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Queda do Muro de Berlim completa 30 anos. O que o mundo aprendeu?

Em tempos sombrios, a comemoração da ‘Revolução Pacífica’ que culminou com a derrubada do muro, oferece um momento de leveza

Muro de Berlim (Foto: Wikimedia Commons)
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O aniversário de 30 anos da derrubada do Muro de Berlim, neste 9 de novembro, transforma a cidade-símbolo da divisão das Alemanhas e fratura exposta no cenário urbano durante 28 anos (1961-1989) em uma grande festa.

A alegria pela derrubada do muro na data que acumula três momentos cruciais na história da Alemanha (Proclamação da República (1918), “Noite dos Cristais” (1933) e a Derrubada do Muro (1989)) é festa bem-vinda, também sob o prisma de marketing. Em tempos sombrios, a comemoração da “Revolução Pacífica” que culminou com a derrubada do muro, oferece um momento de leveza que o Zeitgeist do pós-verdade nos roubou.

O momento de comemoração não poderia ser mais irônico. Aquelas palavras de Sting na música History will teach us nothing do LP Nothing But The Sun tomam proporções temerosas, para onde quer que se vire o nosso olhar. O mundo está em convulsão. Comemorar a vitória da democracia, se tornou um privilégio.

Os muro agora são outros, mas o motivo que leva países em ainda teimar erguê-los, permanece o mesmo: segregação, isolação, discriminação e interesses econômicos.

Esses motivos se fazem visíveis na fronteira entre os EUA e o México, entre as duas Coreias, ao redor de países da UE que fizeram um acordo diabólico com o ditador turco, Erdogan, para segurar os refugiados sírios em seu país.

Com a abertura das portas para os refugiados presos na estação ferroviária de Budapeste, 2015, Merkel acelerou um terremoto político-partidário na Alemanha. O escorrego para a esquerda do partido que, há décadas, ocupava o centrão, foi ansiosamente aguardado pela extrema-direita que hoje está representada no parlamento alemão com 91 deputados do partido “Alternativa para a Alemanha” (AfD, na sigla) que depois de 2015, se encontra em vertiginosa radicalização expressa pelas cabeças do partido e que vem ratificando nas urnas, de forma igualmente irônica e dolorosa, como depois de 30 anos da derrubada do “Muro da Vergonha”, o país sucumbe ainda mais no antagonismo leste x oeste.

As recentes eleições nas regiões de Brandemburgo, Saxônia e Turíngia exibem os números de um cenário preocupante, para dizer ao mínimo. Hoje, o abismo entre eleitores separados por um muro bem diferente, é motivo de grande preocupação. A história não ensinou nada aos alemães do leste que, encontram outros muros para construir, agora, da perspectiva de opressor.

Desconstrução de paradigmas

Desaprendemos a discordar sem partir para o ataque pessoal. Perdemos a prática no exercício de tolerar divergências mantendo o mínimo de civilidade. As barreiras de muros se mostram intransponíveis.

Quantas amizades já foram encerradas por divergências políticas e quantas famílias foram divididas?

Eu, como a “filha desgarrada” que optou por uma vida no exterior, era vista com especial ceticismo de grande parte da minha família. No preâmbulo das eleições presidenciais no Brasil, o tom foi ficando mais duro, o solo mais árido até eu decidir sair do grupo do WhatsApp. O último post foi meu tio me perguntando se eu era comunista. O deixei sem resposta e eles me deixaram do outro lado do muro, consternada pelo absolutismo.

Em vez de festejo, cadeiradas

No contexto da comemoração do aniversario de 74 anos do ex-presidente Lula, foi criado um evento nas redes sociais convidando todas e todos a aparecerem na sede do Comitê Lula Livre Berlim.

Em vez de o encontro servir de um momento de reflexão, conversas sobre o ex-presidente (seu legado, sua atual situação e alinhavar a resistência) duas brasileiras entraram em conflito devido à divergência de como tratar a questão LGBT e se essa faria parte de “quem é de esquerda”. A resposta de “O que pra você é esquerda?” desencadeou briga ferrenha. A pessoa se sentiu desrespeitada com declaração da outra que, por sua vez, se mostrou revoltada em ser filmada com celular, sem autorização prévia. Essa, ameaçou jogar o celular na panela quente e ao ver que ainda era filmada, ameaçou jogar cadeiras na adversária.

O dia terminou num BO na polícia berlinense. Perdeu-se a chance de tirar do legado do ex-presidente a teimosia pelo diálogo, até mesmo quando a comunidade internacional inteira já havia jogado a toalha. Sem se dar por rogado, Lula viajou para a República Islâmica do Irã em 2010 para convencer o ex-líder a desistir do seu programa nuclear de enriquecimento de Urânio, episódio que Lula contou detalhadamente, 2012, no Instituto Friedrich-Ebert, em Berlim.

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