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Premiê da Turquia reconhece que massacre de armênios foi “desumano”

Erdogan deu as condolências aos descendentes das vítimas da tragédia iniciada em 1915, tida como genocídio por mais de 20 países, mas ainda negada pela Turquia

Recep Tayyip Erdogan
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A Turquia fez nesta quarta-feira 23 um gesto reconciliatório com relação ao massacre de armênios pelo Império Otomano durante a Primeira Guerra Mundial. O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, comunicou, pela primeira vez, as condolências de seu país aos descendentes das vítimas da tragédia, reconhecida como genocídio por mais de 20 países, mas ainda negada como tal por Ancara.

Em comunicado emitido na véspera do 99° aniversário do início do massacre, o chefe de governo turco se referiu abertamente à tragédia ocorrida entre 1915 e 1917, na fase final do Império Otomano, descrevendo os eventos da época como “desumanos”. Desde a sua fundação, em 1923, a Turquia republicana nunca reconheceu o ocorrido como genocídio.

“É um dever humano compreender e partilhar a vontade dos armênios em lembrar seus sofrimentos durante essa época”, diz o texto. “Desejamos que os armênios que perderam a vida no contexto do início do século 20 repousem em paz e exprimimos as nossas condolências aos seus netos.”

Na sua mensagem, Erdogan também considera “inadmissível” que os acontecimentos de 1915 sejam utilizados como um “pretexto” para hostilizar a Turquia ou que a questão seja aproveitada para promover o “conflito político”. O líder turco também destaca a necessidade do diálogo, “apesar das diferenças”, e da promoção do “respeito e da tolerância”.

Ele diz que a Turquia “apelou para o estabelecimento de uma comissão histórica conjunta para estudar os acontecimentos de 1915, na perspectiva de uma abordagem acadêmica”.

O dia 24 de abril de 1915 marca o início das perseguições à população armênia que há séculos vivia sob domínio otomano, no que é descrito como o primeiro genocídio do século 20. Centenas de milhares de armênios foram deportados, e a maioria dos seus bens foi confiscada.

Os motivos e a amplitude do que aconteceu é tema altamente controverso e continua a abalar as relações entre a Turquia e a Armênia, uma ex-república soviética. Entre os países que reconhecem o ocorrido como genocídio, estão Argentina, Alemanha e Rússia.

Enquanto as autoridades da Armênia e diversos historiadores contabilizam cerca de 1,5 milhão de mortos durante as perseguições e deportações, a Turquia argumenta que cerca de 500 mil armênios morreram de fome ou em combates durante a Primeira Guerra Mundial, continuando a rejeitar o termo “genocídio”.

  • Edição Rafael Plaisant

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