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Possível intervenção da Turquia na Síria pode agravar conflito sectário

Principal motivação da Turquia é conter o nacionalismo dos curdos. E não se sabe até onde o país iria para garantir isso

Fumaça de explosão de morteiros em Akçakale é vista após ataque à cidade turca. Foto: Rauf Maltas / Anatolian News Agency / AFP
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O governo da Turquia confirmou nesta quarta-feira 3 a retaliação a alvos na Síria após um ataque com morteiros, lançados do território sírio, ter deixado cinco turcos mortos e oito feridos na cidade de Akçakale, no leste do país. A resposta da Turquia, prevista nas regras de engajamento militar aprovadas após a derrubada de um caça turco, em junho, foi acompanhada de outro movimento. O governo do primeiro-ministro Reccep Tayyip Erdogan deve enviar ao Parlamento local um resolução pedindo autorização para realizar missões fora das fronteiras turcas. Os dois atos levantaram a possibilidade da internacionalização do conflito, sob o comando da Turquia. Ainda que o mundo esteja ansioso para ver o fim da guerra civil na Síria, a influência da Turquia pode não ser das mais benéficas.

No início do conflito na Síria, em março de 2011, a Turquia foi um dos primeiros países a criticar o ditador Bashar al-Assad e pedir sua saída do poder. Com Assad reprimindo duramente seus opositores, até então estritamente pacíficos, a Turquia levantou a bandeira do respeito aos direitos humanos e abriu suas fronteiras para os refugiados sírios. Com o passar do tempo, a Turquia se mostrou também ferrenha defensora da luta armada dos opositores sírios contra Assad. A Turquia sedia o comando do Exército Livre da Síria, chefiado por militares sírios desertores, e permite a passagem de jihadistas estrangeiros por seu território para lutar contra Assad. É na Turquia, também, onde opositores tomam as decisões a respeito de quais grupos de rebeldes sírios receberão as armas enviadas por Arábia Saudita e Catar.

A Turquia alega desejar ver o fim da guerra civil, mas o país tem interesses claros no conflito do país vizinho. A onda de refugiados que atravessou a fronteira já levou, oficialmente, 93 mil sírios para a Turquia. Como os sírios podem ficar três meses sem visto na Turquia, muitos estão deixando para trás os campos de refugiados na fronteira e indo para as cidades. Reportagem da rede de tevê CNN mostrou nesta quarta-feira 3 que a polícia turca está reprimindo esses refugiados, obrigando-os a ir para os campos ou voltar para a Turquia.

Mais importante para a Turquia é a questão curda. Hoje, cerca de 18% da população da Turquia é de curdos, um povo não árabe, mas majoritariamente muçulmano, presente também no Iraque e na Síria. Os curdos têm um movimento nacionalista forte, que é duramente suprimido pelo governo da Turquia. A repressão é política, social e militar. De acordo com reportagem recente da revista Foreign Affairs, só nos últimos três anos, 8 mil políticos e ativistas curdos foram presos na Turquia. O Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), facção mais radical do nacionalismo curdo, é considerado e tratado como grupo terrorista. Assim, para a Turquia é de extrema importância que os curdos não conquistem sua independência na Síria que vai surgir após a queda de Assad.

É preocupante, e ainda duvidoso, saber o que a Turquia pretende fazer para garantir isso. A mesma reportagem da Foreign Affairs mostrou que o governo turco vem hostilizando como um todo a minoria religiosa alauíta, da qual Assad é membro e que tem sido favorecida por sua ditadura. Integrantes do governo turco também ligam os alauítas a uma outra minoria religiosa presente na Turquia, a dos alevis. Os alevis têm em comum com os alauítas o fato de serem considerados hereges pelos sunitas, a tendência predominante do mundo muçulmano, a qual segue o AKP, o partido atualmente no governo da Turquia, e também a maioria dos rebeldes que lutam contra Assad. Diante deste cenário, teme-se que a Turquia esteja disposta a implantar na Síria um governo sunita que não respeite as minorias curda e alauíta.

