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Protestos estudantis derrubam primeira-ministra de Bangladesh

Sheikh Hasina estava no poder há mais de quinze anos; chefe do Exército do país anunciou a formação de um governo interino

Protestos estudantis derrubam primeira-ministra de Bangladesh
Protestos estudantis derrubam primeira-ministra de Bangladesh
Manifestantes exibem a bandeira nacional de Bangladesh ao invadirem o palácio da primeira-ministra Sheikh Hasina em Dhaka em 5 de agosto de 2024. Foto: K M ASAD / AFP
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Bangladesh vive uma das maiores ondas de protesto da sua história recente. O populoso país do sul da Ásia, fundado ainda no início dos anos 1970, amanheceu nesta segunda-feira 5 com a notícia de que Sheikh Hasina, a primeira-ministra que estava no poder há mais de quinze anos, renunciou ao governo e fugiu do território. Ainda não se sabe o paradeiro de Hasina. 

A informação da renúncia foi confirmada pelo chefe do Exército do país, Waker-uz-Zama, que, em coletiva de imprensa, disse que os militares vão formar um governo interino. “Quaisquer que sejam as suas exigências, iremos cumpri-las e trazer a paz de volta à nação. Por favor, nos ajudem nisso. Fiquem longe da violência”, pediu o comandante, em comunicado à nação.

O que começou como protestos estudantis se converteu em um tremor político em Bangladesh. 

Estudantes protestam em Bangladesh. Foto: AFP

No mês passado, estudantes saíram às ruas depois que o Tribunal Superior do país decidiu retomar um sistema de cotas para empregos públicos voltada a parentes de veteranos da guerra de independência contra o Paquistão, que aconteceu em 1971.

Segundo as regras, 30% dos empregos públicos de todo o país deveriam ser destinados aos descendentes dos veteranos. 

O argumento dos estudantes é simples: o sistema cria uma estrutura discriminatória e, portanto, não deve ser implementado.

À época da decisão, Hasina comentou o tema, argumentando que “se os netos dos lutadores pela liberdade não recebem cotas, então os netos de Razakars [colaboradores paquistaneses] deveriam receber cotas?”. A reação dos estudantes foi imediata.

As manifestações começaram de maneira pacífica, mas, à medida que as demandas cresciam, se converteram em uma grande onda de insatisfação contra os rumos do país governado por Hasina.

A intensificação dos protestos também levou ao aumento da violência. Mais de 300 pessoas já morreram por conta das manifestações, e o dia mais violento foi o último domingo 4, quando foram registradas mais de 90 vítimas fatais. Outras centenas de pessoas ficaram feridas.

Também no domingo, o Supremo Tribunal do país anulou a decisão que restabelecia o sistema de cotas. 

Confrontos

A violência também se explica, em parte, pelas ações das forças de segurança do país. Do ponto de vista do governo, a ala estudantil do partido de Hasina também entrou em cena, atuando contra os manifestantes. 

Além das tentativas de repressão aos protestos, o governo também decretou toque de recolher por tempo indeterminado, válido desde a noite de ontem. Os serviços de internet estão suspensos e, a partir de hoje, haverá um feriado nacional de três dias.

A primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina.
Foto: KIMIMASA MAYAMA / POOL / AFP

O futuro imediato de Bangladesh é tão incerto quanto o da própria Sheikh Hasina. Segundo informações da AFP, ela teria fugido de helicóptero logo depois que manifestantes tentaram invadir o palácio presidencial na capital, Daca. 

Do ponto de vista geopolítico, um ponto importante será saber qual será a posição da Índia diante da tensão social em Bangladesh. O país vizinho, governado por Narendra Modi, apoia o (antigo) governo de Hasina.

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