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Pedro Castillo toma posse como novo presidente do Peru

Professor, sindicalista e de esquerda, Castillo deve enviar projeto de reforma da Constituição ao Congresso

Pedro Castillo, o novo presidente do Peru. Foto: Karel Navarro/Peruvian Presidency/AFP
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O professor rural de esquerda Pedro Castillo assumiu nesta quarta-feira 28 a Presidência do Peru, com a missão de enfrentar a pandemia, reativar a economia e acabar com as convulsões políticas que marcaram o último mandato.

 

“Juro por Deus, pela minha família, pelos camponeses, pelos povos indígenas, pelos pescadores, profissionais, crianças, adolescentes, que ocuparei o cargo de Presidente da República no período de 2021-2026. Juro pelos povos do Peru, por um país sem corrupção e por uma nova Constituição”, declarou Castillo.

Imediatamente, a chefe do Congresso, a opositora María del Carmen Alva, colocou sobre ele a faixa presidencial bicolor.

Vestido com um terno andino preto bordado e seu clássico chapéu Cajamarca branco de cano alto, Castillo caminhou de mãos dadas com sua esposa, Lilia Paredes, até o Parlamento desde o Palácio Torre Tagle, sede da chancelaria, a quatro quadras de distância.

“É a primeira vez que este país vai ser governado por um camponês”, sublinhou em seu primeiro discurso perante as autoridades e dignitários estrangeiros presentes na cerimônia, que começou pouco antes do meio-dia.

“Durante a campanha eleitoral foi dito que vamos desapropriar. É totalmente falso. Queremos que a economia tenha ordem”, acrescentou, embora tenha afirmado que busca um “novo pacto com investidores privados”.

Três dias de cerimônias estão programados para a posse do novo presidente, que receberá a faixa bicolor no dia em que o Peru comemora o bicentenário da independência.

Pouco antes de Castillo chegar à sede do Congresso, chegou o presidente cessante, Francisco Sagasti, que assumiu o cargo em novembro em meio a uma crise política que levou o Peru a ter três governantes em cinco dias.

Muitas ruas do centro de Lima foram cercadas pela polícia, que mobilizou 10 mil agentes em toda a capital, enquanto dezenas de apoiadores de Castillo expressaram seu apoio em torno do Congresso.

Pedro Castillo, presidente eleito do Peru. Foto: Gian Masko/AFP

Entre esperança e temores

Castillo assumiu em meio às esperanças de milhares de compatriotas, mas também temores do setor privado e de boa parte dos peruanos que temem uma virada acentuada para o socialismo após três décadas de políticas liberais.

“Castillo tem que dar sinais da gestão da economia” e esclarecer “com quem vai selar alianças para [formar] o gabinete e o Parlamento”, comentou à AFP a cientista política Jessica Smith.

Há semanas Castillo tem procurado dissipar os temores, descartando a cópia de “modelos” estrangeiros e negando que ser “chavista”. Seu principal assessor econômico, Pedro Francke, disse à AFP que o programa “nada tem a ver com a proposta da Venezuela”.

No entanto, “o governo bolivariano da Venezuela foi formalmente convidado para a posse do presidente Castillo”, disse à AFP uma fonte do Peru Livre, o novo partido governante que se define como marxista-leninista.

Isso indica uma mudança em sua política externa, já que o Peru reconheceu em 2019 o opositor Juan Guaidó como legítimo governante venezuelano, como 60 outros países.

Castillo recebeu na segunda-feira um telefonema do chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, que, além de parabenizá-lo, disse que Washington espera dele “um papel construtivo” em relação à Venezuela, Cuba e Nicarágua.

A posse foi assistida pelo rei da Espanha, Felipe VI, cinco presidentes (Argentina, Bolívia, Colômbia, Chile e Equador) e dois vice-presidentes (Brasil e Uruguai), bem como um enviado do presidente americano Joe Biden, o secretário de Educação Miguel Cardona.

“Desejamos muita sorte ao presidente Castillo, porque se o Peru for bem, todos nós estaremos bem”, disse o presidente chileno, Sebastián Piñera, depois de se reunir com ele antes do juramento.

Pedro Castillo e Keiko Fujimori se confrontaram em 2º turno da eleição peruana. Foto: Sebastian Castaneda/Pool/AFP

Designações pendentes

Castillo foi proclamado presidente eleito há oito dias pelo júri eleitoral, que levou um mês e meio para analisar as contestações e recursos antes de declará-lo o vencedor da votação de 6 de junho contra a candidata de direita Keiko Fujimori.

O novo presidente, de 51 anos, que costuma usar o chapéu branco típico dos camponeses de sua terra natal, Cajamarca (norte), é católico e contrário ao aborto e às uniões entre pessoas do mesmo sexo.

Castillo é “o primeiro presidente pobre do Peru”, disse o analista Hugo Otero à AFP, destacando que seu maior desafio será “não decepcionar as pessoas que precisam de respostas rápidas” diante da crise econômica e da pandemia.

Ele deve anunciar os nomes de seu chefe de gabinete e ministros-chave a qualquer momento.

O novo presidente viajará para a cidade andina de Ayacucho na quinta-feira para uma inauguração simbólica no Pampa de la Quinua, cenário da Batalha de Ayacucho em 9 de dezembro de 1824, que selou a independência do Peru e do resto da América espanhola. Na sexta-feira 30, ele comandará um Desfile Militar em Lima.

Reforma da Constituição vai ao Congresso

Castillo, anunciou que vai enviar ao Congresso um projeto para reformar a Constituição promulgada em 1993 pelo então presidente Alberto Fujimori.

Após afirmar que o Peru pode estar “condenado a continuar prisioneiro desta Constituição”, Castillo declarou: “anuncio que apresentaremos ao Congresso um projeto de lei para reformá-la que, após ser debatido pelo Parlamento, esperamos que seja aprovado e depois submetido a um referendo popular”.

A proposta de campanha de Castillo de mudar a Constituição atual, que privilegia o liberalismo econômico, foi rejeitada por Keiko Fujimori, filha do ex-presidente, e por outros adversários políticos.

“Insistiremos nesta proposta, mas dentro do marco legal que a Constituição proporciona. Teremos que conciliar posições com o Congresso”, afirmou o novo presidente, cujo partido Peru Livre tem apenas 37 das 130 cadeiras no Parlamento.

Castillo anunciou também que não vai governar o país no Palácio de Pizarro – a casa do governo – porque planeja transformá-lo em um museu.

“Não governarei na Casa de Pizarro, porque acredito que temos que romper com os símbolos coloniais. Cederemos este Palácio ao novo ministério das Culturas para que seja usado como um museu que mostre a nossa história”, disse.

O professor rural de Cajamarca (norte) prometeu também, em seu discurso de quase uma hora às autoridades e dignatários estrangeiros, que retomará seus “trabalhos docentes de sempre” no fim de seu mandato, em 28 de julho de 2026.

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