Mundo

Parlamento da Rússia aprova uso de forças armadas no exterior, a pedido de Putin

Em coletiva de imprensa, Putin disse que acordos de cessar-fogo caíram em ‘desuso’ por ações da Ucrânia na região de Donbass

O presidente da Rússia, Vladimir Putin. Foto: Sergei Guneyev/Sputnik/AFP
Apoie Siga-nos no

O Parlamento da Rússia aprovou o pedido do presidente Vladimir Putin para usar forças militares do país no exterior. O documento foi avalizado nesta terça-feira 22, de forma unânime, pelos 153 congressistas, segundo canais estatais.

O texto diz que as tropas devem atuar “com base nos princípios e normas reconhecidos pelo direito internacional”.

A presidenta da Câmara, Valentina Matvienko, afirmou que o uso dos militares serviria para “estabelecer a paz em Donbass”, no leste da Ucrânia, onde dois territórios acabam de ser reconhecidos como independentes por Putin.

Nos últimos dias, houve escalada nos conflitos nessas duas áreas, Donetsk e Lugansk, especialmente desde 17 de fevereiro. De acordo com relatório de observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, a OSCE, entre as noites de 18 e 20 de fevereiro houve mais de 2,1 mil violações do cessar-fogo em Donetsk e 1.073 em Lugansk, registros que incluem centenas de explosões.

Nesse período, líderes dessas duas áreas orientaram uma evacuação da população para a Rússia, apontando responsabilidade do governo da Ucrânia nos bombardeios. Os dois territórios incomodam o governo da Ucrânia porque são vistos como pró-Putin e têm expressiva presença de cidadãos russos.

Na segunda, Putin determinou que o Ministério da Defesa enviasse tropas para uma operação de “paz” no local. Porém, nesta terça, o vice-ministro das Relações Exteriores, Andréi Rudenko, declarou que a Rússia ainda não tem planos para despachar os militares imediatamente.

“Se houver uma ameaça, vamos prestar assistência conforme os acordos ratificados”, disse Rudenko.

Ao declarar a independência de Donetsk e Lugansk, Putin também firmou acordos de solidariedade e de cooperação com essas duas repúblicas. Porém, o reconhecimento da Rússia sobre os territórios é visto por países do Ocidente como um desrespeito à soberania da Ucrânia.

O presidente russo, no entanto, argumenta que ele mesmo levou oito anos para reconhecer os territórios como repúblicas, ainda que as lideranças das duas áreas tenham feito solicitações desde 2014, quando proclamaram a independência após intensos conflitos na Ucrânia em 2013.

Putin classifica os conflitos de 2013 e 2014 na Ucrânia como um processo de golpe de Estado para derrubar o então presidente Viktor Yanukovich para substituí-lo por um chefe de Estado contrário à Rússia, que colaborasse com a Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Otan, bloco de 30 países liderado pelos Estados Unidos.

Hoje, o governo ucraniano é chefiado por Volodimir Zelensky, franco opositor a Moscou.

Em coletiva de imprensa nesta terça, Putin voltou a acusar a Ucrânia de descumprir tratados de cessar-fogo na região de Donbass, onde Donetsk e Lugansk estão localizadas. O chefe do Kremlin cita os acordos de Minsk, firmados em 2015 para estabilizar o conflito e que teriam sido ignorados pelo governo ucraniano ao seguir com ofensivas militares à região.

O presidente da Rússia disse que esses documentos de Minsk haviam representado um avanço, porque até os líderes de Donetsk e Lugansk, que não queriam participar do acordo, aceitaram assinar os compromissos.

No entanto, a própria Ucrânia teria agido com desobediência às negociações.

“As autoridades de Kiev basicamente bloquearam esses acordos. E os acordos de Minsk caíram em desuso, inclusive antes do reconhecimento da independência dessas repúblicas”, argumentou Putin aos jornalistas.

O mandatário demanda o atendimento de propostas apresentadas pelo Kremlin em dezembro, que dizem respeito ao aumento da presença da Otan na região. O bloco tenta oficializar a adesão da Ucrânia e se instalar no país, que faz fronteira com a Rússia.

Os três compromissos principais solicitados por Putin são: a não expansão militar da Otan, a não instalação da estrutura militar nas fronteiras da Rússia e o regresso do bloco ao status em que se encontrava em 1997.

Segundo Putin, a Otan também desrespeita o compromisso que teria feito sobre não se expandir ao leste europeu. Em 19 de fevereiro, a revista alemã Der Spiegel publicou que arquivos de 1991 confirmariam a versão da Rússia sobre as promessas da Otan naquela década.

A Ucrânia, por sua vez, protesta sobre uma possível invasão militar da Rússia e clama por um calendário para a adesão à Otan. Já os Estados Unidos e a União Europeia anunciaram sanções econômicas aos dois territórios reconhecidos como independentes pela Rússia.

A China também se manifestou sobre o tema, mas com moderação, diante de comparações de comentaristas ocidentais sobre suposta semelhança com a situação de Taiwan, onde a questão do separatismo também é presente e problemática para Pequim.

Editorial da estatal chinesa Global Times publicado nesta terça diz que “todas as partes devem dar à Rússia e à Ucrânia algum espaço para resolver o problema”. Em telefonema ao secretário de Estado americano, Antony Blinken, o diplomata chinês Wang Yi disse que “as preocupações legítimas de segurança de qualquer país devem ser respeitadas”.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo