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Peru: Famílias recebem restos mortais de vítimas de massacre em universidade após 31 anos

Justiça condenou Alberto Fujimori a 25 anos de prisão em 2009 como coautor de homicídio qualificado, tortura e desaparecimento forçado

Raida Conor, mãe de Amaro Condor, um dos estudantes assassinados em universidade 31 anos atrás. Cris Bouroncle/AFP
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Pilar Fierro encerrou um capítulo muito difícil de sua vida ao receber do Ministério Público peruano uma pequena urna de madeira com os restos mortais de sua filha Dora, uma estudante universitária sequestrada e assassinada há 31 anos em uma operação militar em Lima.

“Agora posso descansar por ter encontrado os ossos da minha filha”, declarou à AFP, sem conter as lágrimas, a mãe abnegada de 72 anos, cuja filha Dora Oyague foi uma das 10 vítimas do massacre na Universidade La Cantuta, um caso emblemático caso pelo qual o ex-presidente Alberto Fujimori foi condenado.

O MP entregou na sexta-feira 1 aos parentes os restos mortais de cinco estudantes, depois de comprovar suas identidades com testes de DNA, uma tarefa complexa que demorou três décadas.

“Eles nos entregaram alguns pedaços do cóccix e do fêmur que conseguiram uma identificação positiva de DNA”, disse Carolina Oyague, irmã de Dora.

Os restos mortais estavam em pequenas urnas de madeira que foram veladas na igreja de La Recoleta, da congregação francesa do Sagrado Coração, onde o arcebispo de Lima, Carlos Castillo, celebrou uma missa em sua memória.

O enterro está programado para este sábado. Duas vítimas serão sepultadas em Lima e três em suas províncias de origem. Entre os restos mortais identificados está Armando Amaro Cóndor, cuja mãe Raida Cóndor foi uma das faces da longa luta por justiça das famílias.

“Não há corpo inteiro, apenas alguns pedaços do corpo dele (um cotovelo). Sempre vou chorar pelo meu filho”, disse Cóndor.

Os promotores e legistas devem retomar a busca e identificação dos restos mortais dos outros cinco estudantes universitários assassinados no caso La Cantuta, em uma área já delimitada.

Fujimori e La Cantuta

Em 18 de julho de 1992, militares da unidade “Colina” invadiram durante a noite a Universidade Nacional Enrique Guzmán y Valle, localizada em La Cantuta, 30 km ao leste de Lima, onde prenderam nove estudantes e um professor, acusados de integrar o grupo armado  Sendero Luminoso.

Os 10 detidos de La Cantuta foram torturados, assassinados e tiveram os corpos queimados com querosene, segundo o julgamento do esquadrão militar de operações especiais.

Em 1993, os promotores encontraram os primeiros restos humanos numa vala comum. E em agosto de 2022 foi encontrado o osso do cotovelo de Armando Amaro Cóndor, que tinha 25 anos no momento do massacre.

O Chile extraditou em 2007 o ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000) por acusações relativas aos massacres de La Cantuta e de Barrios Altos, considerados os crimes mais graves contra os direitos humanos cometidos no Peru durante as duas décadas de conflito interno (1980-2000).

A justiça peruana condenou Fujimori a 25 anos de prisão em 2009 como coautor de homicídio qualificado, tortura e desaparecimento forçado de pessoas, nos dois casos. O tribunal determinou ainda que nenhuma das 10 vítimas de La Cantuta integrava grupos terroristas.

A Corte Interamericana de Direitos Humanos determinou em 2006 a responsabilidade do Estado peruano no caso de La Cantuta por violação dos direitos do professor e dos nove estudantes.

“Agora haverá mais tranquilidade. Enterrá-los encerra um luto tão longo e, de alguma forma, nós estivemos com eles nesta busca”, declarou à AFP a ex-ministra da Cultura Gisela Ortiz, que perdeu o irmão Luis Enrique Ortiz, que tinha 22 anos, na operação repressiva.

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