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Por que o Uruguai não assinou o comunicado do Mercosul

A declaração conjunta foi endossada apenas pelos presidentes Alberto Fernández (Argentina), Lula (Brasil) e Mario Abdo Benítez (Paraguai)

Ricardo Stuckert/PR
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Voz dissonante no Mercosul, o Uruguai decidiu não assinar – pela quarta vez seguida – o comunicado conjunto publicado pelos demais países do bloco e voltou a cobrar uma solução sobre as negociações com a China.

O presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, ainda tornou a criticar a gestão de Nicolás Maduro na Venezuela e defendeu uma”posição clara” do bloco sobre o tema, durante a Cúpula do Mercosul em Puerto Iguazú, nesta terça-feira 4.

Em um texto próprio emitido após o encontro, o Uruguai ressaltou o “compromisso com a democracia” e reforçou sua posição sobre a necessidade de “modernização e flexibilidade por meio do aperfeiçoamento da zona de livre comércio”. O comunicado ainda apontou a ausência da tarifa externa comum.

Durante a reunião, Lacalle Pou provocou os demais chefes de Estado ao dizer que o Uruguai estaria sendo penalizado por ter uma balança comercial deficitária na região. Ele também afirmou que manterá as conversas sobre um acordo bilateral com os chineses, mesmo que Brasil, Argentina e Paraguai não integrem as negociações.

“Com relação à China, vocês conhecem a posição do Uruguai e entendemos a visão de cada um de vocês. A nossa visão é que façamos juntos. Se não podemos fazer assim, vamos fazer bilateralmente”, disse.

O presidente uruguaio acrescentou que o seu país estaria perdendo “mercados” ao postergar essa negociação e disse apenas repetir uma demanda do povo, favorável à “flexibilização” do Mercosul para reverter seu “imobilismo”.

Ainda durante o discurso, Lacalle Pou ironizou a demora de “25 anos” do bloco para fechar um acordo comercial com a União Europeia. O texto, porém, teve o tom amenizado e menciona apenas as dificuldades de avançar com as discussões – as condições impostas pelos europeus são alvo de críticas dos sul-americanos.

Por fim, o comunicado também não indicou a vontade do país de prosseguir com o ingresso da Bolívia no Mercosul. De acordo com o Palácio do Itamaraty, o Uruguai já teria manifestado apoio à ideia em outras reuniões do bloco e não seria preciso acrescentá-la ao texto novamente.

Sem o Uruguai, a declaração conjunta foi assinada apenas pelos presidentes Alberto Fernández (Argentina), Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e Mario Abdo Benítez (Paraguai).

No texto, os países não citam diretamente as demandas dos uruguaios, mas manifestam interesse de discutir eventuais mudanças. Também não há menções à Venezuela no comunicado, que ainda apresenta o desejo de finalizar as negociações do acordo Mercosul-UE.

“Os presidentes também concordaram com a necessidade de abrir um espaço de reflexão política sobre a modernização do bloco, incluindo o fortalecimento da agenda interna para uma maior integração de suas economias, bem como a estratégia de inserção internacional.”

O Mercosul é formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai e tem como associados os outros sete sul-americanos, exceto o país presidido por Maduro, suspenso há sete anos por supostamente violar a cláusula democrática do bloco. A Bolívia tenta, desde 2012, aderir ao grupo, mas aguarda decisão do Congresso brasileiro.

A reunião desta terça-feira ainda marcou o retorno do Brasil à presidência do bloco após um hiato de 13 anos.

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