denunciando a ação da polícia como um “sequestro extrajudicial”.

ENTENDA MAIS SOBRE: , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo