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Políticas de Bolsonaro resultam na pior crise do cinema brasileiro

Jornal francês Le Monde destaca corte de orçamento no setor e nomeações ideológicas na Ancine, que se encontra paralisada

Políticas de Bolsonaro resultam na pior crise do cinema brasileiro
Políticas de Bolsonaro resultam na pior crise do cinema brasileiro
Presidente Jair Bolsonaro. Foto: EVARISTO SA / AFP
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O jornal Le Monde que chegou às bancas neste domingo (23) traz uma matéria sobre a política cultural do presidente Jair Bolsonaro “que mergulhou o setor na crise”. Para o diário francês, uma das principais vítimas das decisões do governo brasileiro é o cinema.

“Cortes importantes no cinema brasileiro”, é a manchete da matéria assinada pelo correspondente do Le Monde em São Paulo, Bruno Meyerfeld. Segundo ele, o cinema brasileiro vive hoje um “vertiginoso paradoxo”.

Citando como exemplo “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, a “Vida Invisível de Eurídice Gusmão”, de Karim Aïnouz, e “Democracia em Vertigem”, de Petra Costa, Le Monde publica que apesar do sucesso mundial dessas produções, o setor vive “uma de suas piores crises de sua história, ligada à ascensão ao poder do presidente de extrema direita Jair Bolsonaro”.

O jornal destaca que a Ancine (Agência Nacional do Cinema) é um dos principais alvos do governo e Bolsonaro já evocou diversas vezes seu desejo de acabar com a instituição. Enquanto esse objetivo não é colocado em prática, o orçamento do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), que permite o financiamento de filmes no Brasil, sofreu um corte de 43% em 2020. “Um desastre para um setor que emprega 300 mil pessoas e injeta na economia R$ 25 bilhões por ano, mas cuja dependência à ajuda do Estado é muito forte”, publica a matéria.

Ancine está paralisada

O resultado, segundo Le Monde, é que a Ancine está paralisada atualmente, com mais de quatro mil projetos de filmes e séries, à espera de um financiamento. O texto afirma que os cortes no setor não são realizados apenas por uma questão de economia para o governo, mas também porque o governo tem interesse apenas em incentivar projetos alinhados com a filosofia e o pensamento de Bolsonaro.

Desta forma, a Ancine foi quase completamente remanejada, destaca a matéria. Entre os indicados para a direção da agência está Edilásio Barra, pastor evangélico, cuja principal missão é “pressionar a instituição”.

O diário destaca que a principal insatisfação de Bolsonaro é com as produções que abordem a temática LGBTQI+, que o presidente classifica de “filmes pornográficos”. Não é à toa que projetos de séries e longas que tratem sobre gays, lésbicas e transexuais foram proibidos na Ancine.

Le Monde também lembra outros episódios que marcaram o setor da cultura do Brasil em 2019, como a retirada dos cartazes de filmes brasileiros que eram expostos na Ancine e a demissão do secretário Roberto Alvim após a gravação de um polêmico vídeo em que parafraseia um discurso do nazista Joseph Goebbels.

O correspondente do diário no Brasil entrevistou cineastas, como Karim Aïnouz e Marcela Borela, que expressam preocupação com a censura do governo brasileiro ao cinema. Mas, para o crítico Pedro Butcher, o pior ainda está por vir. Segundo ele, “os verdadeiros efeitos serão sentidos daqui a três ou quatro anos”. Consequências que, para o jornal, “prometem ser brutais”.

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