Os países ocidentais, nomeadamente Estados Unidos, França e Reino Unido, desejam ver o fim do governo Assad, um aliado de primeira ordem do Irã. Esses países, no entanto, preferem na Síria um governo sunita capaz de respeitar as minorias e, assim, reduzir a instabilidade na região. Nesta quarta-feira, a Otan, aliança militar ocidental da qual a Turquia faz parte, se reuniu em Bruxelas e pediu a “imediata cessação” dos ataques sírios à Turquia. Não se falou, ao menos oficialmente, numa intervenção militar. Se ela for realizada, é interessante para o futuro da Síria que não seja a Turquia a comandá-la.

O governo da Turquia confirmou nesta quarta-feira 3 a retaliação a alvos na Síria após um ataque com morteiros, lançados do território sírio, ter deixado cinco turcos mortos e oito feridos na cidade de Akçakale, no leste do país. A resposta da Turquia, prevista nas regras de engajamento militar aprovadas após a derrubada de um caça turco, em junho, foi acompanhada de outro movimento. O governo do primeiro-ministro Reccep Tayyip Erdogan deve enviar ao Parlamento local um resolução pedindo autorização para realizar missões fora das fronteiras turcas. Os dois atos levantaram a possibilidade da internacionalização do conflito, sob o comando da Turquia. Ainda que o mundo esteja ansioso para ver o fim da guerra civil na Síria, a influência da Turquia pode não ser das mais benéficas.

No início do conflito na Síria, em março de 2011, a Turquia foi um dos primeiros países a criticar o ditador Bashar al-Assad e pedir sua saída do poder. Com Assad reprimindo duramente seus opositores, até então estritamente pacíficos, a Turquia levantou a bandeira do respeito aos direitos humanos e abriu suas fronteiras para os refugiados sírios. Com o passar do tempo, a Turquia se mostrou também ferrenha defensora da luta armada dos opositores sírios contra Assad. A Turquia sedia o comando do Exército Livre da Síria, chefiado por militares sírios desertores, e permite a passagem de jihadistas estrangeiros por seu território para lutar contra Assad. É na Turquia, também, onde opositores tomam as decisões a respeito de quais grupos de rebeldes sírios receberão as armas enviadas por Arábia Saudita e Catar.

A Turquia alega desejar ver o fim da guerra civil, mas o país tem interesses claros no conflito do país vizinho. A onda de refugiados que atravessou a fronteira já levou, oficialmente, 93 mil sírios para a Turquia. Como os sírios podem ficar três meses sem visto na Turquia, muitos estão deixando para trás os campos de refugiados na fronteira e indo para as cidades. Reportagem da rede de tevê CNN mostrou nesta quarta-feira 3 que a polícia turca está reprimindo esses refugiados, obrigando-os a ir para os campos ou voltar para a Turquia.

Mais importante para a Turquia é a questão curda. Hoje, cerca de 18% da população da Turquia é de curdos, um povo não árabe, mas majoritariamente muçulmano, presente também no Iraque e na Síria. Os curdos têm um movimento nacionalista forte, que é duramente suprimido pelo governo da Turquia. A repressão é política, social e militar. De acordo com reportagem recente da revista Foreign Affairs, só nos últimos três anos, 8 mil políticos e ativistas curdos foram presos na Turquia. O Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), facção mais radical do nacionalismo curdo, é considerado e tratado como grupo terrorista. Assim, para a Turquia é de extrema importância que os curdos não conquistem sua independência na Síria que vai surgir após a queda de Assad.

É preocupante, e ainda duvidoso, saber o que a Turquia pretende fazer para garantir isso. A mesma reportagem da Foreign Affairs mostrou que o governo turco vem hostilizando como um todo a minoria religiosa alauíta, da qual Assad é membro e que tem sido favorecida por sua ditadura. Integrantes do governo turco também ligam os alauítas a uma outra minoria religiosa presente na Turquia, a dos alevis. Os alevis têm em comum com os alauítas o fato de serem considerados hereges pelos sunitas, a tendência predominante do mundo muçulmano, a qual segue o AKP, o partido atualmente no governo da Turquia, e também a maioria dos rebeldes que lutam contra Assad. Diante deste cenário, teme-se que a Turquia esteja disposta a implantar na Síria um governo sunita que não respeite as minorias curda e alauíta.

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