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Por que a Alemanha hesitou em enviar tanques à Ucrânia

Veículo de combate alemão é tido como o melhor do mundo em sua categoria e pode ver decisivo no campo de batalha, impulsionando o avanço das tropas ucranianas na recuperação de território ocupado pelos russos

Soldados ucranianos em um blindado em Donetsk. Foto: Anatolii Stepanov / AFP
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Após semanas de hesitação, o governo da Alemanha cedeu à pressão crescente de aliados e também de parte da população ao anunciar oficialmente nesta quarta-feira (25/01) o fornecimento à Ucrânia de 14 tanques de guerra do tipo Leopard 2A6, fabricados no país e disponíveis no arsenal da Bundeswehr (Forças Armadas alemãs). Berlim também permitirá que outros países possuidores desses blindados enviem o equipamento a Kiev.

Com os tanques de combate alemães, considerados os melhores do mundo em sua categoria, a Ucrânia espera aumentar a eficácia de sua defesa contra as tropas invasoras da Rússia, além de furar os bloqueios russos no leste do país, especialmente no corredor do Donbass, e assim reconquistar territórios ocupados por Moscou em 11 meses de conflito.

Num possível sinal do fim de um imbróglio que durou semanas, Berlim já havia encorajado nesta terça-feira seus aliados a começar treinamentos com tropas ucranianas para usar os blindados.

A decisão desencadeou anúncios de outros países sobre o envio de tanques. Segundo o jornal americano The New York Times, os Estados Unidos deverão enviar entre 30 e 50 tanques de combate Abrams à Ucrânia, revertendo uma decisão anterior.

Pressão internacional sobre a Alemanha

Numa mudança de postura, diversos países ocidentais prometeram enviar mais ajuda militar e equipamento pesado ao país nas últimas semanas.

A relutância em fornecer armas pesadas à Ucrânia se deve a temores de envolvimento na guerra ou de provocar a Rússia, que é uma potência nuclear.

O pioneiro da virada foi o Reino Unido, primeiro país a enviar armas letais à Ucrânia. O governo britânico se tornou na última semana o primeiro a anunciar que fornecerá tanques de combate de fabricação ocidental a Kiev – os blindados Challenger 2 –, além de novos sistemas de artilharia.

Segundo o semanário Der Spiegel, a França vê o papel da Alemanha como crucial para acelerar de forma decisiva a ajuda ocidental para a Ucrânia. Já os países bálticos (Estônia, Lituânia e Letônia) se enxergam como os maiores porta-vozes da Ucrânia na Europa. Por não possuírem blindados próprios, pressionam pelo envio de equipamentos ocidentais à Ucrânia. Para o ministro do Exterior da Estônia, Urmas Reinsalu, “tanques e outros armamentos pesados alterariam significativamente o cenário no campo de batalha”.

A Ucrânia e diversos de seus aliados – com destaque para a Polônia – vinham pedindo a liberação do fornecimento dos tanques Leopard por Berlim, ou que o próprio governo do chanceler federal Olaf Scholz decidisse mandar os tanques para o front. Na semana passada, porém, uma reunião de 54 países do Grupo de Contato para a Ucrânia na base militar americana de Ramstein não trouxe uma decisão sobre o fornecimento dos tanques Leopard 2.

O entrave para outros países se deve às leis de exportação vigentes na Alemanha vinculam países que tenham equipamento militar fabricado no país a uma autorização de uso desses armamentos, como é o caso dos blindados Leopard 2. Vários países ocidentais veem na Alemanha a responsabilidade de liderança na Europa – e defendem a ideia de uma coligação internacional de fornecedores dos Leopard 2.

A própria Ucrânia, no entanto, precisaria de 80 a 90 blindados para lançar uma contraofensiva em bloco contra as tropas russas, segundo o Conselho Europeu de Relações Internacionais. O mesmo órgão diz que 13 países europeus possuem, juntos, 2 mil tanques Leopard em diferentes versões.

Dinamarca, Letônia, Estônia e Polônia já vinham manifestando o desejo de enviar os tanques a Kiev há várias semanas. O governo em Varsóvia, por exemplo, chegou a afirmar que não esperaria autorização de Berlim, e oficializou um pedido junto ao governo alemão nesta semana para enviar 14 tanques do modelo Leopard 2A4 para a Ucrânia, colocando ainda mais pressão sobre Berlim.

Por que houve tanta hesitação da Alemanha?

Fornecer armas para zonas de guerra ainda é um tema sensível para a Alemanha, que defende o princípio de não exportar equipamento bélico para áreas de conflito.

O chanceler federal Olaf Scholz também vinha destacando três princípios orientadores de seu governo para justificar a postura hesitante: primeiro, a Ucrânia precisa receber o máximo de apoio possível; segundo, é preciso impedir um conflito direto entre a aliança militar Otan e a Rússia; e, terceiro, uma ação unilateral de qualquer país aliado da Ucrânia deve ser evitada.

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