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Polícia do Irã anuncia oposição ‘com todas as forças’ aos manifestantes
Apesar dos apelos de muitos líderes internacionais, incluindo o secretário-geral da ONU, por moderação, as autoridades de Teerã expressam intransigência com os manifestantes


O comando da polícia iraniana advertiu nesta quarta-feira (28) que suas unidades vão se opor “com todas as forças” aos manifestantes que protestam há vários dias pela morte de uma jovem, Mahsa Amini, que havia sido detida em Teerã pela polícia da moral.
Pela 12ª noite consecutiva, os iranianos protestaram na terça-feira contra a morte da jovem de 22 anos, detida em Teerã por supostamente violar o rígido código de vestimenta – que inclui cobrir o cabelo em público – imposto pela República Islâmica às mulheres em público.
Erfan Salih Mortezaee, primo da jovem que foi entrevistado pela AFP, disse que ela morreu depois de ser atingida por um “golpe violento na cabeça” por parte da polícia no dia de sua detenção. As autoridades iranianas negam qualquer envolvimento na morte de Mahsa Amini.
A oposição iraniana afirmou que os protestos – que já deixaram dezenas de mortos foram retomados na terça-feira à noite em várias cidades. Os ativistas, no entanto, afirmam que as dificuldades na conexão com a internet dificultam a divulgação das imagens.
Apesar dos apelos de muitos líderes internacionais, incluindo o secretário-geral da ONU, por moderação, as autoridades de Teerã expressam intransigência com os manifestantes, que chamam de “agitadores” e que “atentam contra a segurança e os bens públicos”.
“Inimigos do Irã”
“Hoje, os inimigos da República Islâmica do Irã e alguns agitadores procuram perturbar a ordem e a segurança da nação utilizando qualquer pretexto”, afirmou o comando da polícia em um comunicado.
“Os policiais vão se opor com todas as suas forças às conspirações dos contrarrevolucionários e aos elementos hostis. E atuarão com firmeza contra os que perturbam a ordem pública e a segurança em todo o país”, acrescenta a nota, citada pela agência de notícias Fars.
O comunicado foi divulgado poucas horas depois do apelo do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, para que o Irã demonstre “contenção máxima” diante dos protestos.
“O secretário-geral pede que a polícia se abstenha de usar força desproporcional ou desnecessária e pede a todos que exerçam a contenção máxima para evitar a escalada”, afirmou o porta-voz de Guterres, Stéphane Dujarric, em comunicado.
“Estamos cada vez mais preocupados pelas informações que registram um número crescente de mortes, incluindo de mulheres e crianças, relacionadas com os protestos”, acrescentou.
Guterres também pediu uma “investigação urgente, imparcial e eficaz” da morte de Mahsa Amini.
Os protestos começaram após a morte, em 16 de setembro em um hospital, de Mahsa Amini. Várias manifestações de solidariedade foram organizadas em diversas cidades, de Nova York a Istambul.
Um vídeo exibido pelo canal de oposição Manoto mostra uma mulher sem o véu protestando em Teerã.
Imagens da Iran International TV, com sede em Londres, mostram mulheres protestando na província do Curdistão, região natal da jovem falecida, e um homem queimando uma imagem do líder supremo Ali Khamenei em Chiraz (sul).
Conforme o balanço divulgado na terça-feira pela agência Fars, quase 60 pessoas morreram desde o início das manifestações.
A polícia anunciou a morte de 10 agentes, mas não explicou se eles estão entre as 60 vítimas fatais do balanço oficial.
A ONG Iran Human Rights (IHR), com sede em Oslo, informou na segunda-feira que “pelo menos 76 pessoas morrera, incluindo seis mulheres e quatro crianças”. A organização afirma que obteve “vídeos e certidões de óbito que confirmam os tiros com munição letal contra os manifestantes”.
1.200 detidos
As autoridades também anunciaram a detenção de mais de 1.200 manifestantes desde 16 de setembro. ONGs denunciam a prisão de ativistas, advogados e jornalistas.
De acordo com a agência de notícias iraniana Tasnim, Faeze Hashemi, filha do ex-presidente iraniano Akbar Hashemi Rafsanjani (1989-1997), foi detida em Teerã por “estimular os agitadores a protestar”.
Nos últimos dias, o presidente iraniano Ebrahim Raisi pediu às forças de segurança que atuem com “firmeza contra os que atentam contra a segurança do país e do povo”. O ministro da Justiça, Gholamhossein Mohseni Ejei, descartou qualquer tipo de “clemência” contra os instigadores dos “distúrbios”.
Para limitar os protestos, as autoridades bloquearam o acesso ao Instagram e Whatsapp no país, que também enfrenta problemas na conexão com a internet.
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