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Presidente do Peru instala gabinete em meio a protestos

Dina Boluarte foi empossada como a primeira mulher presidente do Peru poucas horas depois de Castillo ter sido destituído

Presidente do Peru, Dina Boluarte, emite primeira mensagem à nação. Foto: Flickr/Presidencia Perú
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A nova presidente do Peru, Dina Boluarte, apresentou neste sábado 10 seu governo, de perfil independente, enquanto manifestações exigindo novas eleições continuavam nas ruas, após a destituição do presidente Pedro Castillo.

Dina Boluarte, vice-presidente até a destituição de Castillo, designou o advogado e ex-procurador especialista em combate à corrupção Pedro Angulo como chefe de seu gabinete, formado por 19 ministros.

A embaixadora Ana Cecilia Gervasi será a nova ministra das Relações Exteriores. Já para a pasta de Economia e Finanças, Dina nomeou Alex Contreras. Na Defesa, foi nomeado Luis Otárola, que ocupou a pasta no mandato do presidente Ollanta Humala (2011-2016).

Entre os 19 ministros, oito são mulheres, mas ainda falta designar os responsáveis pelas pastas de Trabalho e Transportes e Comunicações. A incorporação de ministros com perfil mais técnico do que político, conforme demanda do Congresso, pode abrir espaço para a trégua solicitada por Dina.

“A consolidação da democracia, do Estado de Direito, o equilíbrio de poderes e a governabilidade no país serão os fundamentos do meu governo”, declarou Boluarte em seu primeiro discurso como presidente.

Dina Boluarte foi empossada como a primeira mulher presidente do Peru poucas horas depois de Castillo, que enfrentava uma série de investigações por corrupção, ser deposto em uma votação do Congresso.

Castillo tentou evitar essa votação, a terceira contra ele desde que assumiu o cargo há 18 meses, anunciando a dissolução do Parlamento e anunciando que governaria por decreto. Mas suas ordens foram ignoradas pelo Congresso e pelas Forças Armadas.

“A Constituição foi violada”, disse José Williams, chefe do Congresso, ao justificar a destituição de Castillo, detido por sua própria escolta enquanto se dirigia à embaixada mexicana para solicitar asilo político e colocado em prisão preventiva por sete dias na última quinta-feira. O Ministério Público o acusa de rebelião e, se for considerado culpado, pode pegar entre 10 e 20 anos de prisão.

Para irritação de Lima, o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, expressou apoio a Castillo, dizendo que foi vítima de um golpe branco e oferecendo-lhe asilo.

Neste sábado, seu ministro das Relações Exteriores, Marcelo Ebrard, disse que oferecer asilo faz parte da tradição diplomática do México.

Protestos violentos

No interior do Peru, os protestos tomaram um rumo violento com 20 feridos em confrontos entre milhares de manifestantes e policiais na cidade de Andahuaylas, no sul, na região de Apurímac, cidade natal de Boluarte.

“Confronto entre a população e a Polícia deixa 16 pessoas e 4 policiais feridos, até o momento”, informou a Defensoria do Povo no Twitter.

Os feridos foram levados para o hospital, acrescentou a instituição sem especificar o seu estado de saúde.

Os manifestantes usaram pedras para atacar a sede da Promotoria da cidade, enquanto a polícia repeliu o ataque com gás lacrimogêneo.

Dois policiais foram feitos reféns por horas, antes de serem libertados.

“Pedimos calma diante dos acontecimentos que vêm ocorrendo em Andahuaylas. Pedimos respeito e tranquilidade à população que faz uso de seu direito de protestar. Rejeitamos qualquer ato de violência que coloque em risco a integridade da pessoa humana correndo risco”, tuitou horas antes a Polícia Nacional.

Em Arequipa, cerca de 1.000 km ao sul de Lima, grupos de garimpeiros marchavam em direção à capital peruana.

Em Lima, milhares de manifestantes que tentaram chegar à sede do Congresso nesta quinta e sexta-feira foram contidos pelas forças de ordem. A polícia usou gás lacrimogêneo para acabar com a mobilização, que deixou alguns detidos.

Os últimos acontecimentos levaram a polícia a anunciar a suspensão das férias e licenças de seus agentes até nova ordem. Na base da polícia onde o ex-presidente está detido por ordem judicial, dezenas de apoiadores de Castillo faziam vigília exigindo a sua libertação.

Dina Boluarte teve três dias de negociações com líderes das bancadas de partidos de direita no Congresso, diante da rejeição da esquerda a se unir às negociações. Sua decisão de governar até o fim do mandato de Castillo, em 28 de julho de 2026, está na origem de seus novos problemas.

A demanda por novas eleições está ligada a uma rejeição esmagadora do Congresso: de acordo com pesquisas realizadas em novembro, 86% dos peruanos desaprovam o Parlamento.

Boluarte não descartou convocar eleições antecipadas em busca de uma solução pacífica para a crise política, e pediu calma à população.

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