Um viajante intrépido teria dificuldade hoje para atravessar o continente africano em seu ponto mais largo, do Mar Vermelho até perto do Atlântico, sem passar por um país que não esteja dilacerado por uma guerra civil ou a se recuperar de uma, que não tenha sofrido um golpe militar desde 2021 ou não seja um Estado falido ocupado por uma mistura tóxica de políticos gananciosos, milícias e mercenários russos. A rota claramente desaconselhável do viajante o levaria da região norte de Tigray, na Etiópia, em guerra até o ano passado, depois pelo Sudão, onde uma luta interna pelo poder em um regime repressivo se transformou em violência geral, e à República Centro-Africana, hoje vista por muitos analistas como o melhor exemplo no continente do pior que pode acontecer a um país.
Depois disso vem uma escolha difícil. Uma rota ao norte poderia passar pelo Chade, governado por um soldado de 39 anos que tomou o poder em 2021, quando seu pai foi morto em batalha após três décadas no comando, e o Mali, atormentado por várias insurgências, extremistas islâmicos e mais mercenários russos contratados pelo segundo governante militar a assumir o poder nos últimos anos. Outro roteiro poderia passar por Camarões, abalado por uma longa guerra civil, e Burkina Fasso, que sofreu dois golpes militares apenas em 2022.
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