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Por que a União Europeia recomendou ‘kit de sobreviência’ de 72 horas contra crises
A medida é um desdobramento das iniciativas para que o continente passe a se defender de maneira mais autônoma


A Europa olha para o seu futuro ciente de que tempos de instabilidade devem estar no horizonte. Diante disso, a União Europeia decidiu tentar tirar do papel um plano ousado de rearmamento, incentivar os seus países a impulsionar gastos militares e se preparar para ameaças de conflito.
Outra medida bem comum em tempos de crise foi anunciada nesta semana: a Comissão Europeia orientou os governos dos países-membros do bloco a garantir que os cidadãos se preparem para crises futuras, a exemplo de conflitos armados, pandemias, ciberataques, incêndios florestais e acidentes industriais.
Para isso, a UE planeja fazer com que todos os Estados-membros desenvolvam kits de sobrevivência de 72 horas para os cidadãos. A população dos países do bloco totaliza pouco mais de 448 milhões de pessoas.
Para Hadja Lahbib, comissária de Preparação e Gestão de Crises da Comissão, o desenvolvimento de kits de sobrevivência se justifica pelo fato de que “as ameaças que a Europa enfrenta hoje são mais complexas do que nunca — e todas estão interligadas”.
Como funciona
A Comissão Europeia buscou não ser alarmista na divulgação da medida, mas não deixou de chamar a atenção para o fato de que a Europa caminha rumo a um cenário no qual precisará lidar praticamente sozinha com sua segurança. Essa percepção ganhou força com a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de reduzir o apoio militar aos europeus.
Segundo a UE, o kit deve servir para que a população possa armazenar alimentos, água, lanternas, documentos de identificação, medicamentos e rádios de ondas curtas por até três dias, diante de uma situação de crise.
Para orientar a população europeia, as autoridades desenvolveram uma espécie de guia sobre a montagem do kit. Entre os itens estão alimentos não perecíveis, seis garrafas de água potável por pessoa, lanternas e pilhas, kit de primeiros socorros completo e rádio analógico com pilha.
“É preciso saber como agir – como reagir – se faltar energia, se houver um terremoto, se houver uma grande inundação ou se houver qualquer tipo de ameaça. Como você se protege? De quais recursos você precisa? Como você mesmo assume a responsabilidade?”, questionou Roxana Minzatu, vice-presidente da UE para Pessoas, Habilidades e Preparação.
“Trata-se de sairmos de uma mentalidade reativa e responsiva em relação a riscos e perigos potenciais e entrarmos em uma abordagem, em uma mentalidade, que se refere à previsão, à antecipação de riscos e à prevenção.”
A proposta do bloco não é exatamente uma novidade. No ano passado, por exemplo, a Suécia propôs uma atualização de seus conselhos de emergência civil, visando a “refletir melhor a realidade da política de segurança atual”. Na prática, o governo sueco criou diretrizes a respeito do que a população deve fazer em caso de um ataque nuclear, por exemplo.
Essa iniciativa também sinaliza para um problema que o bloco deverá enfrentar: a diferença de capacidades entre seus países-membros para lidar com as atualizações necessárias em termos de segurança.
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