Mundo
Putin indica que Brasil, China e Índia podem mediar negociação de paz com a Ucrânia
Presidente russo ainda criticou estratégia das tropas de Volodymyr Zelensky de atacarem a região de Kursk e tratou, com ironia, do processo eleitoral nos EUA


Para o presidente da Rússia, Vladimir Putin, o Brasil pode atuar como mediador em uma eventual negociação de paz do país governado por ele com a Ucrânia.
A declaração aconteceu no Fórum Econômico Oriental, realizado em Vladivostok, na Rússia, nesta quinta-feira 5. Segundo Putin, um acordo construído em Istambul, logo no início da guerra, poderia servir de base para o processo de negociação.
Além do Brasil, Putin também citou que a China e a Índia poderiam mediar a negociação entre os dois países. Rússia e Ucrânia estão em guerra desde fevereiro de 2022.
No evento, Putin também destacou que nunca se recusou a negociar com a Ucrânia, mas disse que a negociação seria feita nos termos determinados pela Rússia. Um dos pontos sobre os quais o Kremlin não abre mão é a neutralidade militar da Ucrânia.
“Estamos prontos para negociar com eles [Ucrânia]?, questionou Putin. “Nós nunca nos recusamos, mas não sob demandas efêmeras, mas na base de documentos que foram acordados e assinados em Istambul”, afirmou Putin.
A fala de Putin indica uma mudança retórica da Rússia, uma vez que, há poucas semanas, o país criticou o ataque ucraniano à área de Kursk, dizendo que a ação colocaria as negociações “em uma longa pausa”.
A empreitada das tropas de Volodymyr Zelensky sobre o território russo não apenas é o maior ataque da Ucrânia ao país vizinho, desde o início da guerra, mas representa a maior ofensiva dentro da Rússia desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
A resposta da Rússia, além da mobilização de defesas e das críticas nos discursos, foi atacar a Ucrânia. Na última quarta-feira 4, o exército russo atacou a cidade de Lviv, matando sete pessoas. Entre elas, estavam três crianças.
No Fórum de hoje, Putin fez uma avaliação da estratégia militar ucraniana, dizendo que o objetivo de Zelensky era “nos fazer nervosos e preocupados, transferindo tropas de um setor para outro para parar nossa ofensiva em áreas chaves, principalmente no Donbass. Deu certo? Não”.
Para Putin, a transferência de unidades para áreas de fronteira fez com que a Ucrânia se enfraquecesse “em áreas centrais”. Isso justificou, segundo o presidente russo, as operações ofensivas. “Nenhuma ação está ocorrendo para conter nossa ofensiva”, disse.
Brasil tentou mediar negociação entre Rússia e Ucrânia
A tentativa de se colocar como mediador na guerra entre Rússia e Ucrânia foi um dos primeiros movimentos, em termos de política externa, do presidente Lula (PT), no seu terceiro mandato presidencial.
No primeiro semestre do ano passado, Lula fez várias declarações no sentido de se colocar como ator mediador. O governo Zelensky, porém, resistiu à proposta, especialmente após Lula igualá-lo a Putin, em um movimento diplomático que esfriou a articulação.
Mais recentemente, o Brasil chegou a apresentar uma proposta para as negociações de paz, ao lado da China. O documento, assinado em maio, pedia para que não houvesse expansão do campo de batalha, o que não aconteceu.
A título de hoje, um espaço favorável de negociação pode ser a reunião de cúpula do Brics, marcada para acontecer em outubro, em Kazan, na Rússia. A princípio, o evento poderá tratar da eventual entrada da Venezuela no grupo, mas, a depender da disposição para uma negociação de paz entre o Kremlin e a Ucrânia, o acordo pode avançar.
Eleição nos EUA
Putin aproveitou o evento de hoje para tratar da eleição presidencial dos Estados Unidos. E o fez com ironia: ao declarar que apoiaria a candidatura da democrata Kamala Harris, Putin indicou que “ela ri de forma tão expressiva e contagiante, que significa que está tudo bem com ela”.
O presidente russo e a mediadora do debate riram durante a fala, arrancando aplausos dos presentes. Em seguida, porém, o presidente russo retomou a seriedade para dizer que “em última análise, a escolha cabe ao povo americano e respeitamos essa escolha”.
Putin citou os EUA um dia após o Departamento de Justiça do país norte-americano indiciar dois executivos de grupos de mídia russos, apontando que eles fariam parte de um suposto esquema para tentar influenciar as eleições.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.