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Por idolatria aos EUA, Kosovo aceita migrantes expulsos por Trump
Os kosovares gostam de se descrever como o povo mais pró-americano do mundo, e bandeiras dos EUA estão por toda parte na capital, Pristina
O Kosovo, um dos países mais pobres da Europa, começou a receber cidadãos expulsos dos Estados Unidos. A iniciativa é uma forma de Pristina demonstrar seu reconhecimento a Washington por ter apoiado essa antiga província sérvia durante seu processo de independência, em 2008.
Os primeiros cidadãos expulsos dos Estados Unidos chegaram ao Kosovo, anunciou o primeiro-ministro Albin Kurti. O país enfrenta dificuldades internas e com seu tradicional aliado americano. Em uma longa entrevista a um canal local na noite da quinta-feira 11, o premiê disse que o Kosovo aceita “aqueles que os Estados Unidos não querem em seu território”.
Durante a conversa, ele ainda afirmou que, “se não me engano, um ou dois deles já estão aqui”. O chefe do governo não deu detalhes sobre a data de chegada, a nacionalidade ou o local onde se encontram essas pessoas.
A chegada dos migrantes faz parte de um acordo assinado pelo governo kosovar em junho passado, no qual aceitou, a pedido americano, receber temporariamente até 50 pessoas expulsas dos Estados Unidos por ano, a fim de facilitar seu retorno ao país de origem.
O Kosovo, país entre os mais pobres da Europa e independente desde 2008, espera com esse acordo demonstrar sua gratidão aos Estados Unidos por seu apoio e cooperação. Trata-se de uma forma de mostrar a “reconhecimento eterno” do país aos Estados Unidos, que sempre defenderam a independência dessa ex-província sérvia, explicou o governo na adoção do acordo.
Desde então, Kurti, que venceu as eleições legislativas em fevereiro, fracassou na formação de um governo e foi obrigado a aceitar novas eleições. A votação está prevista para 28 de dezembro.
A situação e a política de Kurti em relação à minoria sérvia lhe renderam críticas duras dos próprios americanos, que o acusaram há alguns dias de “comprometer a estabilidade” do país ao impedir que um partido político sérvio participasse das eleições de dezembro. Um tom que contrasta com anos de apoio de Washington.
O povo “mais pró-americano do mundo”
Os kosovares gostam de se descrever como o povo mais pró-americano do mundo, e as bandeiras americanas estão por toda parte na capital, Pristina. Uma das maiores avenidas da cidade homenageia o ex-presidente George W. Bush. Bill Clinton também tem uma avenida com seu nome e uma estátua. A popularidade dos Estados Unidos se soma a uma influência econômica e política considerável.
Mas antes do compromisso com Washington em junho, o Kosovo também havia ratificado um acordo de 200 milhões de euros com Copenhague para acolher prisioneiros estrangeiros condenados na Dinamarca, que poderão cumprir pena em uma prisão kosovar.
Os Bálcãs são cada vez mais considerados pelos países ocidentais como destino para o envio de pessoas cuja solicitação de asilo foi rejeitada e que enfrentam a obrigação de deixar o território. A Albânia já abriga centros de retorno para migrantes vindos da Itália que, no entanto, receberam apenas algumas dezenas de pessoas: várias decisões de tribunais italianos questionaram a legalidade dessas detenções.
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